Condomínios Tech: O futuro é agora
Não é nenhuma novidade que estamos vivenciando um ritmo cada vez mais acelerado de inovações tecnológicas de todos os tempos, com mudanças e impacto em todas as esferas sociais – e econômicas. Todos os dias, praticamente, temos acesso a novas ferramentas para resolver todo tipo de problemas e necessidades. A tecnologia trouxe consigo a possibilidade de as empresas terem, ao seu dispor, alternativas de expansão infinita. Como exemplos, temos o Google, a Amazon, a Uber e o Ifood, apenas para citar alguns recursos em sites, plataformas e aplicativos e, assim, obter uma rápida noção do que estamos falando. Diante desse panorama, a grande pergunta que fica é: nós estamos tirando proveito dessas tecnologias para fazermos com que o dia a dia da gestão condominial seja mais assertiva, mais rápida, transparente e que chegue a ser uma ferramenta de decisão, por exemplo? Para responder essas e outras perguntas, a Revista dos Condomínios foi ouvir os especialistas em gestão e tecnologia dedicada a condomínios, respectivamente, Thiago Fossati e Vagner Lessa.
Repórter da Revista dos Condomínios – Fossati, você poderia dar alguns exemplos de praticidade aplicada ao dia a dia da gestão de condomínios por meio da tecnologia?
Thiago Fossati – Por exemplo, em relação a alguns acompanhamentos simples, que podem ser realizados sem muita complexidade e até sem custos, como: registro mensal de custos com as concessionárias de água e energia. Ao longo do ano você terá um resultado real e um balanceamento sazonal de gastos e custos financeiros.
Repórter da Revista dos Condomínios – Ah, sim. Em relação aos fornecedores de serviços em geral, como é o caso do gás de GLP.
Thiago Fossati – Sim. Pode ser possível realizar o acompanhamento também da quantidade de metros cúbicos (m3) das recargas de gás para os condomínios que ainda utilizam o GLP. Se o condomínio tem rede elétrica de alta tensão, como está variando o consumo da demanda mensal? Está consumindo a mais do que é contratado? Estes relatórios estão na própria conta mensal e podem ser acompanhados mês a mês.
Repórter da Revista dos Condomínios – E esses dados sendo transferidos para uma planilha permite dar transparência aos gastos na hora de apresentar os balancetes.
Thiago Fossati – Sim. Estes pequenos exemplos de acompanhamentos podem ser facilmente realizados por meio de planilha eletrônica. Desejando analisar melhor, podem ser feitos os acompanhamentos em sistema Power BI (Microsoft). Um bom gerente administrativo pode facilmente desenvolver e implantar estes processos no condomínio.
Repórter da Revista dos Condomínios – Hoje já existem alguns aplicativos que oferecem um acompanhamento quase que em tempo real dos gastos do condomínio.
Thiago Fossati – Sim. Indo um pouco mais além, pode ser contratado pelo condomínio, um aplicativo no qual se possa, diariamente, acompanhar as leituras de consumo de água (se tiver poço artesiano, pode também ser acompanhada a vazão diária), os níveis de consumo de gás e o consumo diário de energia.
Repórter da Revista dos Condomínios – Alguns acompanhamentos simples podem ser realizados sem muita complexidade e até sem custos, não é mesmo, Wagner Lessa?
Vagner Lessa – Sim. Como exemplo, podemos citar o registro mensal de custos com as concessionárias de água e energia. Ao longo do ano você terá um resultado real e um balanceamento sazonal de gastos e custo financeiro. Acompanhamento da quantidade de metros cúbicos (m3) das recargas de gás (para os condomínios que ainda utilizam o GPL).
Repórter da Revista dos Condomínios – Se o condomínio tem rede elétrica de alta tensão, é possível saber como está variando o consumo da demanda mensal? Se está consumindo a mais do que é contratado?
