A violência condominial aumenta as judicializações que não se prestam ao que devem

Estamos assistindo de forma assustadora, a crescente violência nos prédios residenciais e comerciais na atualidade, e muitas das vezes a impossibilidade judicial de solução acerca de tais atitudes. Na realidade a violência condominial crescente, é fruto do desacerto emocional que a sociedade está vivenciando, e quem supor que as leis serão a única forma de dirimir tais conflitos talvez esteja muito equivocado.
Cada vez mais vemos que as mazelas sociais têm implicações morais graves, mas também são resultantes de disfunções emocionais que somente poderão ser solucionadas de forma multidisciplinar, onde a advocacia necessariamente precisará de outras ciências para dar soluções adequadas. A sociedade está vendo que o mundo mudou, as pessoas mudaram, os perfis psicológicos idem, e continuamos achando que só a Justiça pode resolver! Será que as alternativas de mediação com outros meios humanizados não pode ser a solução? Porque se tem tanta retração a criações alternativas dentro do seio condominial?
As comissões Sistêmicas de soluções de conflitos a serem criadas dentro dos prédios é uma forma barata, célere e efetiva para se chegar a uma solução. Talvez por ser barata, não seja de interesse daqueles que querem cobrar pela judicialização. Eu sou advogada, mas tenho caminhado cada vez mais para o caminho do meio das soluções extrajudiciais! Há várias maneiras de se criar tais comissões de soluções extrajudiciais de conflitos, mas parece que as propostas dos prestadores de serviços não se passam por minimizar os custos condominiais, e sempre sugerem as ações judiciais tão morosas, improdutivas e não efetivas.
Quem ganha com isso? O advogado? O síndico? O prédio? A resposta sempre será que ninguém ganha indo ao judiciário! Nunca se ouviu tanto a expressão “enxugar gelo” no judiciário. Como andam as causas do seu prédio? Andam rápido? Como andam as brigas entre os condôminos? Apaziguadas? As reflexões sobre tais causas são necessárias para se chegar ao real cerne do que importa dentro da edificação. Esqueceram que o prédio é um local que deveria ser bom para residir. Esqueceram que lá passamos muita parte de nossas vidas e que vale a pena brigar com vizinho.
Esquecemos que quando vamos ao judiciário parecemos pedir: “Sr. Juiz eu não sei resolver nada sozinho o senhor pode intervir?”, numa atitude infantil de quem realmente não está pronto para vida. Quem sabe a solução passe por tomar para si o que é de sua responsabilidade e deixar com o outro o que é de responsabilidade do outro? Refletir sobre nossas atitudes diariamente é o começo de uma relação condominial harmônica.
Gracília Portela é Advogada condominialista sistêmica, pós-graduada em direito tributário (CEU LAW SCHOOL) e em gestão pública sistêmica (Hellinger Schule); doutora em ciências sociais e jurídicas (UMSA); presidente da Academia Brasileira de Justiça e Filosofia Sistêmica (ABJFSis) e da comissão de justiça filosófico sistêmica (OAB/Méier). É diretora de gerenciamento de conflitos condominiais (Ghap), palestrante e coautora do livro “Pensamento Sistêmico”.