Decidi ser síndica! E agora?

Em 2016, a síndica do condomínio em que moro se mudou, e alguns moradores sugeriram que eu me candidatasse para o cargo. Aceitei o desafio, até então algo totalmente novo em minha vida. Mas sendo bacharel em Direito, com especialização em Direito Civil, Processual Civil e Direito do Consumidor, e naquele período gestora comercial em uma grande seguradora, considerei que ser síndica se tratava de tarefa compatível, por estar acostumada às metas arrojadas e à gestão de recursos dos clientes. Então, em assembleia apresentei meu projeto para o condomínio, minha estratégia para atingimento das metas citadas, e fui eleita por unanimidade. “Sou síndica! E agora?…”

Dei início à nova e desafiadora trajetória em minha vida. Posso dizer que me transformei pessoal, emocional e profissionalmente.

No primeiro mandato, sem dinheiro disponível na conta corrente e fundo de reserva insuficiente, precisei gerar taxa extra para reforma do telhado, troca das válvulas de pressão de água e manutenção corretiva do elevador que não previa peças no contrato de prestação. Precisei mostrar, com muito embasamento aos moradores, todas as necessidades reais que eram urgentes. Contratei especialistas para fornecerem laudo para todas as patologias, e estabeleci as manutenções corretivas por prioridade.

Simultaneamente, revisei todos os contratos de prestação de serviço, troquei parceiros, reduzi custos, alguns em até 67%, trazendo uma série de benefícios, como app de controle de acesso gratuito e sistema de monitoramento para um ambiente mais seguro e venda do lixo reciclável que nos gera renda para pequenos gastos e também mantém o café de todos os prestadores.

Juntamente com a nova administradora contratada, revisamos o orçamento, que foi apresentado em assembleia com aceitação unânime. Atualmente o caixa é positivo, com fundo de reserva bem acima do estabelecido pela convenção. Estabelecemos fundo trabalhista e de obras, e temos a liberdade para deliberar o que fazer com os valores disponíveis em conta corrente.

Hoje, reeleita por três mandatos no condomínio que moro, e com o conhecimento e casos de sucesso, me qualifiquei e me tornei síndica profissional. Mudei de profissão, atualmente tenho a minha empresa de gestão condominial, mantendo o foco na gestão financeira com avaliação criteriosa do orçamento de cada condomínio, analisando sua realidade, bem como suas necessidades. Busco e mantenho parcerias sólidas e confiáveis e estabeleço as prioridades que serão cumpridas ao longo do mandato, ainda que situações inusitadas aconteçam. Daí a necessidade do plano diretor e manutenção preventiva.

Mantenho relação transparente com os condôminos, sempre lançando mão da boa comunicação em todos os canais disponíveis. Estabeleço os horários para atendimento, disponibilizo canais para sugestões e reclamações e sou clara com as questões que envolvem urgência ou emergência e atuação do síndico.

Afirmo que a sindicatura é para pessoas com perfil proativo, automotivado, para quem gosta de desafios, saiba e goste de lidar com o público, se posicionando e sendo também bom ouvinte, organizar, delegar e distribuir tarefas, com criatividade e inovação. Tudo isso cabe ao síndico, seja profissional ou orgânico.

Diante de tantos desafios, através de processo árduo na busca de conhecimento, mas também diante de tantas transformações satisfatórias em minha vida pessoal e carreira, com toda a bagagem adquirida, busquei atuar mais diretamente nas questões que envolvem o dia a dia dos síndicos e me tornei membro ativo e atuante na Diretoria da Associação dos Síndicos do Vale do Paraíba e Litoral Norte (Asspro), que volta esforços para levar conhecimento e subsídio aos síndicos que buscam as melhores alternativas para sua gestão, bem como o fortalecimento da classe e da capacitação dos síndicos, especialmente aqueles que são moradores, ou orgânicos, pois muitos se encontram sozinhos diante do desafio da gestão condominial.

Esse foi meu relato. Espero que traga a você, leitor, esperança e motivação. Um forte abraço!

Mônica Holmo é síndica profissional, bacharel em Direito especializada em CPC, Civil e Código de Defesa do Consumidor, pós-graduanda em LGPD e Compliance. Membra da Diretoria da Asspro.