Revisitando o passado dos colonizadores para explicar construções novas

Já mencionei aqui, nesta coluna, o estudo da história para se chegar a entendimentos sobre o mundo imobiliário atual. Mas sempre gosto de trazer elementos novos, para que os leitores possam observar o tamanho das coincidências e, analogicamente, verem que muitas vezes temos empreendimentos imobiliários que são objeto de situações insolúveis ou que demandam observar o passado da terra onde foram construídos. No Rio de Janeiro, por exemplo, temos casos que mostram como a colonização portuguesa atingiu sobremaneira o destino de determinadas construções, assim como fatos históricos da colonização trouxeram para a cidade impactos negativos, em determinados bairros ou construções novas, oriundos de terrenos onde outrora existiam prédios históricos, marcados por violências de guerra e outros atos do gênero. Já vimos, por aqui, as tragédias com chuvas que acometem cidades como Petrópolis, Teresópolis; ou bairros como: São Cristóvão, Tijuca e Jardim Botânico. E, nesta mesma observação, chegamos a conclusão que todos os referidos bairros foram locais de casas imperiais onde colonizadores portugueses devastaram, de certa forma, através de atos violentos, as cidades-sede. Os movimentos de guerras, dominação de terras, invasões, bem como explorações de povos originários são, sem dúvida alguma, uma usurpação praticada pelos portugueses no afã de tomar e consolidar poder. Mas tudo isso acaba, no decorrer dos tempos, trazendo uma espécie de carga para os atos posteriores que vemos hoje. Exemplo, em construções novas que surgem nestes locais. Assim como time de futebol ser fadado à segunda divisão, por causa da não honradez dos donos do terreno onde foi erigido o estádio do referido time. Os imóveis, assim como nós, possuem um passado que se liga diretamente ao seu destino atual. O estudo do registro imobiliário de uma terra é a consolidação do fato de que ela dará frutos ou não na seara da construção civil. Assim como nossos antepassados estão diretamente ligados ao nosso DNA sutil, pela epigenética, temos na terra que descobrir o seu passado para elaborar, com mais certeza e acuidade, seu futuro, que poderá ser positivo ou negativo. Terras compradas de forma escusa, envolvendo atos de violência estão intimamente ligadas ao destino das construções novas. Ou até dos grandes infortúnios ocorridos em Estados, cidades e países. Não há hipótese de olharmos um problema condominial, de terras, de vizinhos ou quaisquer outros, sem antes olhar para o passado daquela localidade, daquele Registro Imobiliário e do que ocorreu no passado naquela terra onde será erigido o novo empreendimento. Dados concretos mostram que fatos impressionantes se repetem em determinadas regiões com influências quase avassaladoras. O Rio de Janeiro, no auge de sua violência, está intrinsecamente ligado às guerras de dominação, independência e atrocidades feitas na época do império por seus gestores imperiais! Se formos analisar as questões sistêmicas históricas que envolvem os prédios novos do Rio de Janeiro iremos saber das causas originais, dos dramas vivenciados em determinados condomínios na atualidade. Convido a todos a visitarem um pouco o passado das terras onde seus prédios foram construídos, para achar as famosas repetições de atitudes com origem em ocorrências trágicas do passado. Dica de hoje: análise a história do seu prédio. Pegue o RGI de qualquer unidade habitacional e veja o histórico da terra. Fatos no mínimo interessantes estarão ligados ao que hoje vivenciamos
Gracília Portela é Advogada condominialista sistêmica, pós-graduada em direito tributário (CEU LAW SCHOOL) e em gestão pública sistêmica (Hellinger Schule); doutora em ciências sociais e jurídicas (UMSA); presidente da Academia Brasileira de Justiça e Filosofia Sistêmica (ABJFSis) e da comissão de justiça filosófi co sistêmica (OAB/Méier). É diretora de gerenciamento de conflitos condominiais (Ghap), palestrante e coautora do livro “Pensamento Sistêmico”.