A solução extrajudicial sistêmica dos conflitos condominiais
A crescente virtualização da Justiça e a considerada modernidade das ferramentas judiciais de soluções de conflitos cada vez mais nos empurram para a reinvenção do ser humano como participante efetivo do seu crescimento pessoal na solução de seus próprios problemas.
No Tribunal do Rio de Janeiro por exemplo, e em muitos outros pelo Brasil afora, já temos plataformas de mediação judicial com base na inteligência artificial, o que nos faz intuir que nossas relações conflituosas judiciais serão mediadas por máquinas formatadas com formulários de composições generalistas, sem maiores especificidades ou colores de grandes garantias. Está errado? Não. O mundo mudou, e a virtualização de tudo veio para ficar. Implica em dizer que o tempo das relações desequilibradas, baseadas em brigas insufladas por ego, birra, crenças limitantes e outros artifícios da personalidade humana, não terá vez. Cabe ao ser humano realmente crescer e se reinventar, tornar-se adulto o suficiente para, com autorresponsabilidade, escolher os caminhos certos sem devaneios, sem querer ganhar mais do que o outro de forma exacerbada, e, assim, caminhar para menores conflitos. Do contrário, se encontrará com uma máquina, que não o atenderá plenamente!
Por óbvio que a implementação de fórmulas cada vez mais virtualizadas de solução afastará os equilibrados do Judiciário e colocará os birrentos na posição inovadora de ter que “adultecer”, e assim amadurecer a tal ponto que possa solucionar seus conflitos internos, sem ter que trazê-los ao Judiciário, pois se os trouxer não conseguirá de fato ter suas expectativas atendidas. Neste caminho, os condomínios terão uma ótima oportunidade de trabalharem suas comunidades de forma efetivamente humana, onde os prédios não sejam somente lugar de entrada e saída de pessoas que nunca se falam, onde o emprestar uma xícara de café volte a ser real, onde uma idosa possa ser cuidada por todos, e até seus animais em situação de vulnerabilidade possam ter substitutos na sua ausência ou morte de seus donos. A experiência me tem mostrado que um prédio onde são feitas reuniões assembleares preventivas de litígios, que são conduzidas sob o olhar da filosofia sistêmica, quase sempre se transforma numa grande catarse, onde o fim é revelador e tranquilizador, e a surpresa é solução dos problemas de forma amena e tranquila.
As escolhas de um bom síndico passarão, antes de chegarem ao Judiciário, por reuniões preventivas condominiais, feitas sob um olhar sistêmico, onde a oportunidade de solução extrajudicial será muito mais efetiva do que a de uma decisão judicial formatada por uma máquina. Deixemos as máquinas para os birrentos, irascíveis e amantes da beligerância e do desequilíbrio das relações.
A dica de hoje é: melhor uma xícara de café emprestada do vizinho do que não tomar café porque a padaria está fechada.
Gracilia Portela é advogada condominialista sistêmica e presidente da ABJFSis – Academia Brasileira de Justiça e Filosofia Sistêmica.