Gestão da água é um assunto muito importante na agenda ambiental
Aumento nos investimentos visando a soluções ambientais para o tratamento e reuso da água pode mitigar os problemas causados pela crise hídrica e reduzir custos
Diogo Taranto
Água é um bem muito precioso e que vai se tornar cada vez mais escasso em todo o planeta. O correto manejo desse recurso pode fazer toda a diferença para as comunidades. Dados oficiais são alarmantes: segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso à água potável, sendo que a agricultura consome na irrigação 73% da água. O restante vai para a indústria (21%) e o consumo doméstico (6%). Cerca de 1,2 bilhão de pessoas (35% da população mundial) não têm acesso à água tratada e 1,8 bilhão de pessoas (43% da população mundial) não contam com serviços adequados de saneamento básico.
Esses números assustam, e precisamos pensar em como fazer o melhor uso dos recursos hídricos. Trazendo para a realidade dos condomínios edilícios, estamos falando de grandes comunidades que acabam fazendo um consumo às vezes exagerado da água e sem nenhuma gestão consciente.
O Grupo Opersan, uma das empresas pioneiras em reuso, dessalinização e tratamento de águas e efluentes no País, prevê investimentos fortes este ano em função do estímulo dado à agenda de ESG (Environmental, Social and Governance – traduzido do inglês Ambiental, Social e Governança).
O Brasil está atrasado na gestão da água, mas existem fatores favoráveis ao investimento em soluções ambientais para o tratamento de águas e efluentes, a fim de mitigar os problemas causados pela crise hídrica, e com o apoio da cadeia industrial impulsionada pelo Marco do Saneamento.
O Grupo Opersan pretende investir no mercado privado de saneamento cerca de R$ 20 milhões, entre construção, renovação e fornecimento de sistemas de tratamento de águas, efluentes e reuso. “Existem projetos em nosso pipeline que podem dobrar essa quantia”, revela Diogo Taranto, diretor de Desenvolvimento de Negócios. Segundo ele, o cenário global de emergência climática exposto na Cop26, em Glasgow (Escócia), e as dificuldades consequentes da crise hídrica têm feito com que os empresários brasileiros encarem a gestão da água com mais seriedade.
“Muitas indústrias ainda descartam efluentes de forma irregular. Contudo, a realidade imposta pela legislação e pressão social têm gerado repercussão positiva. Já vivemos um clima favorável para que o empresariado brasileiro abrace a gestão do tratamento de água e dos efluentes com a responsabilidade que a lei e boas práticas exigem”, comenta Taranto.
Para ele, a Lei 14.026, que atualiza o Marco Legal do Saneamento Básico, apesar de referir-se especificamente ao avanço de serviços de tratamento de água e efluentes no setor público, trará inúmeros benefícios para o setor privado, com reflexos positivos para economia, meio ambiente e sociedade. “O público vai se ajustar, e o privado não poderá permanecer à margem”, lembra.
Gestão da água nos condomínios
De acordo com a CNN, levantamento feito por uma administradora de condomínios residenciais aponta que o consumo de água aumentou mais de 10% em 2021 nos condomínios, saltando o consumo médio para cerca de 800 m³, sendo que cada metro cúbico (m³) equivale a mil litros de água. Além disso, o mesmo levantamento apontou que o gasto individual de cada apartamento saltou cerca de 16m³ de 2020 para 2021, um aumento de 14% no consumo de água, e que o gasto médio por apartamento, que em 2020 era de mais R$ 95, passou em 2021 para mais de R$ 107.
Diante desse cenário, investir em gestão de água e efluentes traz benefícios institucionais para a instituição, que ganha credibilidade e confiança de todos os seus steakholders, além de vantagens financeiras com a economia nas despesas relacionadas aos recursos hídricos a partir da utilização da água oriunda de outras fontes que não sejam das concessionárias.
Se bem trabalhada, a economia, em determinados casos, pode superar até 50% do consumo total, calcula o Grupo Opersan.
Condomínios e centros comerciais também se beneficiam ao adotar o reuso na gestão de suas operações. Para se ter uma ideia, um projeto de reutilização chega a substituir 100% da água utilizada em um sistema de refrigeração (maior ponto de consumo), e que em períodos de elevada temperatura chegam a representar entre 60% e 70% da conta de água do empreendimento. O sistema de reuso também diminui os transtornos causados por eventuais racionamentos, além de garantir uma água de excelente qualidade.
Por dentro do ESG (ou ASG)
Se você é síndico ou gestor condominial e está atento às boas práticas, quer sempre se atualizar com as melhores técnicas, é importante conhecer um pouquinho mais de ESG. Esse acrônimo foi cunhado em 2004 no relatório do Pacto Global da ONU, que tem por objetivo engajar empresas e organizações na adoção de princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.
A sigla vem do inglês Environmental, Social e Governance. No Brasil, também nos referimos a ela como ASG (Ambiental, Social e Governança). Saiba o que significa cada um desses termos:
Environmental ou Ambiental – são práticas da empresa ou entidade voltadas ao meio ambiente, como aquecimento global; emissão de gases poluentes como o carbono e metano; poluição do ar e da água; desmatamento; gestão de resíduos; eficiência energética; e biodiversidade; entre outros.
Social – diz respeito à responsabilidade social e ao impacto das empresas e entidades em prol da comunidade e sociedade como o respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas; a segurança no trabalho; salário justo; diversidade de gênero, raça, etnia e credo; proteção de dados e privacidade; satisfação dos clientes; investimento social; e relacionamento com a comunidade local.
Governance ou Governança – está relacionada às políticas, processos, estratégias e orientações de administração das empresas e entidades como a conduta corporativa; a composição do conselho e sua independência; as práticas de anticorrupção; a existência de canais de denúncias sobre casos de discriminação, assédio e corrupção; o respeito ao direito dos consumidores, fornecedores e investidores; a transparência de dados; entre outros.