Contas negativas: Como fugir desse fantasma que assusta tantos síndicos

A frequência com que se identifica a má gestão dos condomínios e, especificamente, da administração financeira deles, levou o especialista Sérgio Gouveia a catalogar, ao longo dos anos, uma serie de perguntas e soluções aplicadas no dia a dia da gestão. Como o tema parece ter muita procura e, mesmo, interesse por parte dos síndicos, a Revista dos Condomínios enviou um repórter para conversar com Gouveia e apresentar um pouco do que se pode esperar da publicação – a partir dos temas ali apresentados. 

Repórter da Revista dos Condomínios – Qual foi a motivação e inspiração por trás da criação deste livro sobre finanças para síndicos?

Sérgio Gouveia – Quando eu decidi escrever esse livro desejei que ele tivesse alguns diferenciais. O primeiro: que tivesse uma linguagem direta, clara, com linguagem simples. Segundo: que oferecesse uma contextualização e que, portanto, não fosse um conteúdo árido, de difícil compreensão ou aplicação na ordem prática do dia a dia. Por isso eu decidi começar contando as minhas experiências no trato com a gestão dos primeiros condomínios que assumi na função de síndico. Com isso, ofereci uma contextualização para explicar a importância do que estou oferecendo como conteúdo no livro, ora publicado. Tinha que ter uma linguagem próxima, entende? E, dessa forma, fazer com que os leitores compreendessem como, esses elementos, conteúdos, a primeira vista isolados, como eles se encaixam em um contexto de quem está realizando a gestão de um condomínio.
A questão das decisões financeiras, o que é mais acertado fazer dessa forma ou de outra e o porquê; o que essa decisão envolve; quais são as consequências; um olhar um pouco mais amplo que vá além das finanças, porque ela nunca funciona isoladamente, não é? Como terceiro diferencial, aponto os materiais e conteúdos complementares que as pessoas possam baixar. O livro tem um QR Code logo na abertura onde as pessoas acessam e vai dar num ambiente com vários botões dando acesso a lives que fiz, aulas complementares, – algumas gratuitas e outras não – materiais para download e uma serie de conteúdos que expandem o conhecimento do leitor e vão além do conteúdo do próprio livro. Então, ali, ele pode literalmente aprofundar os conhecimentos que estão sendo compartilhados no livro.

Repórter da Revista dos Condomínios – O que você pode nos contar sobre a estrutura do livro, de uma maneira geral?

Sérgio Gouveia – O livro começa relatando minhas duas experiências como síndico, e eu chamo a atenção dos leitores sobre como essas experiências são pontuadas por decisões financeiras. Fiz isso para criar o cenário preparatório para a análise dos tópicos financeiros que são demonstrados nos capítulos a seguintes.

Repórter da Revista dos Condomínios – Como tudo iniciou? A partir da experiência prévia em administração?

Sérgio Gouveia – Minha primeira experiência foi em 2011, quando fui eleito síndico morador do condomínio onde morava. Quando iniciei minha jornada no mundo condominial, eu trouxe as ferramentas de gestão, finanças, planejamento estratégico, qualidade total etc. que já usava há muito tempo como diretor de empresa. Essas ferramentas me permitiram fazer uma verdadeira revolução nesse condomínio. 

Administração ótima de recursos: 

Em três anos, ele (o condomínio) teve suas finanças saneadas e todas as pendências resolvidas, incluindo uma pequena reforma, que foi feita sem a necessidade de instituir taxa extra. Utilizamos apenas os recursos que foram economizados com as medidas que tomei. E, no final do meu terceiro mandato, reduzi as cotas condominiais em 31%, sem prejuízo das manutenções e demais despesas. 

Despertando a curiosidade: resultados na prática

Essa experiência foi repetida no outro condomínio onde fui síndico, e isso foi despertando a curiosidade de outros síndicos sobre o que foi que eu fiz. O livro começa justamente relatando essas experiências em detalhes. Daí surgiu o projeto De Repente Síndico, com o perfil no Instagram, canal no Youtube, cursos, aulas, artigos e palestras.

Mercado carente: informação 

Porém, numa conversa com Odirley Rocha, um grande parceiro do mundo dos condomínios, que me honrou escrevendo o prefácio desse livro, ele sinalizou que o mercado estava carente de mais informações mais específicas sobre finanças para síndicos, e é justamente a minha área de especialização.

