Comunicação Não Violenta: como essa técnica pode ajudar os síndicos na gestão de seus condomínios?
A gestão eficaz de um condomínio demanda não apenas o domínio de habilidades técnicas associadas à contabilidade, direito, administração, mas também à capacidade de se comunicar assertivamente
Os síndicos enfrentam situações rotineiras de discordância e deliberação para tomada de decisão frente aos mais diversos assuntos. Sabemos que essas situações comuns são muitas vezes simples. No entanto, em outras são complexas e desafiadoras, como: disputa por vagas de garagem, sujeiras de pets em local inapropriado, barulho excessivo por determinados moradores, permissão de animais de estimação em áreas comuns (como elevadores, por exemplo).
Mas sabemos que ocorrem, também, como citado antes, casos mais graves como: perseguições, assédio moral entre os moradores e, até mesmo, com algum tipo de abstenção ou participação do síndico (e/ou dos funcionários do condomínio), posturas indevidas por parte de funcionários ou prestadores de serviços, como: falta de transparência na gestão financeira e administrativa, contas a pagar, prazos a cumprir e contratos em andamento.
Para lidar com essas e outras questões, é importante que o síndico saiba como conduzir a comunicação e estabelecer um ambiente harmonioso, sempre se pautando na saúde, sossego e segurança condominial. O síndico, figura central nesse contexto, precisa equilibrar tanto as chamadas soft skills (termo utilizado para definir habilidades comportamentais, competências subjetivas difíceis de avaliar, digamos que é o pilar da comunicação) quanto as hard skills para promover uma convivência harmoniosa e eficiente. Para conhecer mais sobre o assunto, a Revista dos Condomínios enviou um repórter para ouvir a advogada Aline Mangueira, especialista que, há anos, utiliza a técnica no dia a dia da gestão dos condomínios sob a gestão dela. Portanto, na prática.
Repórter da Revista dos Condomínios – No cenário condominial, quais são as habilidades mais importantes?
Aline Mangueira – Considero três como as mais importantes. São elas:
1. Empatia: desenvolver a capacidade de compreender as necessidades e sentimentos dos condôminos e praticar a escuta ativa para demonstrar interesse genuíno nas preocupações dos moradores.
2. Inteligência emocional: Gerenciar emoções próprias e alheias de forma construtiva, e lidar com situações tensas mantendo a calma e a objetividade.
3. Comunicação Não Violenta (CNV): empregar linguagem que expresse observação, sentimento, necessidade e pedido. Evitar julgamentos e críticas, promovendo um ambiente de diálogo aberto.
Repórter da Revista dos Condomínios – Você citou como importante as hard skills. Elas são compostas por qual tipo de habilidades?
Aline Mangueira – As hard skills são compostas pelas competências práticas dos profissionais e ajudam a garantir a execução das funções. As principais delas para o setor condominial, em geral e, principalmente, para a gestão de condomínios, são:
1. Domínio da Legislação Condominial: conhecimento profundo das leis e normativas que regem a administração condominial. Comunicar efetivamente as regras e regulamentos para os condôminos.
2. Gestão Financeira: comunicar de maneira transparente os aspectos financeiros do condomínio. Apresentar relatórios claros e detalhados sobre despesas e receitas.
3. Negociação e Resolução de Conflitos: aplicar técnicas de negociação para alcançar acordos benéficos. Comunicar decisões de forma a minimizar conflitos e promover entendimento mútuo.
Repórter da RDC – O que nos oferece a Comunicação Não Violenta como técnica para a resolução de conflitos?
Aline Mangueira – Antes de qualquer coisa é importante dizer que a Comunicação não violenta também é conhecida como comunicação compassiva, comunicação colaborativa, comunicação respeitosa e comunicação consciente – que é como a CNV, por vezes, é conhecida. Cito esses nomes para sabermos, exatamente, de qual técnica estamos falando. Ela oferece uma abordagem valiosa para a resolução de conflitos e promoção de um ambiente de convivência saudável.
Repórter da RDC – Mas para ser possível solucionar eventuais impasses qual seria a abordagem por parte do conhecedor da técnica de CNV?
Aline Mangueira – Ao aplicar a CNV o síndico precisa observar sem julgamento; ser imparcial e, mesmo assim, evitar generalizações que possam gerar mal-entendidas. Ao comunicar seus sentimentos e necessidades, saber fazer de maneira clara e honesta e saber, também, estimular os condôminos a expressarem suas emoções e demandas, porque sempre haverá uma consideração útil a ser considerada.
Repórter da RDC – Em relação às necessidades, que é o que ocorre corriqueiramente, como expressá-las de forma a ajudar a conciliar as diversas visões e perspectivas?
