Gestão de Pessoas na Era da Tecnologia: Onde termina o clique e começa o cuidado

Estamos vivendo uma revolução silenciosa. Silenciosa porque acontece no invisível: nas nuvens, nos sistemas, nos cliques. A tecnologia tem redesenhado as relações de trabalho, trazendo eficiência, velocidade e controle. Ferramentas digitais otimizam a comunicação, automatizam tarefas, analisam dados comportamentais e até sugerem promoções com base em inteligência artificial. Mas, nesse mar de inovação, um alerta ecoa: será que estamos esquecendo que por trás da tela ainda pulsa um coração?
Gestão de pessoas sempre foi sobre gente — e a gente não cabe em planilha. O que antes era escuta, afeto e sensibilidade, agora corre o risco de virar script, chatbot e KPI emocional. E isso é perigoso. Porque enquanto o sistema roda, o colaborador adoece em silêncio. Ansiedade, exaustão, solidão digital e sensação de invisibilidade são os novos vilões do século XXI corporativo.
É aqui que entra a urgência de humanizar a tecnologia e tecnificar o cuidado. Não se trata de romantizar o passado, mas de construir um futuro equilibrado. E a atualização da NR-1 — Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho — vem justamente nos lembrar disso. Agora, os riscos psicossociais também fazem parte da gestão legal de saúde e segurança no trabalho. A norma determina que as empresas incluam fatores emocionais, organizacionais e relacionais no seu Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
Traduzindo: o sofrimento psíquico agora tem peso jurídico. Se um ambiente tóxico adoece, ele pode (e deve) ser responsabilizado. Isso obriga as lideranças a repensarem práticas, criarem canais de escuta, desenvolverem ações preventivas e promoverem ambientes psicologicamente seguros. Treinamentos sobre empatia, rodas de conversa, políticas de apoio psicológico, flexibilidade saudável — tudo isso deixa de ser mimo e vira parte do compliance.
O gestor moderno precisa ser ponte entre o mundo digital e o humano. Um líder que entende de métricas, mas também de afeto. Que sabe usar a tecnologia para libertar tempo, e não para sufocar pessoas. Reconhece que uma equipe feliz entrega mais, cria mais, colabora mais — porque se sente vista, ouvida e respeitada. Em meio a tantas telas, o olho no olho ainda é insubstituível.
Em meio a tantos cliques, o cuidado ainda é o que sustenta. A tecnologia nos leva longe. Mas só a humanidade nos mantém juntos.
E no fim do dia, gestão de pessoas não é sobre pessoas… É com pessoas. Para pessoas. E por pessoas.
Christiane Romão é Psicóloga, síndica profissional, gerente condominial, MBA em gestão de pessoas, CEO do Meu síndico.vc