Inteligência artificial, ganho real

Aos poucos, condomínios descobrem potencial da tecnologia aplicada ao monitoramento e até tomada de decisões, que gera ganhos de comodidade e segurança, além da economia de recursos

 

Rafael Sommerfeld

A Inteligência Artificial (IA) e a Internet das Coisas (IoT – Internet of Things, do inglês) já são realidade em diversos campos do conhecimento, atividades e empresas. Mas será que os condomínios já abriram os olhos para isso? Quais recursos a IA e a IoT podem oferecer aos gestores condominiais e facilitar a vida de moradores e condôminos? Todo esse potencial tecnológico já é explorado a contento no universo condominial? Esses questionamentos fizemos a dois especialistas da área.

Rafael Sommerfeld, mestre em Inovação e Empreendedorismo pela Unisuam, com MBA de Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em Inovação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e que também possui graduações na área de Tecnologia avalia que os condomínios já estão se adaptando à nova realidade. “Certamente, já temos condomínios muito conectados com tudo que está chegando de novo. Sabemos que, com todos os desafios da gestão, não é a maioria que já despertou para tudo que pode ser implementado pela tecnologia em suas estruturas. É importante lembrar que hoje, no Brasil, são mais de 800 construtechs e proptechs – startups voltadas ao segmento imobiliário e condominial. Não por acaso, essas empresas vêm crescendo em altas taxas nos últimos anos, muito em função do aumento da demanda desse mercado. O que se espera ver em breve é, sem dúvida, um número cada vez maior de condomínios adotando a tecnologia como insumo indispensável para gestão e operação de suas estruturas”, pontua.

CEO da Sommerfeld Soluções para Gestão, Rafael foi executivo de tecnologia por muitos anos em empresas como Ambev, Azul Seguros, CCAA, RHMed e Sesc, entre outras. Foi também professor das duas primeiras turmas de pós-graduação em Gestão Condominial no Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Jurídicas (CBEPJUR). “A Inteligência Artificial já ajuda em diversos mecanismos, como reconhecimento de imagens, seleção de correspondências e entregas, monitoramento ativo, prevenção de acidentes e perdas, análises e uma série de outras funcionalidades que auxiliam na gestão”, conta, para prosseguir.

“Quando falamos de IA, é importante lembrar que ela é uma base que permite o aprendizado, ou seja, são mecanismos que, a partir das informações coletadas, nutrem uma inteligência que poderá ‘responder’ em momento futuro aos cenários apresentados. Por exemplo: num condomínio que gerencie imagens de moradores e as associe aos comportamentos destes, poderá, em algum tempo de captura das imagens e movimentos, inferir quais comportamentos habituais dos condôminos em determinados dias e horários, podendo sugerir maior ou menor uso de recursos em determinadas áreas, como presença de guardião de piscina, faxineiros e porteiros”, explica.

Segundo Rafael Sommerfeld, quando o tema é tecnologia, as novidades são constantes, pois a cada dia há mais empresas se voltando ao segmento. E inovações sempre recentes, num mercado muito competitivo, surgem a cada momento. “Entendo que as plataformas integradas constituem uma tendência importante, visto que, cada vez mais, permitem uma gestão a partir de um único centro de comando, controlando e gerindo diferentes recursos, com análise preditiva, a partir da base de dados histórica, permitindo maior análise de ocorrências e tendências de ocorrências futuras.”

A internet que veio para mudar as coisas

A Internet das Coisas também tem se tornado presente nos condomínios, conectando objetos em rede, processando grandes quantidades de informações, executando tarefas sob comando remoto e operando de forma autônoma e online. Se você ainda é pouco familiarizado com o tema, vamos iniciar por uma explicação básica. A chamada Internet das Coisas é a tradução da expressão ‘Internet of Things’, que dá origem à sigla IoT. O termo representa um cenário em que é possível conectar diversas coisas, para que possam se comunicar entre si por meio da internet e outras tecnologias, a partir de componentes conectados. Assim, podemos entender que essa é uma maneira de o mundo físico se aproximar do mundo digital. Passamos, todos nós, a contar com dispositivos que executam tarefas recebendo apenas um comando a distância, a partir de um computador ou simples smartphone.

