Desafios do síndico profissional na atualidade
Profissão passa por diversas mudanças à medida que funções evoluem
Diversas profissões não são mais o que eram há alguns anos. Seja porque a atividade mudou ou sofreu o impacto de novas competências, rotinas e tecnologias, seja porque o próprio perfil das pessoas vem mudando de acordo com as gerações, pois cada uma tem características próprias do ponto de vista comportamental.
Isso não é diferente no meio condominial, onde a figura mais importante também vem passando por mudanças substanciais: o síndico. Mas, será que os condôminos e moradores tem a exata noção do tamanho das responsabilidades que recaem sobre essa função?
Conversamos com Franciso Egito, presidente da Comissão de Direito Condominial da OAB-Niterói e diretor do Grupo Francisco Egito que atua no meio condominial, e ele apresentou uma visão para o meio condominial em 2022.
“O condomínio começa a ser visto não como apenas a casa das pessoas, mas como organização social que requer administração, contabilidade e que precisa de uma visão profissional. Não adianta mais colocar como síndico um faz-tudo, como que realiza pequenos reparos”, disse.
Com os sistemas de gestão e carências de um condomínio ficando cada vez mais sofisticados, esse profissional precisou evoluir junto com o que está ao seu redor, e a tarefa não é fácil. A otimização e internet das coisas no meio condominial exige um preparo cuidadoso, seja por meio da automação predial, dos novos modelos de entrega de delivery e do controle de acesso à informação.
“A tecnologia impõe uma série de mudanças no condomínio, como a identificação de pessoas que entram e saem, o uso de aplicativos e ainda talvez tenhamos drones realizando entregas, o que será um desafio extra para o síndico”, afirmou.
E esse preparo, sem dúvida, está sendo testado durante a pandemia da Covid-19. Com os moradores ficando mais tempo dentro de seus apartamentos, muitos síndicos precisaram renunciar àquilo que era convencionalmente aceito e usaram táticas novas, buscando se aproximar dos condôminos e fazendo com estes se colocassem no lugar uns dos outros.
“Não adianta ter um escritório pequeno que realiza apenas tarefas burocráticas, é importante ter uma administradora que conte com profissionais multidisciplinares, já que o condomínio envolve profissionais da área da Administração e da Contabilidade, entre outras, inclusive adotando métodos alternativos para solução de conflitos”, completou.
O especialista avalia também que o síndico tem como grandes desafios a prestação de contas e como ela deve ser feita de maneira transparente, além da contratação de profissionais que possam exigir um pouco mais monetariamente para que seus serviços sejam feitos, e a própria gestão das pessoas.
Primeiramente, o fator da prestação de contas está diretamente ligado às pessoas, que estão ficando mais tempo em suas residências. Com os condôminos mais presentes no dia a dia do condomínio, o síndico não pode se dar ao luxo de esconder ou mentir a respeito de informações pertinentes. Além disso, precisa fazer mais. Está muito bem documentado que as empresas fornecedoras de água e luz cobram mais do que realmente foi entregue, por isso, o síndico precisa lutar pelo bem- -estar de todos que ali moram e reivindicar aquilo que, de fato, é o certo a ser cobrado.
Quanto a contratar profissionais para resolverem assuntos pendentes no condomínio, normalmente, o síndico conta com auxílio em diversas áreas, especialmente naquelas que necessitam um conhecimento to técnico que não seja de seu domínio, como um engenheiro, por exemplo. O gestor precisa servir de ponte entre este prestador de serviço e os moradores, afinal, se o trabalho for de confiança, geralmente, o valor será de acordo com aquilo que foi apresentado, por isso, os condôminos precisam entender que, para que não haja mais problemas em determinado setor, não há outra saída: é necessário realizar esse investimento.
Por fim, todo síndico precisa ser “PhD” em gestão de pessoas. Lidar com crenças diversas e estilos de vida ainda mais diferentes não é uma tarefa fácil e, para isso, o responsável pela gestão condominial precisa estar atento a inúmeros fatores para não ferir o coletivo ao pensar no singular. Há problemas novos na relação entre moradores, situações que não ocorriam no cotidiano de duas décadas.
Francisco Egito menciona o caso dos aplicativos de aluguel de imóveis, como o “Airbnb”. Caso o condomínio já tenha sido palco (ou não) de situações que estão totalmente acima do aceito pelas convenções do local, o mesmo pode proibir que proprietários aluguem seus imóveis por temporada, mas caso o ambiente esteja apto para receber locatários, é de suma importância que estes sejam orientados pelo síndico a respeito do número de hóspedes na unidade, de acordo com suas características e tamanho. E isso está diretamente ligado ao bem-estar de quem mora ali 365 dias do ano, porque o síndico precisa garantir que, quem está apenas de “passagem”, não transforme o andar ou bloco numa bagunça.