Filosofia sistêmica imobiliária e o papel de cada um no condomínio
Como já venho falando em várias colunas, os condomínios são pequenos demonstrativos da sociedade, e se a sociedade está doente, essa doença começa dentro da casa das pessoas, e as casas, na maioria das vezes, se localizam em condomínios, e por isso vemos cada vez mais condomínios e pessoas doentes mentalmente, e por via de consequência a sociedade idem. Trata-se de efeito “dominó”. Agora vamos a prática: Se você elege um doente para ser síndico e se omite na solução do problema, por óbvio irá pagar a conta do médico, da clínica psiquiátrica e a sua própria conta. Obviamente estou usando jargões analógicos, mas a verdade é uma: vivemos em condomínios onde cada um acha uma coisa, e nem sempre a maioria está revestida de saúde mental sufi ciente para adequar o condomínio às suas necessidades e capacidades financeiras. E como se dá a solução? Venho reiteradamente dizendo nesta coluna que a propriedade condominial é um exercício familiar, onde sempre estaremos cercados de pessoas, que obrigatoriamente temos que conviver como em nossa família, e nem sempre teremos que gostar da tia chata, do tio estelionatário, ou do primo abusador, mas o fato é que se vivemos “EM CÃODEMÔNIO OU CÃODOMINIO”, teremos pessoas com perfis de perseguidores, vítimas e salvadores, e daí vem a explicação através do famoso triângulo do “drama de Karpman” (ferramenta da análise transacional), onde o perseguidor vem com a fala de que: “e tudo culpa sua”, a vítima com a fala do: “não posso fazer nada” e o salvador na postura do: “eu posso te ajudar”, infelizmente essa dinâmica num condomínio não resolve nada, apenas envelhecemos e nos desgastamos! Neste tipo de drama, os condôminos assumem tais papéis e se alternam nessas posições, mas nada resolvem. O papel mais poderoso é o da vítima, que se diz impotente de resolver seus problemas e quer que alguém a ajude, ou seja busca um salvador, e assim acusa o perseguidor, falando frases comuns da vítima como: “pobre de mim” “ele me persegue”, “não posso fazer nada” e com isso ninguém assume a responsabilidade de nada. O perseguidor por sua vez culpa a vítima e assume autoritarismo, geralmente o perseguidor vê na vítima algo de si, mas culpa a vítima para não ter que lidar com seu problema, já o salvador parece nobre, quer salvar a vítima, e tem atitudes que parecem revestidas de ética e coragem, mas se exposto se torna violento, virando perseguidor, e por ai seguem os condôminos nos seus papéis oscilantes e com as trocas de posições. Para lidar com tais conflitos e dramas como estes, tão corriqueiros na seara condominial, deve se tentar reconhecer quando ele acontece, especialmente com nós mesmos, pois ao conseguirmos estabelecer essas distinções, entre o eu próprio e o do outro, os diferentes atos de fala de uma conversa, as necessidades envolvidas, exigências e pedidos velados, podemos ajudar efetivamente os outros a também enxergar seus próprios movimentos. E quando todos enxergam, torna-se mais fácil e desejável uma intervenção efetiva de solução, propor por exemplo tratar um ponto de cada vez, assumir a responsabilidade pelos nossos atos, ter conversas difíceis etc. E isso já é um aumento da capacidade do grupo de perceber e responder, que é o grande objetivo da facilitação condominial ente todos. Síndicos não são salvadores, perseguidores e nem vítimas, são apenas pessoas comuns com cargos e obrigações. Assembleias não são palcos de show, nem prestadores de serviços são salvadores de relações. DICA DO DIA: Tudo começa por sermos adultos nos nossos papéis, e claros no que desejamos para si e para o todo. Feito isso, já teremos menor dificuldade de solucionarmos os temas que surgem nas reuniões condominiais e tudo passa a fluir. Sejamos adultos e ocupemos o nosso lugar de fala e força!
Gracília Portela
Presidente da Academia Brasileira de Filosofia Sistêmica e presidente da comissão de justiça filosófico sistêmica da OAB/Meier Rio de Janeiro; Diretora da EDC – Escola do desenvolvimento do Coletivo/RJ.