Aline Mangueira – É necessário que o comunicador de uma necessidade, de um ponto de vista, seja positivo e específico na formulação de pedidos e, sempre, no sentido de buscar soluções colaborativas que atendam às necessidades das partes envolvidas.
Repórter da RDC – Você poderia citar alguns cuidados na hora de se comunicar?
Aline Mangueira – Sim. Têm alguns cuidados que devemos ter na comunicação, como: clareza e objetividade, evitar ambiguidades e garantir que as mensagens sejam compreendidas por todos. Outras: ser direto ao comunicar informações importantes; respeito à privacidade zelando pela confidencialidade em questões sensíveis; comunicar mudanças que possam afetar a privacidade dos condôminos com antecedência.
Repórter da RDC – Com esse objetivo, me parece que os canais de Comunicação desempenham um papel fundamental para evitar eventuais
conflitos, correto?
Aline Mangueira – Correto. E com esse fim é imprescindível utilizar canais de comunicação diversificados, utilizando diferentes meios de comunicação, como: murais, e-mails, assembleias e grupos virtuais e garantir que todos os condôminos tenham acesso às informações – e, principalmente as mais relevantes e estratégicas.
Repórter da RDC – Então, é certo dizer que a CNV exige o conhecimento de diversas habilidades?
Aline Mangueira – Correto. É imprescindível que a comunicação seja assertiva no contexto condominial. Ela exige um equilíbrio entre habilidades interpessoais e competências técnicas. O síndico, ao aprimorar suas soft skills e hard skills, contribui significativamente para a construção de um ambiente harmonioso e bem gerido, refletindo diretamente na qualidade de vida dos condôminos.
Repórter da RDC – A ambiência é fundamental para a qualidade de vida e uma boa gestão pode ser decisiva para este resultado.
Aline Mangueira – A administração de um condomínio, embora ofereça inúmeras vantagens de convivência, também pode ser palco de conflitos. Para um síndico, a habilidade de gerenciar essas situações de maneira eficiente é crucial para manter um ambiente harmonioso.
Repórter da RDC – As dicas, citadas acima, são uma série de ações importantes a serem tomadas para tornar mais fácil a gestão dos conflitos – ou evitá-las. Contudo, e em relação às soft skills do síndico, propriamente ditas?
Aline Mangueira – A gestão de conflitos em condomínios demanda paciência, habilidades de comunicação e uma abordagem estruturada. O síndico desempenha um papel crucial nesse processo, sendo um facilitador na construção de soluções.
Repórter da RDC – Em suma, a proposta de utilização das ferramentas ligadas à CNV podem auxiliar os gestores condominiais na mitigação de conflitos internos.
Aline Mangueira – Desenvolvendo o poder de escuta – por parte do síndico – como forma de criar um ambiente de empatia, confiança; para ser possível pensar em estratégias e resolver problemas entre condôminos.
Repórter da RDC – Podemos esperar que a CNV pode oferecer uma eficácia para a gestão de um condomínio?
Aline Mangueira – A utilização da Comunicação Não Violenta pode trazer grandes benefícios para a gestão condominial, como a redução de conflitos, a resolução de disputas de forma mais rápida e efetiva, a promoção da convivência harmoniosa entre os condôminos e a melhoria da imagem do condomínio perante a comunidade. Ao adotar essas dicas, é possível transformar os desafios em oportunidades para fortalecer a coesão e a qualidade de vida no condomínio. A habilidade de gerir conflitos é uma marca distintiva de uma administração condominial eficaz e voltada para o bem-estar de todos os moradores.
Repórter da RDC – Analisando a eficácia da técnica da CNV é possível afirmar, então, que ela torna a resolução dos conflitos mais breve, o que na prática, é ótimo para aquele gestor condominial que possui mais de um condomínio para gerir ou que tem, como objetivo, aumentar o número de condomínios a serem geridos.
Aline Mangueira – Com toda certeza. E com resultados mais sólidos ao longo do tempo, pois esse gestor será capaz a desenvolver uma cultura de colaboração e estímulo à deliberação e, portanto, a composição das perspectivas.
Aline Mangueira S. de Almeida OAB/RJ 197.237, advogada imobiliária e do direito condominial, Membro da Comissão de Direito Condominial da Subseção da Barra da Tijuca- RJ. Especialista em advocacia trabalhista empresarial, contratos, direito bancário, recuperação tributária. Perita Judicial no TJGO e TJRJ. Professora e Palestrante.a e do CBEPJUR. Tem atuação como presidente e membro de conselhos profissionais e associações na área condominial e imobiliária (OAB, CRC, ABA, CRECI e outros).