O condômino conhece as contas de seu condomínio?

Em nossas vidas, é comum termos o controle e conhecimento dos assuntos que nos cercam, afinal precisamos de um mínimo de previsibilidade de nossas ações e riscos.

Deveriam fazer parte desse interesse as prestações de contas condominiais, para aqueles que vivem em condomínios, mas na maioria dos casos não é o que acontece, e a preocupação se mantém apenas no esforço de ter em dia o pagamento da sua cota.

Como contador e atuante nesse segmento, com prestação de serviços de auditoria condominial, que, diga-se de passagem, não possui o aspecto punitivo que muitos imaginam e sim de auxílio à transparência da gestão, vejo que há uma mudança de paradigma em curso, e os condôminos começam e se interessar pelas prestações de contas condominiais, se mostrando mais proativos e questionadores.

Certamente que o home office contribuiu para que o morador de condomínio tivesse a oportunidade de circular com mais frequência  pelas áreas comuns e comparar as formas de administração com as suas experiências corporativas, e passou a questionar também se a forma de apresentação das prestações de contas é a mais adequada, considerando-se que o modelo atual é basicamente um demonstrativo de caixa, sem as informações históricas, sem os recebíveis e sem os passivos, e que muitas vezes trazem mais dúvidas do que esclarecimentos.

Começam a surgir questionamentos interessantes também a respeito do orçamento, tais como: 

“Há outra fonte de recursos, que não somente a cota condominial?”; “podemos ter parte dos funcionários próprios, ao invés de todos serem terceirizados?”; “como é tratado o recebimento de inadimplência?”; “existe controle dos bens patrimoniais?” 

Ainda que embrionários, os questionamentos começam a demandar dos gestores a apresentação na assembleia de mais de uma opção de proposta orçamentária. A visão contábil que começa a surgir nos condôminos, talvez ainda de forma inconsciente, já contribui para a melhoria da qualidade das informações, sejam nos orçamentos ou nas prestações de contas. 

As informações estão cada vez mais acessíveis, o que contribui para que o interesse do condômino aumente, pois a prestação de contas está chegando no seu telefone celular, e permitem inclusive a consulta aos documentos-base, tornando ainda mais transparente o processo.

Ainda assim, o condômino convive com um dificultador, que são os diversos formatos de apresentação dessas prestações de contas, pela falta de normativa contábil.

O caminho ainda é longo, mas, com a aproximação dos contadores e dos Conselhos Regionais de Contabilidade, do que podemos chamar de “mercado condominial”, certamente chegará o dia em que as prestações de contas serão mais completas, não se limitando às movimentações e disponibilidades de caixa.

Sérgio Paulo é formado em Ciências Contábeis, pós-graduado em Auditoria e Controladoria; membro da Comissão de Contabilidade Condominial do CRC-RJ; sócio da Indep Auditores Independentes S/S, onde desenvolveu um departamento exclusivo para atendimento de auditoria de condomínios. Registrado no CRC-RJ, CNAI, CNPC e Ibracon.

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