Direito Sistêmico em Condomínios

Síndicos irascíveis e suas relações condominiais

Quem no mundo condominial nunca se deparou com o “síndico problemático”? Se disser que não, está literalmente mentindo. Todos os profissionais do ramo imobiliário já se depararam um dia com o síndico “IRASCÍVEL”, aquele que ninguém atura, ninguém consegue convencer de nada, ou pior, aquele que se “acha dono da razão” “da melhor forma de administrar”, “o Bonzão”, que acha que todos estão passando ele para trás mas como ele é “sagaz” não se deixará levar! Alguém aí se identifica? E por que será que esse síndico existe e é desta forma? Já se perguntaram? Aliás, por que e como ele se elege? E por que ele quer tanto esse cargo, né? Poderíamos ter várias respostas, mas a observação estatística nos leva a uma análise sistêmica de que este síndico quer ser visto. De alguma forma ele nunca foi RECONHECIDO no âmbito de sua família ou grupo, e por isso tem uma necessidade enorme de ser visto! Simples assim. São pessoas difíceis demais, arrogantes, sem bom convívio com ninguém, na maioria das vezes por serem dessa forma, quebra as leis do “Pertencimento, Hierarquia e equilíbrio entre dar e receber”, e aí se sujeita a traições de funcionários, fraudes condominiais, e invariavelmente a administrações trabalhosas que lhe dão muito mais dores de cabeça do que efetividade. Parece até que ele ganha a queda de braço com quem dele depende, mas, de fato, no fim das contas ele tem muito mais trabalho para equilibrar as finanças, mais trabalho para manter equipe, maior dificuldade de continuidade das pessoas e por aí segue seu rumo fora de prumo.

Síndicos irascíveis não são uma boa escolha, mas quando eleitos dentro de uma massa condominial o são por omissão de todos que não querem se meter na gestão e porque, no fundo, naquele grupo condominial, ele também tem necessidade de ser reconhecido. É a fome com a vontade de comer. Oportunidade única para quem tem síndrome de patinho feio. Aliás, diga-se de passagem, condomínios são nascedouros perfeitos para esse tipo de síndico, como no grupo ninguém quer assumir o posto, o mais chato, o mais irascível acaba pegando, quase como um presente.

Na nossa visão sistêmica, a eleição de tais síndicos é o exemplo claro de transferência de problemas familiares individuais que transpassam para a massa condominial e coletiva. Sinal de que aquilo que não se resolve na família, chega facilmente à sociedade, desfigurado e causando danos de toda ordem. No mundo sistêmico, não reconhecer os membros, ou excluir sob qualquer forma qualquer de seus integrantes, gera no excluído a sensação de “não pertecer”, sentimento esse que aquele humano acaba levando para seu comportamento social, gerando inconscientemente danos a terceiros. O autoconhecimento pessoal resolve sequelas, antes de elas chegarem nos demais grupos. Se cada um fizesse o seu dever de casa e tomasse consciência do “porquê” age de determinada forma, teríamos muito mais condomínios bem geridos e humanamente melhor administrados, com convivência pacífica, tal como deveria ser numa família. Administrar bem de terceiros, só para quem vive bem consigo mesmo. Não dá para organizar a casa alheia sem consertar a sua própria. Fica a dica!

Gracilia Portela é advogada condominialista sistêmica e presidente da ABJFSis – Academia Brasileira de Justiça e Filosofia Sistêmica.

gracilia.portela@amoportela.com.br

@graciliaportela