Mais um caso: síndica agredida em condomínio de luxo na Barra da Tijuca (RJ)

Agressão aconteceu porque a academia do condomínio estava fechada para manutenção e pintura e o morador não queria sair do local

 
CHRIS ROMÃO

Mais um episódio de agressão a uma síndica chocou o país. Imagens gravadas de circuito interno de TV flagraram o momento em que Dayse de Souza Ribeiro, 56, síndica de um condomínio de luxo Marina Barra Bella, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, levou um violento tapa de um morador que a jogou no chão, tamanha a violência. De acordo com Dayse, a agressão aconteceu porque a academia do condomínio estava fechada para manutenção e pintura, e o morador não queria sair do local.

O caso aconteceu por volta das 19h30 de 30 de agosto, e o agressor foi identificado como Amadeu Ribeiro de Souza Neto. O caso foi registrado como lesão corporal, na 16ª Delegacia de Polícia Civil, na Barra da Tijuca, que investiga o crime. Dayse teve ferimentos no rosto e na boca e fez de exame de corpo de delito. A síndica, inclusive, já fez três registros de ocorrência contra o agressor, por ofensa contra a honra e xingamentos.

Agressão foi flagrada pelas câmeras do prédio

Christiane Romão, psicóloga, síndica profissional, gerente condominial, lamenta que mais cenas lamentáveis como essas vem à tona. “Voltamos a discutir acerca da violência que aflige os nossos colegas gestores e o mercado condominial. De um modo geral e em especial os síndicos dentro dos condomínios, os funcionários, os prestadores de serviços passam por isso todos os dias e os casos não são repercutidos”, exclama.

Para Chris, antes a violência era vista como característica dos grandes conglomerados urbanos, do lado de fora de portões e muros, mas hoje se faz presente também no cotidiano de todos os cidadãos e de forma cada vez mais comum dentro dos condomínios, que, na teoria, deveria ser um ambiente de segurança e paz. “A violência se manifesta de diversas formas, desde a física e até a moral. Porém, a sociedade condominial tem encontrado vários entraves no caminho rumo à solução deste panorama, barreiras estas impostas por um modo de pensar determinista e, muitas vezes, preconceituoso”, analisa.

Segundo a especialista, muitas pessoas acreditam que a violência é fruto da falta de punição e de um pensamento lógico e simplista, argumentando que o condômino que pratica a violência contra o síndico ou colaborador com a justificativa de ter sido privado ou na razão dos seus “direitos“. “Nesse sentido, eles desculpam grande parte da sociedade pelo problema e partem de uma premissa que, se verdadeira, faria de todos os condôminos pessoas violentas em potencial. Atrelar a problemática da violência à justificativa de ter direito é dizer que ela é característica de uma única fatia da população e negar sua responsabilidade tão profunda em viver numa coletividade no qual ele mesmo escolheu. A verdade é que a violência é tão presente em nosso dia a dia que já não apresenta uma face definida, e já não somos capazes de identificá-la tão facilmente”, analisa.

Christiane Romão acrescenta que a banalização midiática tem contribuído nesse sentido, visto que divulga produções artísticas em geral, nas quais o “bem” vence o “mal” por meio de batalha física. “Vence quem for mais forte fisicamente ou financeiramente, aquele que melhor saiba utilizar a força como forma de alcançar a vitória. Deste modo, passamos a ver a violência como forma de resolver conflitos, mesmo que o façamos inconscientemente, e passamos a ignorar a importância do diálogo e do debate civilizado”, critica.

Segundo ela, a solução do problema não é de fácil alcance, visto que envolve questões de respeito e ética, ainda pouco arraigadas no pensamento da sociedade. “Contudo, uma medida eficiente seria a aplicação de penas mais rígidas para quem fizesse uso da violência em qualquer uma das formas que ela é capaz de assumir, devido ao fato de que a impunidade encoraja, muitas vezes, a prática de atos violentos”, sugere.

Dentre os problemas vivenciados, Chris cita a dificuldade de retirada dos condôminos antissociais e o apoio dos demais condôminos que muitas vezes, por medo, não atuam para coibir esses casos. “Outra solução seria difundir, ainda no meio condominial, a importância do diálogo e as implicações da violência, contribuindo para a formação de profissionais mais conscientes e mais unidos! No entanto, não será verdadeiramente eficaz enquanto a sociedade encarar a violência com determinismos e preconceitos, mesmo sabendo que é difícil não nos rendermos à facilidade de culpar as regras que os próprios condôminos escolheram diante de uma assembleia pública e assumirmos uma visão simplista do assunto, assim como é difícil identificarmos com clareza aquilo que nos leva a agir de forma violenta muitas vezes. Somente se adotarmos uma postura realmente objetiva seremos capazes de encontrar soluções práticas e funcionais. O problema da violência dentro dos condomínios se faz urgente, e, enquanto não conseguirmos reverter esse cenário, os gestores condominiais continuarão sofrendo com a violência da falta de regras, com a falta de comunicação e de educação e violências das marcas morais que não se apagam com aplicação de multa! Basta! Os gestores condominiais, assim como os profissionais que atuam na área, exigem respeito!”, conclui.

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