Teoria e prática juntos

Daí em diante, comecei a direcionar muitos dos meus conteúdos para a área financeira, e decidi compilálos de uma forma prática através desse livro. E como tudo o que produzo tem esse aspecto muito objetivo e prático, o livro traz QR Codes com materiais para download, como planilhas e modelos de documentos para que o leitor não apenas entenda o conteúdo, mas tenha instrumentos concretos para se colocar em movimento de mudança.

Repórter da Revista dos Condomínios – Quem é o público-alvo principal deste livro?

Sérgio Gouveia – Síndicos, conselheiros fiscais e todo mundo que se interessa pela vida em condomínios. Mas com certeza será muito esclarecedor para qualquer pessoa que deseja começar e entender um pouco mais as finanças e como funcionam as engrenagens do dinheiro.

Repórter da Revista dos Condomínios – Quais são os tópicos-chave abordados no livro? Poderia me falar uma breve visão geral do que o livro aborda?

Levantamento de temas cruciais: a experiência prática como referência

Sérgio Gouveia – Esse livro busca cobrir todas as interseções que existem entre finanças e condomínios, como: análise de balancetes, rotinas e controles financeiros, o que são e como funcionam as administradoras, conta pool, inadimplência, garantidoras, previsão e acompanhamento orçamentário etc. Assim como, também, alguns itens de finanças puras, como juros compostos, aplicação de recursos (investimentos), passando por fintechs e bancos digitais, prestação de contas, auditoria, compliance, etc. Mas busquei também trazer alguns assuntos que não vejo sendo discutidos no mundo condominial, como finanças comportamentais, plano diretor e remuneração variável para síndicos. Acho que o leitor vai se surpreender.

Repórter da Revista dos Condomínios – Qual é a importância da gestão financeira eficaz em um condomínio e como isso afeta diretamente os síndicos?

Sérgio Gouveia – O gestor e os condôminos precisam entender que os recursos financeiros estão para o condomínio assim como o sangue está para um organismo vivo. Sem isso, pode sobrar boa vontade do síndico, mas não haverá muito que ele possa fazer.
Por isso, sempre defendo que as primeiras medidas, de quem assume um condomínio, sejam voltadas para colocar as finanças em ordem, especialmente aqueles que estejam em situação financeira delicada. E isso não é tarefa para leigos.
Sem um mínimo de conhecimento e preparo, é fácil se perder e aprofundar ainda mais os problemas.

Repórter da Revista dos Condomínios – Quais são os principais desafios financeiros mais comuns que os síndicos enfrentam ao administrar um condomínio?

Sérgio Gouveia – Quando comecei a analisar balancetes de vários condomínios, fiquei impressionado com a frequência com que os demonstrativos revelam despesas ordinárias superiores às receitas ordinárias…

Decisão de escrever o livro: identificação da falta de administração

Estou falando de mais de 90% dos casos. Ou seja, provavelmente ocorre neste momento com o condomínio de todos os leitores dessa matéria. Em tese, ter mais receitas do que despesas é o básico do básico, certo? Mas não é assim que acontece na prática. Se a gestão financeira em média está assim, imagine os desafios mais complexos. Por isso decidi escrever esse livro.

Repórter da Revista dos Condomínios – Como você enxerga o futuro da gestão financeira de condomínios? Seu livro ajuda a enxergar esse futuro?

Sérgio Gouveia – Quero despertar no leitor para a importância da necessidade de entender cada vez mais sobre finanças. Não apenas para a gestão de condomínios, mas para a gestão da própria vida. E, no caso dos condomínios, despertar o entendimento de que uma gestão profissional dos recursos de terceiros é absolutamente essencial e uma grande responsabilidade. 

Não há espaço para amadorismo. Vejo muitas pessoas afirmarem isso dizendo que “não há mais espaço para amadorismo”. Mas na verdade, nunca houve. E os condomínios que não observaram isso, certamente passam hoje por dificuldades. O futuro é da crescente profissionalização, com toda a certeza, com gestões financeiras cada vez mais assemelhadas às das empresas de sucesso.

Repórter da Revista dos Condomínios – Quais são as expectativas com o lançamento do livro?

Sérgio Gouveia – O livro foi escrito sem “tecniquês” ou jargões complicados, justamente para que qualquer um, independente do grau de desenvolvimento no entendimento de finanças, possa se beneficiar do seu conteúdo. Espero que ele seja um instrumento de grande ajuda, mesmo para muitos que estão começando, de aprimoramento a quem já está “na trincheira” há algum tempo e, ao mesmo tempo, servir como uma luz para tendências, como plano diretor e remuneração variável, para quem já está nesse meio há mais tempo.