Vagner Lessa – Sim. Como já comentado, esses relatórios estão na própria conta mensal e podem ser acompanhados mês a mês. Estes pequenos exemplos de acompanhamentos podem ser facilmente realizados por meio de planilha eletrônica. Desejando analisar melhor, podem ser feitos os acompanhamentos em Power BI. Um bom gerente administrativo pode facilmente desenvolver e implantar estes processos no condomínio.
Repórter da Revista dos Condóminos – E caso se fosse um pouco mais além na tecnologia, pode-se implantar no condomínio, por exemplo, um aplicativo onde diariamente se possa acompanhar as leituras de consumo de água, os níveis de consumo de gás e o consumo diário de energia?
Vagner Lessa – Sim. Inclusive se tiver poço artesiano, pode-se também ser acompanhada de vazão diária. Outro tipo de aplicativo existente, mas ainda pouco utilizado, são as ferramentas que monitoram os níveis de água dos reservatórios superiores e inferiores, tirando a responsabilidade da portaria monitorar estes procedimentos manualmente e trazendo tranquilidade no abastecimento.
Repórter da Revista dos Condomínios – E os controles de acesso?
Vagner Lessa – A tecnologia mais abrangente é a de controle de acesso automatizado, com reconhecimento que pode ser: facial, biométrico e/ou por TAGs; ou ainda, a troca do modelo orgânico de portaria, como conhecemos, pela portaria remota. Percebem que as possibilidades passam a ser quase infinitas e que atendem desde os pequenos condomínios até empreendimentos maiores e mais complexos?
Repórter da Revista dos Condomínios – Agora, voltando a você, Thiago. Se poderia pensar em Internet das Coisas (IoT) para condomínios, para permitir monitoramentos simples de máquinas? A tecnologia já barateou esse ponto, dando condições econômicas de essa aplicação chegar aos condomínios?
Thiago Fossati – Sim, isso já é uma realidade, porém, ainda pouco divulgada e/ ou conhecida pelos síndicos e administradores. Existem aplicativos, como foi dito anteriormente, que monitoram os níveis de água dos reservatórios superiores e inferiores, emitindo alertas para a portaria com informação de algum tipo de problema; por exemplo, na boia elétrica, evitando problemas no abastecimento do condomínio ou de alguma torre, caso seja um grande empreendimento. Esse tipo de aplicativo pode ser instalado em mais de um celular (portaria, síndico, gerente, etc.).
Repórter da Revista dos Condomínios – Qual a vantagem?
Thiago Fossati – A vantagem primordial é retirar da portaria essa obrigação e responsabilidade em ficar se deslocando da guarita para monitorar estes procedimentos. Além de não atrapalhar o porteiro, traz maior tranquilidade no abastecimento.
Repórter da Revista dos Condomínios – E o controle de acesso? Poderia falar um pouco?
Thiago Fossati – Claro. As tecnologias mais abrangentes como controle de acesso automatizado, com reconhecimento facial, biométrico e/ou por TAGs (etiquetas RFID) também já são uma realidade nos condomínios, com muitas empresas fornecendo esse tipo de serviço que funcionam plenamente.
Repórter da Revista dos Condomínios – Você gostaria de citar mais algum detalhe?
Thiago Fossati – Ainda falando sobre aplicativos, os apps, pode-se adotar chatbots (espécie de sistema que simula um ser humano na conversação com as pessoas) para responder perguntas frequentes dos condôminos, como por exemplo: qual o horário da coleta de lixo ou limpeza do hall; como agendar um evento no salão de festas ou até coisas mais específicas dependendo de cada condomínio.
Repórter da Revista dos Condomínios – Ah, e tem a portaria remota, também, como já mencionado. Você é a favor do serviço?
