Aplicando as Estratégias de Negociação em Assembleias Condominiais
Na gestão de um condomínio, a figura do síndico é essencial para garantir a harmonia e o bom funcionamento dos serviços para a comunidade. De acordo com a advogada especialista condominial, Robéria Morais, uma das ferramentas mais poderosas que um síndico pode empregar é a Técnica de Harvard, baseada no livro “Como Chegar ao Sim”, de Roger Fisher. Segundo ela, essa técnica, centrada na negociação de princípios, pode ser particularmente útil em “assembleias de previsão orçamentária, onde a comunicação eficaz e a empatia são fundamentais para o sucesso”
Compreendendo a Técnica de Harvard
A Técnica de Harvard “foca na negociação baseada em interesses, e não em posições” – explica a especialista. Essa abordagem busca criar acordos “mutuamente benéficos, ao invés de disputas onde um lado ganha e o outro perde” – continua ela.
Aplicando as Técnicas em Assembleias de Previsão Orçamentária
De acordo com a experiência da especialista, a assembleia de previsão orçamentária é um momento “crítico na gestão condominial, onde se discute e aprova o orçamento para o próximo período” – o que pode ser ocasião de muitas controvérsias. Daí que, “para um síndico de excelência, aplicar a Técnica de Harvard pode fazer toda a diferença” – avisa Morais.
Vamos explorar como essas estratégias podem ser implementadas:
Preparação e Empatia
Antes da assembleia, o síndico deve se preparar minuciosamente. Isso inclui a elaboração de uma planilha detalhada com todos os gastos do condomínio, discriminando valores fixos e indispensáveis (como salários de funcionários e tributos) e valores variáveis que podem ser discutidos (como fundos para demissão, reforma, limpeza e manutenção de fachada).
Além disso, é crucial que o síndico se coloque no lugar dos condôminos. As pessoas precisam se sentir importantes e úteis. Elas querem ter controle sobre suas vidas e gastos, e isso se aplica diretamente ao contexto do condomínio.
Envolvimento dos Moradores
Durante a assembleia, o síndico deve envolver os moradores no processo de decisão. Quando os condôminos participam ativamente, a probabilidade de aceitação dos resultados aumenta significativamente. Explicar claramente os motivos por trás dos valores e a necessidade de certos reajustes é fundamental. Por exemplo, detalhar por que a contribuição para o pagamento dos funcionários é inegociável, enquanto o fundo de reforma pode ser ajustado, permite que os moradores entendam e aceitem melhor as propostas.
Comunicação Clara e Transparente
O síndico deve comunicar-se de forma clara e transparente. Apresentar dados concretos e objetivos, como o custo de manutenção e a previsão de despesas futuras, ajuda a fundamentar as decisões. Além disso, é importante abordar os aspectos emocionais, reconhecendo as preocupações dos moradores e mostrando empatia.
Caso de Sucesso: Um Exemplo Prático
Recentemente, Robéria Morais aplicou essas técnicas em um condomínio popular. E é ela que conta: “o síndico, devidamente preparado e com domínio completo dos gastos, apresentou uma planilha detalhada e envolveu os moradores no processo de decisão”. A assessoria jurídica, por seu lado, também “desempenhou um papel vital, facilitando a comunicação e alinhamento entre todas as partes” – lembra.
Resultado além da conta
O resultado foi surpreendente! – exclama a especialista, então aplicando a técnica pela primeira vez. E continua: “não apenas o reajuste esperado foi aprovado, como também os moradores concordaram com a implementação de uma taxa extra na mesma assembleia”. Este sucesso se deveu ao fato de que o síndico soube envolver os moradores e demonstrar claramente a necessidade e os benefícios das propostas apresentadas.
Mudança na interação
A aplicação da Técnica de Harvard na gestão condominial, “especialmente em assembleias de previsão orçamentária, pode transformar a maneira como os síndicos interagem com os moradores e tomam decisões importantes” para toda comunidade, garante Morais.
Ao se concentrar em “interesses comuns, envolver a comunidade e comunicar-se de maneira clara e empática, um síndico pode alcançar resultados excepcionais, garantindo não apenas a aprovação das propostas, mas também a satisfação e cooperação dos condôminos” – resume Morais, para em seguida concluir: “a excelência na gestão condominial é alcançável quando se utiliza as estratégias corretas de negociação e se coloca a comunicação e o entendimento mútuo no centro do processo”.
DE ACORDO COM A TÉCNICA, AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS INCLUEM
1. Separar as pessoas do problema: Enfatizar a importância de tratar os participantes como parceiros na solução do problema, e não como adversários.
2. Concentrar-se em interesses, não em posições: Identificar os interesses subjacentes das partes envolvidas e procurar maneiras de atendê-los.
3. Gerar opções de ganho mútuo: Criar soluções que beneficiem todas as partes envolvidas.
4. Insistir em critérios objetivos: Basear o acordo em padrões objetivos e justos, como dados e normas, ao invés de opiniões pessoais.
Robéria Morais
Advogada especializada em Direito Condominial, com experiência em palestras e produção de conteúdo sobre o assunto. Membro ativo da Comissão de Direito Imobiliário da OAB/PE – Recife e da Comissão de Direito Condominial OAB Caruaru/PE. Diretora Administrativa na Associação de Síndicos Profissionais do Condomínio de Pernambuco. Autora do livro “Xô Inadimplência” pela Bonijuris.
