Descarte de mobílias: quem tem paciência?

Livrar-se de móveis nunca é tarefa fácil, mas você pode fazer muito mais do imagina

INGRID LUCENA E THERESA ARAÚJO

Um desafio constante para quem mora em condomínios é o fator descarte de mobiliário, porque, como não existe uma legislação que possa englobar todos os edifícios residenciais, isso vai da convenção interna de cada um. Invariavelmente áreas da garagem ou aqueles quartinhos de serviço desocupados acabam virando verdadeiros depósitos de entulho. E isso pode acabar gerando algumas dores de cabeça tanto para quem está se desfazendo daquele sofá velho, por exemplo, como para quem trabalha naquele condomínio ou até mesmo para o síndico.

Por isso, conversamos com duas síndicas que contam como o gestor e o condômino devem agir nessas situações. Primeiramente, Ingrid Lucena aponta o que muitas pessoas sequer pensam: o primeiro passo pode ser doar o item, afinal, quantas vezes não nos deparamos com esses objetos em ótimas condições, mas que são simplesmente abandonados até serem recolhidos pela primeira entidade que passar ali? “Ao identificar a necessidade de descarte de algum móvel o primeiro passo sempre será tentar fazer uma doação a alguém que esteja precisando, dentro do próprio condomínio, ou externo, caso não consiga, o ideal é entrar em contato com o cata-treco do município ou alugar um transporte particular para que seja feita a retirada”, afirmou.

Contudo, caso isso não seja possível e o móvel realmente precise ser realocado, é preciso ter cuidado, afinal, normalmente não são itens de tamanho pequeno, estamos falando de poltronas, mesas, camas, colchões, guarda-roupas ou um sofá. O condômino não pode deixar o móvel onde bem entender, e Ingrid completa que o morador que descumprir essa regra pode ser multado.

“Sim com certeza! Em nosso regulamento interno, temos uma cláusula onde diz que é proibida a permanência de volumes de qualquer espécie deixados pelos condôminos, nas áreas comuns do condomínio. Há alguns condôminos que acham que, por serem donos das vagas de garagem, podem manter esses tipos de objetos por lá temporariamente. Porém, as vagas são de uso exclusivo para guarda de veículos, em nosso regulamento interno, também temos uma cláusula que cita essa regra. Agora, no caso de deixar os móveis, sejam eles desmontados ou inteiros do lado de fora do condomínio, corre-se o risco de o condomínio ser multado, e para isso também temos uma cláusula no regulamento interno, que diz que, qualquer dano causado, o morador responsável deverá reembolsar o condomínio das despesas em que tiver incorrido.

Por outro lado, Theresa Araújo, outra síndica que também é craque no assunto, diz que é possível fazer muito mais com esses itens que são jogados fora. Ela comenta que todo material descartado onde atua como síndica pode ser encaminhado para ONGs ou colaboradores daquele mesmo condomínio, o que se assemelha bastante com o primeiro passo apontado por Ingrid. Ela, inclusive, dá um nome para isso. “É o que chamo de ‘ligar as pontas do círculo’. O que não serve mais para mim serve para outro. De móveis que estejam muito deteriorados, usamos a madeira dele para o projeto de reflorestamento que temos no condomínio: ‘O plantar.’ Um estrado de cama nas nossas mãos vira um belo balanço. Bicicleta vira um clássico enfeite de plantas. Geladeiras, máquinas de lavar e afins seguem o caminho da reciclagem nas cooperativas de catadores que vêm ao prédio rotineiramente recolher o material”, explica.

Essa atitude altruísta mostra como o síndico pode ir além para garantir o bem-estar de todos aqueles que estão no seu “campo de atuação”, mas, além disso, é preciso manter um controle daquilo que está saindo. Ingrid comenta que as regras que existem para conduzir as práticas dos condôminos também são aplicadas aos móveis do próprio condomínio, sendo a única diferença a programação já feita pelo síndico, sempre mantendo a transparência, ou seja, informando aos condôminos. Ela também nos informou quem é o responsável por realizar essa coleta, e disse que a tomada decisão vem de dentro.

“Uma vez que seja disponibilizado pelo município algum programa de coleta e descarte de móveis usados, a coleta e o transporte ficam sendo responsabilidade do município, mas isso não isenta o condômino de procurar informações a respeito desse programa, como dias de recolhimento, armazenagem correta em local adequado e indicado pelo município, calçada pública ou via. Uma vez que não haja programas relacionados a esse tema, fica sendo responsabilidade do condômino”, disse.

Por fim, ainda seguindo o tema da transparência, ambas comentam da importância de manter um inventário com todos os processos para que possa prestar as contas sempre que solicitado. Tereza ainda completou sobre a importância de ter esse documento.

“Tenho um livro de inventário na administração para controle. Temos poucos itens no condomínio, e, caso seja necessário fazer a troca, esta deverá ser feita por algum motivo. Geralmente é feita porque quebrou, aí faço o registro fotográfico e descarto. Busco, conforme a necessidade, comprar um novo de igual qualidade”, conclui.

Dica para doação

Exército da Salvação: O Exército de Salvação é uma instituição centenária, fundada em 1865 e atuando no Brasil desde 1922 com unidades de atendimento a crianças em situação de risco, projetos educacionais, programas de capacitação profissional, lares para idosos, entre outros. É uma das mais respeitadas instituições de caridade do mundo. A instituição recebe doações de móveis em bom estado, brinquedos, eletrodomésticos, eletrônicos, livros, roupas, utensílios, itens de informática, entre outros, e os retira no local. Todas as doações são enviadas para bazares beneficentes, cujo resultado financeiro é investido na sua obra social. Para doar, ligue: 4003-2299.