De olho na bike
Cresce o número de casos de furto de bicicletas nos condomínios. Saiba quais cuidados podem ser adotadas para diminuir os riscos
TEREZA ARAÚJO
Elas são as queridinhas dos ladrões. Mesmo com câmeras de segurança, portões eletrônicos e até a presença de porteiros, além do uso de trancas e correntes, as bicicletas são cotidianamente furtadas em condomínios e prédios de todo o Brasil. Por qual razão elas são tão visadas? Como organizar o bicicletário e deixá-lo mais seguro? Quais medidas adicionais de segurança podem ser adotadas por condomínios e também no cotidiano e nos hábitos dos moradores? Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com atuação em órgão público e na iniciativa privada, Teresa Araújo conversou com a REVISTA DOS CONDOMÍNIOS sobre o tema.
“Desde o começo da pandemia, as pessoas passaram a usar mais as bicicletas como meio de transporte e até mesmo para trabalho, realizando entregas. Um meio de transporte barato, individual e mais seguro, sendo uma forma de se proteger contra a contaminação pelo coronavírus nos meios de transporte público sempre lotados. Consequentemente, o número de roubos e furtos dentro e fora dos prédios nas grandes cidades teve um aumento considerável. O comércio de bikes furtadas é atualmente maior que o de celulares. Estimulado pela facilidade de venda e de mercadorias sem notas fiscais ou outros meios que atestem a procedência do bem. Vender uma bike roubada é fácil. Bicicletas não têm números de série, nem qualquer outro sistema de controle de procedência, além da nota fiscal”, explica ela, também síndica profissional e gestora predial.
Com o número maior de bikes em circulação, muitos condomínios tiveram que reformular o bicicletário para melhor atender seus moradores, agora com o intuito de evitar o pior. “Organizar um ambiente é planejar o uso do espaço. A primeira fase dos projetos da arquitetura nasce de análises dos perfis dos usuários. Um bom planejamento deve abranger o futuro, ou seja, deve prever o uso no futuro, ou como será o uso daqui a certo período de tempo. Afinal, quando se projeta uma construção, ela deve se manter atual por certo tempo. Hoje, a tecnologia pode ser grande aliada na segurança. Com a implementação de portaria remota, é quase certo o uso de controle de acesso, câmeras e fechaduras eletrônicas também nos bicicletários. Com essa explicação pode parecer uma tarefa simples, mas é de vital importância o auxílio de um arquiteto no planejamento do layout também do bicicletário.”
A especialista lembra que, em geral, o que leva uma pessoa a optar por morar em condomínios são a comodidade, o sossego e, principalmente, a segurança. Sendo assim, é de vital importância que, neste último aspecto, seja promovido o treinamento dos colaboradores e compartilhadas dicas de segurança também com os moradores. “Não adianta o condomínio investir em tecnologias de segurança e monitoramento, barreiras físicas, como grades, muros e cercas, ou treinar seus colaboradores e seus moradores darem a chave de sua casa a um estranho ou liberar acesso a quem pouco se conhece. A maior dica de segurança é falar pouco da sua vida a estranhos e não autorizar a subida de alguém que não se conheça. O ladrão é, acima de tudo, um oportunista esperando a hora certa de agir, com o menor esforço. Planejar um bicicletário seguro, assim como qualquer outro espaço, é impor barreiras para evitar a entrada indevida de pessoas”, resume Teresa.
Alessandro Marchetti, morador de Porto Alegre (RS), nos conta sua experiência com o furto de bicicletas em seu condomínio. “Na madrugada de 31 de agosto deste ano, às 2h15m da manhã, um homem pulou o portão e entrou pela cerca elétrica. Ele sabia que não estava ligada, pois eles costumam testá-las. Passando a cerca, quebrou o portão de dentro para acessar as garagens do térreo. Para sair bastou fazer força contra as portas de tranca magnética. Foram levadas três bicicletas. Duas neste ato, e mais uma pouco depois, às 6h30m. O bairro Menino Deus possui algo como uma trilha de ‘cracudos’, que passam os dias atrás dessas oportunidades. São sempre os mesmos indivíduos, que são intocáveis por serem considerados ‘vítimas’ da sociedade. Existe até grupo nas redes sociais para compartilhar as ocorrências do bairro”, descreve.
Ele conta que buscou, com os prédios e comércios vizinhos, o acesso a imagens das câmeras, mas todos disseram que o mesmo havia ocorrido com eles também este ano. E quase todos estavam com suas câmeras desligadas. “Estamos mudando o síndico, que nos deixou três semanas sem cerca elétrica para ‘economizar’. Também estamos orçando a instalação de tranca chamada solenoide nas portas e trava automática nos portões de garagem. Todos mecânicos, ligados a tags de acesso que já temos. Além disso, queremos contratar o serviço de uma empresa local que monitora 24 horas e atende presencialmente qualquer ocorrência. E, por enquanto, ficamos mesmo no prejuízo. Apesar da negligência do síndico, que nos deixou sem sistema de segurança, eles não falam em ressarcimento.”
Alessandro Marchetti afirma que em valores atuais, se as bicicletas fossem novas, custariam, em média, R$ 3 mil. “O total seria, então, de R$ 9 mil, sendo R$ 6 mil as minhas duas, mais uns R$ 3 mil a terceira, que era de outra moradora”, lamenta ele, que também fala do amplo mercado para as bicicletas usadas. “Qualquer traficante com local estabelecido se torna receptador de itens furtados ou roubados. Os viciados em crack sabem que, quando são pegos, nada acontece com eles. É um negócio perfeito para esses dois agentes. O viciado troca seu item roubado por crack, um trabalho que leva minutos para ele, e o traficante paga com quantias quase simbólicas. As bikes, em si, têm um apelo especial dado seu valor geralmente alto e à facilidade de obtenção pelo criminoso, junto da garantia de não ser responsabilizado.”
Mas quais medidas adicionais de segurança podem ser adotadas por condomínios e também no cotidiano e nos hábitos dos moradores? “Agora, no nosso caso, vamos instalar um sistema redundante que tranca mecanicamente a porta e os portões de garagem. Será contratada uma nova empresa de vigilância, que virá ao prédio no caso de as regras serem violadas, como um portão abrir sem o uso de uma tag de morador, que significa que houve arrombamento. Todo aparato de segurança será interligado à empresa de monitoramento que recebe um chamado automático e controla o funcionamento de todos os aparelhos online. Somado a isso, a empresa terá acesso às nossas câmeras para confirmar a ocorrência caso os sistemas a identifiquem”, resume o analista de negócios de TI, com formação em Marketing.
Em tempo: há no mercado empresas especializadas que oferecem diferentes modelos de bicicletários especialmente desenvolvidos para condomínios, como os de parede, suspenso, em espiral, vertical tipo armário, U invertido, paraciclo e de chão. Fundamental é investir em cadeados e correntes de segurança, tomando o cuidado de imobilizar as partes estruturais e móveis da bike. O ambiente, além do monitoramento das câmeras, deve contar com boa iluminação, para inibir a ação dos criminosos. Sua instalação deve ser debatida em assembleia para aprovação dos moradores e escolha do modelo mais adequado às necessidades. E devem ser definidas regras de uso, para preservar a organização e segurança do espaço.
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