Vamos só dar uma espiadinha???!!
Estou no universo condominial desde ano 2009 atuando na advocacia e/ou sindicatura, e sempre residi em condomínios aqui no Distrito Federal. Lembro-me agora de um fato que ocorreu na primeira gestão desse condomínio que resido até hoje. A nossa síndica apesar de ser uma profissional conceituada em contas públicas, estava derrapando na transparência e na efetiva prestação das contas e parecia bastante indiferente às nossas necessidades e preocupações, e vivia se esquivando do conselho fiscal.
Por causa disso, eu e outros moradores descontentes decidimos convocar uma reunião para discutir a situação. Foi uma reunião tensa, com muitos argumentos e debates acalorados, mas finalmente chegamos a um consenso de que algo precisava ser feito para melhorar a situação.
Foi então que alguém após a reunião notou algo estranho. Havia uma câmera escondida no forro gesso do salão de festas onde estávamos reunidos. A princípio, ninguém sabia o que pensar. Seria a síndica nos espionando? Ou talvez algum dos moradores que não confiava nos outros?
A síndica admitiu que havia instalado a câmera para nos espionar e/ou se proteger das pressões do conselho, na esperança de descobrir quem estava falando mal dela para outros moradores e até mesmo medo de ser agredida. Foi um choque para todos nós, especialmente porque nos sentimos traídos por alguém que deveria estar cuidando dos nossos interesses.
Depois disso, a situação da síndica no comando do condomínio caiu por terra, assim, acabamos por convocar uma assembleia para sua destituição do cargo e o condomínio passou por algumas mudanças significativas. Embora ainda tenhamos nossas diferenças, pelo menos agora sabemos que estamos mais unidos em nossa luta por um lugar melhor para morar. E, claro, não podemos esquecer da câmera escondida (ainda mais em tempos de LGPD) como um lembrete permanente de como a confiança é importante em qualquer comunidade.
Henrique Castro é advogado e professor.