Salão de jogos: espaços inovadores ou mais do mesmo?
Tradicionais, eles acabam valorizados como espaços de convivência. E buscam apresentar novidades e atrativos distintos para diferentes tipos de público
MARCELA COUTO e
ANNA CAROLINA CHAZAN
O salão de jogos nem sempre é bem aproveitado nos condomínios residenciais – na verdade, muito em função de a maioria dos projetos estar desalinhada em relação às novas necessidades dos moradores. Assim, construtoras e incorporadoras pensam em novos formatos, mais modernos e sofisticados, para resgatar esse espaço de convivência. Os destaques ficam por conta dos empreendimentos de alto padrão, que têm investido cada vez mais em salas exclusivas para momentos de lazer. Já neste período pós-pandemia de Covid 19, quais são as tendências do mercado? Há como resgatar a funcionalidade desses espaços, quase sempre ‘fechados’, de convívio social?
“O salão de jogos tem sido uma área de destaque nos novos empreendimentos imobiliários, e construtoras e incorporadoras têm pensado em novos formatos. Trata-se de um excelente espaço de convívio durante o ano todo, independentemente do clima – faça sol ou faça chuva, no frio ou calor. Para desenvolver um ambiente encantador, confortável e funcional, deve- -se analisar as características, o perfil dos moradores, considerando a cultura local. Uma estratégia é combinar espaços distintos capazes de agradar a diferentes públicos, como um salão voltado para adolescentes e outro para adultos. Eles têm oferecido videogame, mesas de pingue-pongue e sinuca, totó, jogo de dardo, xadrez, mesas para carteado, isto é, baralho e pôquer”, lista Marcela Couto de Oliveira, diretora da Elvas Empreendimentos e engenheira civil formada pela Uerj, que atua no mercado imobiliário há 27 anos.
Segundo Marcela, para que tudo funcione bem no condomínio, regras claras são necessárias. Por isso, é importante estabelecer normas de convivência e funcionamento desse espaço. As regras para utilização do salão de jogos devem abranger, no mínimo, quem pode utilizá-lo (moradores e/ou visitantes), o horário de funcionamento, idade mínima e as condutas proibidas. Esses são requisitos fundamentais que devem estar descritos no Regulamento Interno do condomínio. Além disso, recomenda-se a instalação de câmeras que poderão supervisionar os ambientes, além de responsabilizar o usuário por danos a qualquer tipo de equipamento.
Advogada especialista em Direito Imobiliário, gerente geral de uma grande administradora do Rio de Janeiro e professora do Secovi-Rio Anna Carolina Chazan observa o movimento do mercado. “De fato, é notável a crescente demanda por empreendimentos imobiliários com mais itens de atratividade, que vão além das unidades autônomas, recaindo sobre as partes comuns grande peso de apelo para ambientes mais despojados e estimuladores de convívio coletivo. A sala de jogos, por exemplo, me parece ser uma das tendências nesse sentido, somando-se a espaços contíguos, anexos ou integrados, onde o morador pode dispor de um lounge e salão gourmet com frigobar, música ambiente e ambiente climatizado”, relata.
Anna diz que tem percebido outras tendências, como as mesas de pôquer e futebol de botão, além de um espaço gamer destinado a jogos eletrônicos para a garotada, bem como outras mesas já usadas nos espaços atualmente, como as de sinuca, totó e pingue-pongue. Além disso, para aproveitamento de espaço, a mesa multiuso, que permite quatro jogos em um, também tem sido um dos itens de atração nos condomínios.
“Para tais novidades incorporadas ao uso coletivo, há de se ter, consequentemente, a criação de normas para estabelecer o uso consciente dos espaços. Portanto, entendo ser fundamental que os condomínios estabeleçam horário de funcionamento, tempo de uso por unidade condominial, limite de idade, permissão ou não para convidados, previsão de multa pelo descumprimento das normas, proibição de condutas que poderão danificar os equipamentos, definição do modus operandi do uso da sala, com regras para agendamento, entrega das chaves, vistoria de entrega e recebimento do espaço, entre outros pontos. Creio que tais normas contribuem para manter os espaços atrativos e harmonizados com os interesses e dentro das condições de razoabilidade e manutenção, que são essenciais à coletividade”, acredita Anna Carolina Chazan.
Bruno Serpa Pinto
Áreas de convivência estão em alta, mas não necessariamente para jogos
Mas há quem veja tendência de baixa nas apostas das construtoras nesses espaços. Bruno Serpa Pinto é corretor de imóveis há 20 anos, advogado, especializado em liderança e e- -commerce na Ohio University, e atualmente exerce o cargo de CEO da SPIN Inovações Imobiliárias. Também é presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) Niterói, pela terceira vez. “Esses espaços estão cada vez mais em desuso, muito por conta dos jogos digitais. Hoje, acabam convertidos em espaços gamers, em sua grande maioria, enquanto outros espaços têm sido extremamente valorizados por conta da pandemia. Assim, estão em alta salas de coworking, de reuniões, recebimentos de mercadorias e até delivery de alimentos, além das minilojas de conveniência dentro dos condomínios, com venda de snacks e bebidas.
Para Bruno, o período de isolamento social, em função da Covid-19, gerou, sim, maior interesse para espaços de convivência, mas não exatamente a demanda por ambientes destinados a jogos. “Um artigo crescente em interesse são as piscinas aquecidas ou com correnteza, além das academias com equipamentos mais modernos”, diz ele.
Mas também é preciso lembrar de outra consequência da pandemia, que foi a queda do rendimento de muitas pessoas, cujos orçamentos ficaram mais apertados. “Por isso, muitos condôminos pensam, sobretudo, no controle dos gastos, e buscam condomínios mais eficientes, com a automação da portaria e serviços de concierge, trazendo melhor retorno para investidores e baixo custo condominial para os moradores”, conclui.