Thiago Fossati – Sim, totalmente a favor. Inclusive já trabalhei em uma empresa do ramo. É uma temática recorrente e tem dividido opiniões dentro do ramo condominial essa questão das portarias virtuais ou remotas. Uma corrente defende positivamente a adoção da tecnologia para substituir o recurso humano. Por outro lado, há outros que condenam veementemente a adoção dessa tecnologia. Fato é que este serviço tecnológico funciona muito bem e atende ao principal critério elencado quando esta ideia vem à tona: corte de despesas.
Repórter da Revista dos Condomínios – Corte de custos em um condomínio é algo importante, até para fazer frente a alguma inadimplência pontual de algum condômino.
Thiago Fossati – Quando falamos em empresas comerciais e de serviços, é sabido que dois custos são sempre os maiores nas planilhas orçamentárias: folha de pessoal e gastos com concessionárias (energia, água e telefonia). Quando tratamos de condomínios, podemos adicionar o custo de gás encanado às despesas com concessionárias. Neste caso, a adoção da tecnologia para manter a portaria presente, mas de forma remota, atende ao objetivo de redução de despesas e assertividade do controle de acesso, com registro (em áudio, vídeo e logs de sistema) permanente das pessoas e veículos que entram e saem do condomínio. Este é um ramo de serviços que cresce de forma contínua no Brasil.
Repórter da Revista dos Condomínios – Você tem alguma referência de alguma instituição conhecida para essa informação?
Thiago Fossati – Então, de acordo com a ABESE (Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança), em 2024, o Brasil superou a marca de 12 mil portarias remotas instaladas no Brasil.
Repórter da Revista dos Condomínios – E o que dizer das câmeras de segurança com IA (inteligência artificial)?
Thiago Fossati – Estas ainda não são populares no ramo condominial, mas trazem uma inovação que será muito bem-vinda ao setor. Trata-se de equipamentos contendo algoritmos de aprendizado podendo “tomar decisões” com base em dados coletados, sendo capaz de analisar ambientes, detectar objetos e identificar 25 comportamentos suspeitos.
Repórter da Revista dos Condomínios – E voltando à questão da (IoT), tem muitos serviços possíveis de serem oferecidos, não?
Thiago Fossati – Dentro do âmbito de (IoT) (internet das coisas), podemos destacar a automatização de iluminação, sensores de detecção de fumaça e gás e armários inteligentes com leitor de biometria e portas automatizadas. Esse tipo de armário está ligado em wi-fi , notificando o morador quando ele recebe uma encomenda armazenada em um desses dispositivos, registrando a data e a hora de recebimento da encomenda.
Repórter da Revista dos Condomínios – E a captação de energia fotovoltaica, com as placas solares, e a redução de custos para os condomínios?
Thiago Fossati – A energia fotovoltaica é a grande aposta do momento no mercado condominial. Como já falamos antes, energia é um recurso muito caro em despesas condominiais. Podemos utilizar a tecnologia também para sustentabilidade condominial adotando a captação de energia solar, através da instalação de paineis solares e sistemas de captação e reutilização de águas pluviais. Percebe que as possibilidades passam a ser quase infinitas e que atendem desde os pequenos condomínios até empreendimentos maiores e mais complexos?
Repórter da Revista dos Condomínios – É… a tecnologia está se tornando barata e cada vez mais cotidiana.
Thiago Fossati – Um fato a ser observado quando falamos sobre tecnologia, seja em qual setor ela seja empregada, é que devemos atentar para o conceito básico de que só existe inovação se trouxer um resultado prático e tangível, do contrário, não existe motivo para troca de sistemas ou investimentos. A inovação deve resolver problemas ou atender às novas necessidades de um público ou nicho de mercado.
“Hoje, as administradoras de condomínios e vários de seus clientes dão preferência a realizar uma assembleia no formato virtual ou híbrido, para ter mais pessoas presentes, dar celeridade em decisões e principalmente para atingimento de quórum em assembleias”
Repórter da Revista dos Condomínios – Sim, como promover a comodidade.
