ESG aplicado à gestão de condomínios:

O que o síndico e o condomínio têm a ganhar?


Taís Marcon

ARevista dos Condomínios, em sintonia com as práticas de sustentabilidade, foi ouvir, por meio de seu repórter, a especialista em ESG, Taís Marcon, Síndica Condominialista (profissional). Formada em Biologia e mestre em microbiologia agrícola e do meio ambiente, Taís Marcon é síndica profissional há 10 anos e professora. É ela quem chamamos para nos ensinar um pouco sobre o conceito aplicado à gestão de condomínios.

Repórter da Revista dos Condomínios – Como se dá o desenvolvimento dos conhecimentos em ESG?

Taís Marcon – Para aplicar o ESG, temos que pensar na Matriz de Materialidade. E uma matriz bem sucedida deve considerar todas as partes interessadas (stakeholders) em um condomínio: condôminos, colaboradores, prestadores de serviços, visitantes, síndico, comunidade em que está inserido. Isto é, todos que de alguma forma interagem com o condomínio. Pensando nesse contexto todo, condomínio e partes interessadas, é possível realizar uma boa governança ética, transparente, humanizada, participativa e estratégica; que é fundamental. Isto é, um síndico que consiga pensar na gestão do condomínio levando em conta todos esses fatores e a partir da matriz, é imprescindível e um diferencial, cada vez mais, para um bom gestor condominial. Para realizar uma boa gestão é necessário que o síndico planeje e pense em soluções, a fim de implantar estratégias para melhor gerenciar seu condomínio em diversas temáticas: social, ambiental e econômico (governança).

Repórter RDC – Você poderia falar um pouco sobre o gerenciamento de resíduos e sua importância?

Taís Marcon – Os gerenciamentos de resíduos e recursos são importantes para o meio ambiente, numa visão ampla, e, para a economia do condomínio, especificamente. Muitas cidades têm como terceiro maior gasto, os resíduos (ficando atrás de saúde e educação, como é o caso de Porto Alegre). Então, caso implante um programa de gerenciamento, fazendo um processamento adequado dos resíduos, estamos auxiliando outros tantos projetos, diminuindo a demanda dos municípios, gerando renda, tornando os condomínios mais sustentáveis. Lixo só é lixo quando está no lugar errado, se estiver no lugar certo é resíduo; e volta para o ciclo da economia.

Repórter RDC – Em resumo, se bem implantado, um programa de gerenciamento de resíduos é um investimento que propicia retorno para o bolso e para o meio ambiente. Então todos ganham, inclusive o meio ambiente onde vivemos, nossas cidades e, consequentemente, nossa qualidade de vida e bem-estar, correto?

Taís Marcon – Com certeza. Existem vários estudos empíricos de meta análises que comprovam uma correlação positiva quando implantado ESG nas empresas com melhor desempenho econômico.

Repórter RDC – E em relação ao condomínio? O processo de gerenciamento pode ser feito pelo síndico e os funcionários somente ou precisa envolver mais alguém?

Taís Marcon – Todo esse processo é possível se síndico, colaboradores e condôminos estiverem alinhados ao conceito ESG e, por isso, é tão importante falar, passar a informação, passar conhecimento.

Repórter RDC – Em sua opinião, qual é a maior dificuldade para se implantar um projeto que envolva o conceito ESG?

Taís Marcon – A maior dificuldade é a informação, o pré-conceito que já está enraizado em algumas pessoas. Fazer a desconstrução de determinadas ideias e construir novos conceitos nas pessoas, é um processo muito lento.
Contudo, implementar ESG requer uma ação coordenada com todas as partes interessadas, para garantir que toda a cadeia (zelador, prestador de serviços, síndicos etc.) esteja alinhada com os mesmos valores.

Repórter RDC – E como se enfrenta tal dificuldade?

Taís Marcon – São sementes plantadas, atitudes diárias, informações no grupo do condomínio que são passadas, palestras realizadas, papos de corredor. Hoje em dia, as informações estão mais presentes e a sustentabilidade, ESG, Compliance estão em alta; e isso facilita o processo. Contudo, uma equipe motivada e engajada, no processo, auxilia nesse enfrentamento.

Repórter RDC – Mas, com certeza, essa não é a única dificuldade, correto?

Taís Marcon – Outra dificuldade é a falta de um orçamento para realizar projetos sustentáveis. Quando não tem custo para o condomínio, quando conseguimos fazer projetos com objetos reciclados, por exemplo, é mais fácil.

Repórter RDC – E quando não se consegue tal orçamento, o jeito é trabalhar o convencimento via palestras, comunicações. Trabalhar de forma a estabelecer um entendimento que crie maioria dentro do condomínio? Podemos dizer que essa é a melhor saída?

Taís Marcon – Com certeza, a informação é extremamente importante. Se por um lado a falta de recursos financeiros é um desafio do ESG, a falta de informação também faz parte desse desafio. Os principais motivadores para implantação de ESG é a reputação, aumentando cada vez mais a percepção de empresas, condomínios, pessoas, sobre o impacto positivo dessas ações. Quem não gostaria de morar em um condomínio mais sustentável, que consegue reduzir seus impactos no meio ambiente, que revertem seus recursos? Afinal, ações sociais e ambientais em um condomínio, valorizam o patrimônio, o investimento dos proprietários.

Repórter RDC – Você já implantou um projeto de composteira em um de seus condomínios. Qual o aprendizado que ficou para você e o zelador, o Sérgio Vieira Marquísio, que acabei conhecendo e entrevistando?

