“Falar só sobre lei não é suficiente”: advogado dá dicas para sair do modo automático
Presença de um advogado nas assembleias condominiais pode gerar certo desconforto, mas ter orientação profissional é essencial à gestão
Rodrigo Vianna
Não é raro ouvir dizer que ninguém gosta de advogado. Os próprios profissionais do Direito reconhecem isso. No mundo dos condomínios, tomado por assembleias e reuniões de rotina, é especialmente difícil que o advogado seja bem-vindo — ao menos, num primeiro momento. Mas, se há um certo período entre uma assembleia e outra, não se pode dizer o mesmo das brigas de condomínio. Não por acaso, a necessidade de algum tipo de mediação parece ser um consenso entre os condôminos. Uma pena que fórmulas prontas nem sempre funcionam. Na verdade, tão trabalhoso quanto cursar uma faculdade de Direito é não se deixar levar pelos automatismos e estar aberto ao aprendizado que somente o contato “olho no olho’’ pode oferecer. Quem detalha a questão à REVISTA DOS CONDOMÍNIOS é Rodrigo Vianna, especialista em Direito Condominial e Imobiliário e estudioso da Linguagem e da Comunicação, que também avalia os fatores necessários para traçar um perfil de cada condomínio. “Falar só sobre lei não é suficiente”, adianta.
Para ele, a assembleia deve ser entendida como o palco dos acontecimentos. É nela que costuma haver o primeiro encontro entre condômino e advogado, aquele que determina a relação entre as partes. Mas o profissional precisa estar munido de informação. Para isso, é útil uma conversa prévia com o síndico, uma listagem dos principais problemas que o condomínio enfrenta e, principalmente, estar despido de preconceitos e certezas não necessariamente fundamentadas. Outro ponto é estar atento à linguagem que vai usar. Se for um condomínio mais jovem, por exemplo, tudo bem uma gíria ou outra. O mesmo pode já não ser tão útil para ambientes mais tradicionais. Mas evitar o “juridiquês” parece ser um bom conselho para toda e qualquer situação. Falar bonito até funciona em congressos e palestras, mas “simplicidade” é a palavra-chave para conquistar a confiança de quem não é do meio. Para ter resultado, é preciso gerar conexão. Para gerar conexão, é preciso que o cliente entenda que o advogado pode sanar ou minimizar alguma dor dele, reforça Rodrigo.
E, nessas horas, lembra: até mesmo a roupa importa! Cabe ao profissional avaliar se terno e gravata realmente são uma opção invariável. Na diversidade de condomínios e condôminos, o advogado lida com diferentes classes e interesses, o que o obriga a reformular frequentemente sua imagem e tentativas de aproximação. Longe de revelar descrédito, a tática indica um serviço cuidadoso e personalizado, atento às maiores peculiaridades. Esse tato apurado, sugere Rodrigo, deve ser entendido justamente como um método em constante aperfeiçoamento, até porque o espontâneo é intrínseco à comunicação. Seguro de suas palavras, ele reforça que o ser humano é resistente a mudanças drásticas, que costumam gerar um gasto energético excessivo. Por isso, ainda que o trabalho exija certo improviso e jogo de cintura, não se pode abrir mão do estudo, da paciência e do planejamento.
Rodrigo Vianna aproveita para fazer uma avaliação do Direito e do próprio meio acadêmico. Ele acredita que a confiança cega no pragmatismo limita o aprimoramento humano, o que, por sua vez, restringe o trabalho do advogado. Sem sensibilidade, você não conquista cliente. “Sem cliente, você não executa processo”, afirma, indicando que o sucesso pessoal é também econômico e comercial. Vice-presidente da Comissão de Direito Condominial da OAB Pavuna e membro das Comissões de Direito Condominial da ABA RJ e de Imobiliário e Urbanístico da OAB RJ, ele reflete sobre a importância de associações do tipo justamente como um espaço de autocrítica do mundo jurídico no geral e da atuação de cada advogado mais especificamente. Antes de expor seus argumentos ao mundo, é preciso que os próprios profissionais do Direito entendam que não foram feitos somente “para combater”. É preciso criar.
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