Thiago Fossati – Podemos citar como um exemplo prático dessa afirmação, a plataforma de comunicação para reuniões, o Zoom. Este sistema foi criado em 2011 na Califórnia, mas só se popularizou no Brasil em 2020, face à pandemia de Covid-19. Hoje, as administradoras de condomínios e vários de seus clientes dão preferência a realizar uma assembleia no formato virtual ou híbrido, para ter mais pessoas presentes, dar celeridade nas decisões e principalmente para atingimento de quórum em assembleias. Esse tipo de sistema de reuniões virtuais – seja qual plataforma for – é indispensável para várias empresas em seu dia a dia corrido.
Repórter da Revista dos Condomínios – Para um investidor, que comprou uma unidade em um condomínio, ele pode lançar mão de uma plataforma que está sendo cada vez mais utilizada, o Airbnb.
Thiago Fossati – Uma plataforma que funciona muito bem e é utilizada bastante no ramo condominial. O Airbnb Inc. é uma empresa também americana, fundada em 2007 na Califórnia. Não vou entrar aqui no campo de licitude ou proibições de acordo com convenções jurídicas. O serviço de aluguel por temporadas em flats, condomínio verticais, condomínios horizontais e estúdios vem crescendo a cada ano. Este serviço de tecnologia trouxe consigo a possibilidade de os proprietários poderem perfazer uma renda extra com seus imóveis.
Repórter da Revista dos Condomínios – Otimizando o investimento, digamos assim.
Thiago Fossati – Com certeza. Ora, mas isso não era possível antes? Sim, era. Mas não com a escala e rapidez que a plataforma trouxe e também não era possível antes ter o seu imóvel mostrado e disponível para tantas pessoas. Essa integração só foi possível com a tecnologia criada para esse fim. Antes nós poderíamos chamar um táxi. Hoje nós temos dezenas de motoristas à disposição para as mesmas corridas e com preços módicos. Podemos concluir que sim, a inovação traz resultados práticos. Porém, precisamos entender que nem tudo são flores e não vivemos num mundo perfeito. Apesar de termos praticamente tudo ao alcance das mãos (ou dos dedos), quando falamos em tecnologia e seus resultados, não podemos deixar de fora da equação, a variável mais importante: pessoas. O ser humano não está alheio a tudo isso. Muito pelo contrário. Somos parte mais que interessada, somos demandantes dos serviços e a cada dia, temos um “…e se…”
Repórter da Revista dos Condomínios – Você se refere às dificuldades de utilização dessas tecnologias de uma maneira geral?
Thiago Fossati – O calor em nosso sapato no ramo condominial, infelizmente, trata-se de pessoas qualificadas para agir, interagir e comandar esse universo digital. Acredito que muitos aqui já tenham se perguntado se o seu porteiro vai saber utilizar um computador na portaria para realizar um cadastro de visitante, ou fazer uma consulta (pesquisa) no cadastro, cadastrar uma TAG, operar um quadro elétrico automatizado ou abrir um chamado via plataforma de prestadores de serviços.
Repórter da Revista dos Condomínios – A dificuldade vai aparecer em algum momento…
Thiago Fossati – Ah, caberá ao gestor condominial ou o gerente administrativo assumir para si a responsabilidade de treinar essas pessoas e gerir recursos. Mesmo com tudo que listamos acima sobre tecnologia e resultados, a habilidade humana é única e insubstituível. A capacidade de pensar, criar e explorar soluções e tarefas, nenhuma tecnologia por mais avançada, será capaz de substituir. A pergunta que deixo é: o seu condomínio, já está se preparando para ser um condomínio tech?
Thiago Fossati
Administrador de empresas com especialização em Planejamento e Gestão Organizacional. É administrador condominial e gerente administrativo predial.
Vagner Lessa
Fundador da Villa, criada em 2012. Empreendedor do segmento de tecnologia para gestão condominial. A empresa cresceu exponencialmente e hoje o aplicativo atende mais de 10.000 residências, com soluções práticas e eficientes para gestores condominiais e moradores.