Taís Marcon – O aprendizado com a composteira é entender que a matéria orgânica é digerida e transformada em composto orgânico. Trata-se, na verdade, de reciclagem da matéria orgânica. Restos de verduras, cascas de frutas são colocadas na composteira e digeridas por minhocas. No processo da digestão, adubo e biofertilizantes são gerados e são utilizados no próprio condomínio, evitando o uso de produtos químicos. Se produzido em maiores quantidades, o adubo pode ser doado para prédios vizinhos, aproximando a comunidade, ou quem sabe, até ensacados e vendidos. Porque não?!!
A utilização de composteira tem muitos outros benefícios, como: reduzir a quantidade de resíduos enviados aos aterros e diminuir a produção de gases do efeito estufa (contribuindo com a diminuição de transportes aos aterros e emissão de gás metano). Uma composteira doméstica, em casa, pode diminuir o cheiro do lixo; consequentemente diminuindo a possibilidade de insetos. Voltando ao condomínio, onde adotamos a composteira, não temos custos com adubo ou fertilizante; e as folhagens estão lindas.

Repórter RDC – E a questão da interação?

Taís Marcon – A questão da interação e participação é importante. Algumas condôminas, já com mais idade, participam, levando seus restos de verduras e cascas de frutas, é um sentimento de pertencimento, de auxílio, do fazer a diferença, a colaboração.

Repórter RDC – Existem outros projetos no seu radar?

Taís Marcon – Projetos? Existem muitos, como auxiliar na conservação de biodiversidade local (cuidar das plantas e animais); projetos de adequação às alterações climáticas (telhados e paredes verdes); mitigação do efeito estufa; gerenciamento de resíduos (conscientização, planos de gerenciamento de resíduos); uso eficiente das nossas águas (estratégias para reduzir consumo; aproveitamento e reuso de águas). Podemos pensar, também, em: Eficiência energética (sistema de iluminação eficiente, dispositivos de controle, geração local de energia renovável); utilização de materiais sustentáveis (cuidar da procedência, composição e dar o destino correto), melhorar mobilidade (bicicletário), acessibilidade (rampas) e humanização em todos os sentidos (projetos de integração e convivência harmoniosa entre condôminos).

Repórter RDC – Se as cidades contassem com uma PPP (Parceria Público Privada) seria a solução? E quais outras soluções, você indicaria? Em relação aos condomínios, os projetos que você citou, alguns não me parecem exigir investimentos muito altos e, caso contassem com o incentivo do estado e municípios, seria fantástico!

Taís Marcon – O ESG surgiu com o propósito de investimentos. Empresas alinhadas ao conceito tinham maior probabilidade de captar investidores devido aos menores riscos sociais, ambientais e de governança. Hoje, já vemos que o incentivo às práticas está acontecendo; como é o caso das prefeituras incentivarem ações sustentáveis – concedendo descontos na cobrança de impostos.

Repórter RDC – Quais as cidades precursoras na implantação do IPU sustentável no Brasil?

Taís Marcon – A cidade pioneira foi Curitiba, mas outras cidades possuem o desconto: Maringá, São Paulo, Taubaté, São Bernardo, Florianópolis, Camboriú, Curiatu, Goiânia, Manaus, Rio, Salvador e outras, que não cabe aqui citar. Em Porto Alegre a lei entra em vigor em janeiro de 2024. Serão consideradas 7 dimensões para ações sustentáveis e avaliadas através de pontuações. Quanto maior a pontuação, maior o grau de sustentabilidade das edificações, maior o desconto concedido pela prefeitura.
Muitas edificações já possuem ações suficientes para solicitar o desconto. Outras necessitam implantar projetos ou processos. Com uma avaliação criteriosa das dimensões através de profissionais qualificados, há possibilidade de protocolar o pedido na prefeitura.
Esse trabalho estou realizando com a parceria de duas profissionais da área ambiental: Nanda Drebes e Silvia Marcuzzo. Montamos uma empresa especificamente para auxiliar síndicos nesse processo de inclusão de ações sustentáveis em condomínios. Seja para solicitar o desconto, seja para implantar o ESG para valorizar os condomínios e transformar nossa cidade.

Repórter RDC – Fale um pouco sobre a parede verde – ou como gosto de me referir: Parede viva.

Taís Marcon – A parede verde, assim como o telhado, são projetos que reduzem o efeito das ilhas de calor, melhorando as condições climáticas além do embelezamento. A agenda prioritária, dentro dos 17 ODS, é o combate às alterações climáticas onde temos um compromisso global. Tanto paredes como telhados verdes podem alcançar saldos de carbono positivos, armazenando mais do que as emissões provenientes de edificações.

Repórter RDC – Como alternativa, existem telhados que possam absorver o calor do Sol, transformá-lo em energia solar e ainda evitar onda de calor no meio ambiente? Penso nisso, para o caso de o telhado verde ser uma alternativa muito cara para alguns condomínios.

Taís Marcon – O telhado verde não tem um custo muito alto, uma vez que são plantadas mudas de plantas. Agora as placas solares já tem um custo mais elevado, contudo é uma fonte de energia limpa e renovável. Hoje, já temos fazendas de energia que produzem energia limpa através de placas fotovoltaicas e turbinas eólicas. Essa energia é introduzida na rede e distribuída para os consumidores. Alguns condomínios, grandes consumidores, já estão adotando essa prática mais barata e mais sustentável. O setor energético brasileiro está se preparando para a Abertura do Mercado Livre de Energia, em 2024, para todos os consumidores do grupo A. 

Taís Marcon

Formada em Biologia e mestre em microbiologia agrícola e do meio ambiente. Taís Marcon é síndica profissional há 10 anos e professora de pós-graduação em gestão condominial, na área de Sustentabilidade e ESG. Engajada, leva conhecimento e ações sustentáveis para condomínios e mercado imobiliário.

 

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