Direito Sistêmico em Condomínios

Condôminos com dificuldades de cumprir ordens e regras

No mundo condominial conhecemos bem os dramas dos três “C”, ou seja, coincidentemente, os grandes problemas em condomínio, começam com a letra “C”: carro, criança e cachorro. Poderíamos ficar aqui discorrendo enormemente sobre os três itens, mas gostaria de trazer aqui um item destes que, na verdade, praticamente englobam os demais.

CRIANÇA – e não falo somente da criança pequena de um metro e vinte centímetros, falo de toda criança existente dentro de nós que não foi curada e nem amada adequadamente, e que, por isso, reverbera características ruins para a sociedade, e portanto para a massa condominial.

Comumente vemos condôminos problemáticos, que têm dificuldades de cumprirem ordens, que têm dificuldades de organizar sua vida, que ouvem som alto, que não põem lixo no lugar adequado, que estacionam na vaga alheia, que leva seus cães sem coleira ao play, e por ai vai! Como tentar minimizar relações desse tipo que invariavelmente transtornam os demais moradores?

Em primeiro lugar, devemos saber que todo condômino com dificuldade de receber ordens teve na verdade, em sua vida toda, dificuldade com autoridades. E não se trata da autoridade de um juiz, policial ou síndico, e sim da autoridade de seus pais, na maioria das vezes da própria mãe. Quando nos deparamos com insubordinação de moradores, estamos na verdade lidando com crianças malformadas, internamente ou, aliás, deformadas no seu íntimo, com características minimamente não ajustadas na ordem familiar deles quando tinham tenra idade, e isso transpassa para sua vida condominial, assim como para todas suas relações.

 

Crianças que por fora são adultos fisicamente são os moradores que mais dão trabalho na massa condominial. Adultos- -crianças que tiveram dificuldades com a mãe, por exemplo, na maioria das vezes têm muita dificuldade de relacionamento social e utilizam-se do modelo escravagista de tratar as pessoas, e querem a todo custo fazer valer a sociedade em que vivem, sua necessidade infantil não resolvida anteriormente com sua mãe, transformando sua comunidade em sofredora de seus anseios. E como solucionar esse drama? Diriam muitos: “não sou psicólogo de condômino”, “ele que faça terapia e se cuide”, por óbvio isso até que ajudaria, mas em tese a vida em comunidade melhoraria sobremaneira se os condôminos, além de se conhecerem internamente, pudessem ter um olhar menos julgador para o dito “problemático” e assim, de certa forma, o conduzisse a outro lugar que fosse o de saúde mental interna.

Estatisticamente, temos que, a penalização ou julgamento, contribui muito pouco para a solução desse tipo de condômino. A solução talvez esteja na condução humana do problema, numa reunião sistêmica condominial, onde se olhasse para as razões desse morador e, uma vez vista a real razão disso e isso ficasse claro para o condômino insubordinado, ele tivesse a oportunidade de rever seu comportamento e assim aquietar seu coração rebelde. Dar consciência ao ser humano de suas habilidades, bem como de suas mazelas, dá oportunidade ao mesmo de rever assim sua forma de agir, e assim, aquilo que parecia sem solução, magicamente se soluciona. Tomar consciência de seu próprio comportamento numa massa condominial faz toda diferença para a solução do problema.

Um bom gestor condominial deve possuir características que transpassem a mera economia de valores ou organização do prédio. Administrar bem de terceiros requer conhecimento pedagógico e cooperativo que levem ao condomínio a paz de convivência. Fica a dica!

Gracilia Portela é advogada condominialista sistêmica e presidente da ABJFSis – Academia Brasileira de Justiça e Filosofia Sistêmica.

gracilia.portela@amoportela.com.br

@graciliaportela

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