Tudo acontece na cobertura 01
Um belo dia, em uma assembleia da qual você não gostaria de estar, os condôminos discutiam sobre a proibição e as medidas contra locações por temporada no condomínio. A gota d’água foi a última festa de arromba que ocorreu na cobertura 01, onde mais uma vez a polícia foi ao prédio para conter a agitação dos hóspedes que faziam parte de uma extensa agenda de reservas, digna de um hotel. Afinal, trata-se de uma cobertura de luxo com vista para o mar em Copacabana, que possui seis quartos, com varanda grande, piscina, churrasqueira, toda mobiliada, anunciada em diversas plataformas para locação de curta temporada por, em média, R$ 600,00 a diária. Desta vez, os hóspedes educadíssimos ligaram o som no máximo e decidiram urinar pela sacada da varanda durante a festa, sem nenhum pudor. Enquanto a festança acontecia, os moradores dos prédios vizinhos estavam em peso em suas janelas para olhar o que estava acontecendo.
E assim, enquanto uns se divertem, choviam ligações, mensagens e vídeos no celular da síndica, que, sem ter culpa alguma, atendeu o telefone na madrugada de sábado disposta a ajudar e cumprir sua função, mas acabou sendo xingada por alguns moradores irritados com o barulho. Afinal, já não era o primeiro caso na cobertura 01, existia uma gigantesca coleção de situações formalizadas com reclamações dos outros moradores por excesso de barulho em festas, objetos dos mais variados tipos e tamanhos que eram jogados constantemente pelos hóspedes da cobertura e que caíam nas varandas dos apartamentos de baixo, pelos danos nos portões causados por hóspedes que esqueceram as chaves e resolveram forçar o portão para entrar no prédio, pelos hóspedes que resolveram andar nus pelo prédio, entre outras situações. Ou seja, no “dossiê” da unidade se somavam casos e tentativas de contatos com o proprietário, notificações, advertências e multas. Ressaltando que o proprietário pagava todas as multas do condomínio e não sofria nenhum prejuízo, visto que ele repassava para os hóspedes.
O proprietário da unidade sequer apareceu na assembleia, o que terminou causando um alvoroço ainda maior entre os moradores, que ficaram furiosos com o descaso. Eis que, após muitas discussões em assembleia, os condôminos, que, apesar de concordarem com todos os argumentos do advogado do condomínio de que o proprietário da cobertura poderia ser processado, e esse tipo de locação limitada, proibida, concluíram que a Justiça é muito lenta e que não valia a pena gastar dinheiro com ação para esperar anos para ter um resultado (!?).
Enfim, apesar de todo o esforço da síndica, que, ouvindo a reclamação dos moradores, aplica todas as multas possíveis e imagináveis e ainda leva o assunto à assembleia para solução definitiva, tudo continua na mesma: infrações, multas, discussões, raves, objetos voadores, ligações na madrugada para a síndica e menos noites de sono para os moradores… Mas pelo menos o condomínio não gastará um real a mais, Por fim, à espera de um milagre, nada pode ser feito, pois cabe ao síndico cumprir a determinação da assembleia. Com isso, a saga continua na cobertura 01, pois se está em um condomínio onde os condôminos se importam mais em economizar do que em zelar pelo sossego deles mesmos. E boa noite para todos!!!
Karine Prisco é administradora, síndica profissional e fundadora da empresa Harco Síndicos.