Em muitas casas, já é possível acender e apagar as luzes, mesmo não estando presencialmente. Da sua mesa no escritório, ligar o ar-condicionado do carro que está parado lá no estacionamento, para que seu interior esteja refrigerado quando da sua chegada. Todas essas ‘mágicas’ são hoje realidades concretas, ao alcance de poucos cliques. Para os condomínios e seus moradores, isso se traduz em soluções que elevam os níveis de segurança, reduzem custos e tornam o cotidiano dos síndicos bem mais prático e produtivo. Por meio de soluções específicas, a IoT pode gerar reduções significativas de gastos.

Regulagem inteligente de iluminação, de acordo com a hora do dia e/ou incidência solar; controle de entrada; irrigação automática, medição remota de caixa d’água, com leitura do consumo e alerta de escassez; instalação de sensores na superfície do condomínio para transmitir diversos alertas, dentre eles uma indicação sobre a necessidade de realizar limpezas; monitoramento dos elevadores, com envio automático de mensagem para a empresa responsável pela manutenção indicando detalhes, como se há alguma pessoa presa; e adoção de sensores que permitam identificar e até localizar, com exatidão, vazamentos de água.

Odirley Rocha

Modernização que gera valorização

Especialista em segurança e futuro condominial, com MBA em Gestão de Segurança Empresarial, além de diretor de relacionamento do Porter Group, Odirley Rocha destaca as vantagens da opção do administrador por investir em tecnologia para a valorização do imóvel. “Empreendimentos que investem em tecnologia tendem a ser mais valorizados. Mas quais vantagens eles agregam? Como colaboram com a qualidade de vida de seus moradores?”, provoca.

Segundo ele, um dos aspectos que mais se beneficiam da tecnologia é o conforto dos moradores. As facilidades permitem que eles possam relaxar enquanto o empreendimento fica a cargo do autogerenciamento. “Como exemplo, podemos citar a climatização de ambientes, a configuração para abertura de portas e portões, a simplificação do sistema de televisão, o uso de persianas automáticas, que se adaptam conforme a hora e luminosidade do dia.”

É claro que existe sempre um custo inicial para implementar todas essas tecnologias, mas sistemas inteligentes como esses costumam administrar os recursos de forma eficiente, evitando desperdícios de água, energia, gás e luz. Assim, acabam por se ‘pagar’ em bem pouco tempo. “Contudo, o ganho na área de segurança talvez seja a principal vantagem da aplicação das novas tecnologias condominiais. Hoje, há tecnologias que são capazes de integrar câmeras, portões automáticos, sensores, travas eletrônicas e outros tantos instrumentos que protegem os condôminos. Os dispositivos de segurança não são uma novidade, mas a tecnologia os tem tornado cada vez mais eficazes. Alguns dos equipamentos mais utilizados e importantes hoje são câmeras, cercas elétricas e sensores de movimento”, defende Odirley.

Há ainda a possibilidade de dar conta de boa parte da manutenção dos condomínios via QR Code. Nesse esquema, cada dispositivo que necessita de acompanhamento, como uma bomba d´água ou a central de alarme contra incêndio, por exemplo, tem um QR Code, com imediato acesso a todas as informações técnicas, fotos, também um check-in com os dias e horários das manutenções feitas, aquelas programadas, ou a indicação de quem acionar no caso de urgência, como uma pane. Assim, facilmente o síndico pode criar uma rotina de check-in para si mesmo e os diversos prestadores de serviços, organizando a rotina e diminuindo radicalmente a incidência de defeitos que prejudiquem o cotidiano dos moradores e colaboradores.