O Síndico está nu

Oano de 2024 mal iniciou e a rotina das Assembleias já está a todo vapor. O Prof. Sylvio Capanema disse certa feita que “a Assembleia de Condomínio era o único lugar que o diabo não mandava representante, pois ia pessoalmente”. Pois bem, na segunda semana de janeiro estive em uma AGE convocada por um quarto dos moradores, que o diabo trouxe consigo o inferno inteiro.
A ordem do dia era: Prestação de contas e apresentação das pastas contendo os gastos e comprovantes da gestão. Um total de  118 condôminos, entre presentes e procurações, quase que “espumando” pela boca quando olhavam para o Síndico. Como de costume sempre questiono o motivo da minha participação e o que se espera de mim em uma AG, detalhe: O Condomínio, na pessoa do Síndico, me contratou para “garantir” que a lei e a Convenção seriam respeitadas.
Em uma reunião prévia (no mesmo dia da Assembleia – a contratação se deu no dia anterior) o mesmo disse que era síndico há 7 anos e que nunca enfrentou resistência e que há 6 meses um “pequeno” grupo de moradores começou a exigir ter acesso às pastas enviadas pela administradora, para verificarem para onde estava sendo destinado o dinheiro de cada um dos condôminos.
Se de médico e louco todo muito tem um pouco e de psicanalista e palhaço cada um tem um pedaço, encontrei naquela figura um misto de tudo, mas uma característica era a mais marcante: a sua calma e tranquilidade era de causar inveja diante daquele cenário extremamente hostil, onde acusações, xingamentos e
gestos que quase chegaram às vias de fato lhe era diretamente e todo o tempo da Assembleia direcionado.
À medida que a Assembleia avançava comecei a reparar que aquele Síndico que estava tão convencido e dono de si foi despindo-se de todo e qualquer argumento que pudesse justificar os seus atos. Tal como o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805 – 1875) que relatou a história de um rei muito severo e vaidoso que não admitia ser contrariado, deparei-me com um Síndico que nunca teve seus atos questionados e o quando teve não soube lidar com as cobranças eis que jamais pensou que tal fato pudesse acontecer.

 

O Síndico não é o Rei do Condomínio tampouco usa uma Coroa sob a cabeça e jamais deve se portar de tal maneira, mas está a serviço de cada um dos Condôminos e que deve gerir da melhor forma o dinheiro de todos.
Os condôminos devem ser muito participantes e apurar o que o Síndico notícia, pois não se esqueçam: Até um relógio parado está certo duas vezes ao dia. Ou como diziam os antigos: “mentira tem perna curta”.

Ramon Perez Luiz. Advogado, Professor e Síndico. Mestre em Filosofia do Direito, Especialista em Direito Imobiliário. Especialista em Mediação. Professor Universitário e do APRIMORA, Secretário Geral Adjunto da Comissão Nacional de Direito Imobiliário da ABA, Diretor da ANACON-RS, Membro da CEX Sul.

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