Linguagem como instrumento para reduzir os conflitos nos condomínios

Regras? Mais regras? A vida já não é complicada e restritiva o suficiente sem regras abstratas que não levam em conta nossa situação única e individual? É com essa reflexão que o Dr. Norman Doidge, psiquiatra e autor de O cérebro que transforma, iniciou o prefácio do livro Doze Regras para a Vida, best seller internacional, escrito por Jordan Peterson, psicólogo clínico canadense e professor de psicologia da Universidade de Toronto. E, é também com base nela que eu gostaria de convidar o leitor a compreender a conexão existente entre a aplicação de uma das regras criadas por Peterson, Regra 10: Seja Preciso no que Diz, como meio eficiente de reduzir os conflitos nas relações condominiais. 

Ao abordar a importância da linguagem, Jordan explica que o mundo é muito complexo; repleto de objetos e situações. Por este motivo, como mecanismo de defesa, o nosso cérebro apreende apenas a utilidade daquilo que está sendo observado. É o que acontece, por exemplo, quando olhamos para um notebook. Nós identificamos a utilidade do equipamento e, não, o conjunto de peças que o compõe.

Na linguagem não é diferente. Com a mesma precisão que o nosso cérebro filtra as informações do ambiente, registrando apenas o que é relevante naquele momento, deveremos escolher de forma precisa as palavras que contextualmente designarão aquilo que pensamos, já que a tendência natural do interlocutor será acessar a memória na tentativa de adequar a situação atual à outras já vividas. Assim, considerando que a história de vida de cada um de nós é complexa e muitas vezes marcada por emoções negativas, a chance de o interlocutor alcançar conclusões equivocadas ou simplesmente não compreender o que está sendo dito é provável. 

No âmbito das relações condominiais a adequação dessa regra ganha destaque. Basta pensarmos que este é um microuniverso, repleto de pessoas com culturas e hábitos totalmente distintos, tornando-se um ambiente propício para a instauração de conflitos. 

Cientes dessa tendência, a prática da mediação surge como medida capaz de minimizar essa inclinação, já que é um método de resolução de conflitos que passa, necessariamente, pelo estímulo da fala e da escuta, dando a oportunidade para que cada um se posicione. 

Não há outro caminho para o ser humano. Somos sociáveis por natureza e usamos a linguagem como principal ferramenta de comunicação. A fala precisa é a única forma capaz de reduzir os conflitos relacionados com a convivência nos condomínios. Seja preciso no que diz!

Larissa Perroni é sócia do escritório de advocacia Perroni e Pereira, especializado em Direito Condominial e Imobiliário.

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@perroni.pereira