A beleza, os cuidados e problemas dos arranha-céus

Cresce no Brasil a oferta de edifícios de muitos andares. Em contraste à beleza e imponência das construções, os desafios de gestão são também gigantescos

Gabriel Aguilar e
Monike de Medeiros

Quando pensamos nos edifícios mais altos do mundo, nos vêm à mente os arranha-céus dos Estados Unidos ou então as suntuosas construções dos Emirados Árabes. Mas você sabia que o Brasil também tem alguns prédios que chegam perto ou até mesmo superam alguns desses países? Mas como será que funcionam? Quais são os desafios enfrentados pelos síndicos desses gigantes?

Para esta matéria contamos com a participação do engenheiro civil, perito judicial, professor e CEO do escritório Consultoria em Engenharia Legal e Diagnóstica (Celd) Gabriel Aguilar, juntamente Monike de Medeiros, engenheira civil e especialista em Engenharia Diagnóstica e Perícia pela Unip, a respeito dessa tendência que cada vez mais  vem ganhando força no mercado predial brasileiro.

Primeiramente, é preciso entender que essas construções não estão surgindo porque engenheiros acham “bonito” construir prédios desse tamanho. Existe uma explicação para tal, como fala Gabriel Aguillar. “A altura dos novos edifícios no centro das grandes cidades está relacionada à escassez de áreas (terrenos) para construção de casas. Lembra da Lei da Oferta e da Procura (demanda)? O princípio é o mesmo. Nas regiões com elevada demanda por moradia, o custo de aquisição de um terreno tende a ser caro. Ao construir um edifício com dezenas de unidades, o custo de aquisição de cada uma delas será menor, já que cada unidade será adquirida por uma fração ideal daquele terreno”, esclarece.

Claro que alguns pontos precisam ser levados em consideração, especialmente no que tange à segurança. Por exemplo, a legislação do município do Rio de Janeiro determina que em algumas regiões o tamanho máximo das edificações não pode passar de quatro pavimentos, o que mostra a disparidade entre os casos, como mostra a engenheira Monike: “A viabilidade da construção de um prédio começa com a escolha do terreno. O terreno está inserido em determinadas condições de entorno específicas daquela região.” Ela cita como exemplo a autorização legal dos órgãos públicos, as edificações existentes, posição solar, o acesso para os materiais, logística e principalmente a viabilidade econômica de tudo isso. “Esta parte é o que chamamos de planejamento em que tudo tem que ser observado. Após isso, durante o processo de elaboração do projeto, as soluções vão sendo decididas pouco a pouco, amadurecendo as experiências da equipe, para que a construção desses prédios se torne possível. O papel dos projetistas é pensar nisso tudo, é um trabalho coletivo em que a experiência profissional conta muito”, explica a especialista.

Em seguida, Monike foi direta no que diz respeito aos perigos que os moradores desses prédios podem enfrentar. Pense nos problemas que algumas falhas técnicas ou humanas podem provocar em condomínios e edifícios de tamanho “normal”. Agora multiplique esses problemas na proporção do tamanho dos prédios.

“O maior risco é uma decisão mal tomada. A complexidade de sistemas e subsistemas de uma construção deste porte exige muito preparo e, sem dúvidas, a gestão do conhecimento é a habilidade mais importante. Porque dela depende a comunicação entre as diferentes equipes de trabalho. Basicamente, os processos que envolvem humanos estão sujeitos a falhas, e em caso de falha (humana ou técnica) uma cadeia inteira pode ser prejudicada. Quando essa falha aparece, deve ser resolvida o mais depressa possível, pois o edifício é composto por diferentes sistemas que se correlacionam entre si, assim como o corpo humano”, disse.

Ou seja, por mais que os síndicos e gestores estejam querendo cortar custos em alguns aspectos, a conta pode chegar e o preço a pagar, nesta situação, seria caríssimo!

Gabriel completou falando que os responsáveis pelas obras e manutenção não podem ser qualquer um. Apenas empresas com presença marcante no mercado devem ser contratadas.

Para mostrar o outro lado da moeda, existem os benefícios desses edifícios de maior porte. Em geral, esses prédios são construídos em áreas com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o que colabora com o ponto principal abordado pelos dois especialistas: segurança e proximidade dos grandes centros urbanos e turísticos. E Monike ainda vai além: “Acredito que o maior benefício é o senso de pertencimento que está relacionado à aceitação no grupo, pois mexe com expectativas pessoais, e essa satisfação vai além dos metros quadrados que as unidades oferecem. A integração dos ambientes, uma boa área comum é essencial para despertar esse sentimento de pertencimento da comunidade do condomínio. E quando o cliente é capaz de se imaginar habitando naquele lugar, ele se sente seguro e compreendido, e o prédio passa a ser uma materialização dos desejos pessoais mais profundos”, conclui.

Confira a lista dos 10 maiores prédios no país

ONE TOWER – Ainda não finalizado, será o maior do Brasil com 84 pavimentos e 290 metros de altura, localizado em Balneário Camboriú, Santa Catarina;

YATCHOUSE – Também localizado em Balneário Camboriú, conta com 81 andares e 281 metros;

INFINITY COAST – Mais um de Balneário Camboriú. Em termos de residência, é o maior prédio habitado do país, com 66 andares e mais de 230 metros, foi entregue aos moradores em 2019;

ORION BUSINESS & HEALTH COMPLEX – O primeiro complexo misto dessa lista foi finalizado em 2018, conta com 50 andares e 191 metros e quebra a hegemonia, ficando em Goiânia, Goiás;

EPIC TOWER – Com 55 pavimentos e 190 metros, fica na Avenida Atlântica de Balneário Camboriú e tem piscina com bar e até cinema próprio;

COMPLEXO TOUR GENEVE – Representando João Pessoa (PB), ele é o segundo de uso misto. São 54 pavimentos que compõem 186 metros, sendo considerado o mais alto do Nordeste;

KINGDOM PARK VACA BRAVA – Este é o segundo edifício mais alto do Centro-Oeste. São 52 andares para mais de 170 metros de altura, e também fica em Goiânia;

MILLENNIUM PALACE – Também localizado na Avenida Atlântica, em Balneário Camboriú, fica de frente para o mar e tem 177 metros com 46 andares, e é um dos primeiros a romper a marca de 40 andares na cidade.

SPLENDIA TOWER – São 175 metros com 43 pavimentos, sendo também localizado em Balneário Camboriú, na região central.

CONCÓRDIA CORPORATE – O único prédio na lista que fica em Belo Horizonte, Minas Gerais. Possui 172 metros e 44 andares e é considerado o maior feito em estrutura metálica da América Latina.