A postura dos síndicos atuais e a observação dos problemas decorrentes disso à luz da filosofia sistêmica imobiliária
Os condomínios, nada mais são do que pequenas amostragens da nossa sociedade atual e suas mazelas. Nesse contexto vemos crescer comportamentos de síndicos que se equiparam aos dos atuais gestores públicos, que são os políticos brasileiros de um modo geral. Assim como o nosso povo já não liga para quem está furtando e se apropriando no âmbito público, e com isso o jargão popular: “ele rouba mais faz”; virou verdade absoluta, paralelamente a isso, vemos nos condomínios, os síndicos se apoderando de quantias, e da mesma forma que o povo já não se importa com os políticos que roubam, os síndicos passaram a ser escolhidos pela ordem do jargão: “deixa ele, rouba pouco ou rouba menos”. A verdade é só uma, estamos numa desordem absoluta de valores, hierarquia, desequilíbrio entre o dar e receber, e acometidos por uma preguiça avassaladora de fazer o certo, componentes estes, que já corroeram a ética, os bons costumes e a o equilíbrio dentro de uma comunidade. A maior prova disso, é o número cada vez menor de pessoas que se dispõem a ir uma reunião de condomínio para exercerem seus direitos, e isso é tão gritante, que muitas vezes nem se tem quórum para convocação com vistas a destituição de um síndico que esteja se apoderado de dinheiro da massa condominial. Da mesma sociedade que se omite na votação de um político e sequer vigia suas contas, faz parte o condômino que também se omite e não quer ir á assembleia para destituir o síndico que furta. A sociedade e os condomínios pecam juntos por omissão, e este cenário parece crítico, e contra ele é necessário e de forma emergencial, serem retomados princípios basilares de comportamento sistêmico, que são o pertencimento, hierarquia e equilíbrio entre o dar e receber. Precisamos saber que quem chegou antes no empreendimento, ou seja, seus empreendedores conhecem sem sombra de dúvida, a história do empreendimento e na sua grande maioria são eles que detém informações privilegiadas acerca de cada proprietário. Precisamos entender que todos dentro da edificação pertencem e fazem parte, e que sem equilíbrio das decisões não se vai longe na vida administrativa condominial.
Equilibrar o dar e receber na edificação não é fácil, até porque muitos colaboradores acabam se achando donos do condomínio, quando por muito tempo serviram a edificação na condição de funcionários. As relações antigas dentro de um prédio, muitas das vezes se sobrepõem a vontade da massa condominial. Síndicos profissionais que estão dentro do prédio desde a fundação dele, acabam por ter uma legitimidade no decorrer do tempo, que os tornam imutáveis na gestão, e essa mesma característica, pode também facilitar o apoderamento de quantias, já que excesso de poderes dada a quem não é dono e proprietário, em muitos casos, faz corroer valores, trazendo para dentro do edifício o abuso de confiança, mas uma vez pela omissão da massa condominial em fiscalizar o síndico como deveria. Como agir e tais circunstâncias? A visão sistêmica ensina que se cada um fizer a sua parte da melhor forma isso não acontecerá. Então qual segredo? Cada um exercer o seu devido papel e fazer o que tem que ser feito. Cada um no seu lugar adquire força capaz de mudança. A omissão de muitos, faz com que um síndico pratique abusos, seja ele orgânico ou profissional. O primeiro diagnóstico que se deve prestar atenção é: “Cada um no seu lugar o diabo não tem o que fazer.”
A apropriação de valores, somente ocorre porque ninguém fiscaliza, e deixam que terceiros exerçam atos que não seriam da competência somente de um síndico isoladamente. A assembleia é a união de todos os condôminos, cada um no seu papel, sem delegações que exorbitem ao dever de cada parte, somente cada um fazendo o que deve ser feito operacionalmente, aprovando e reprovando o que deve ser rechaçado, um condomínio consegue ir adiante. A dica de hoje é: “Síndico somente se apodera de coisas que não são vigiadas”. Assim como na seara pública você deve ser um bom e digno cidadão, exerça seu papel de condômino na esfera privada onde mora. Fiscalize e eleja um bom gestor. Isso tanto no âmbito privado como no público, e após fiscalizem.
Quem se omite paga mais caro!
Gracília Portela
Presidente da Academia Brasileira de Filosofia Sistêmica e presidente
da comissão de justiça filosófico sistêmica da OAB/Meier Rio de Janeiro;
Diretora da EDC – Escola do desenvolvimento do Coletivo/RJ