Verde que te quero ver

Ganhos na qualidade de vida, ambientes mais agradáveis, redução das contas de água e de energia e valorização são alguns dos efeitos da Certificação Ambiental para condomínios

 
Raquel Pires
Daniel Sobrinho

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O que é ser um Condomínio Verde? Quais são os motivos para se viver num lugar assim? Quais as boas práticas e obrigações de um condomínio sustentável? Como o controle de resíduos sólidos, com a coleta adequada para a reciclagem de materiais, redução do consumo de água e de energia elétrica, diminuição das emissões de carbono e uma série de outros benefícios pode valorizar a vida dos moradores e o imóvel ao mesmo tempo? Como obter a certificação formal? A coordenadora do Movimento Lixo Zero Goiás e embaixadora do conceito Lixo Zero na América Latina, Raquel Pires, é quem nos dá as primeiras pistas sobre o tema.

“Um condomínio verde busca melhorar o desempenho ambiental de suas edificações basicamente começando pelos pontos mais comuns, que são: eficiência energética, geração de energia renovável, uso racional da água, seleção de materiais sustentáveis e gestão de resíduos. Para um condomínio ser considerado sustentável, é necessário observar o consumo de água e energia elétrica, a quantidade de resíduos enviados a aterros sanitários e a emissão de CO2, entre outros pontos. A promoção do bem-estar e da saúde, o cuidado com o meio ambiente, a preocupação social e a viabilidade econômica trazem para o condomínio e seus moradores a incorporação dessa cultura no cotidiano. Além de ser um excelente marketing verde para o condomínio, podendo trazer também economia para as contas condominiais, como o IPTU.”

Segundo Raquel Pires, há vários tipos de certificações no mercado, com seus critérios e objetivos distintos. “Essa certificação busca comprovar de forma efetiva a gestão ambiental realizada pelo condomínio, podendo ser usada como objeto para solicitação de IPTUs verdes, ser desenquadrada da lei de grandes geradores de resíduos, entre outros benefícios”, diz a especialista, reconhecida por sua defesa por uma cidade ecologicamente equilibrada, saudável e socialmente justa para o conjunto da população.

Gestor Ambiental graduado em 2017 pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), Daniel Sobrinho atua principalmente como consultor de empresas privadas. Possui experiência no licenciamento ambiental de postos de gasolina. Entre suas atribuições como químico, conferidas pelo CRQ, possui competência para realizar testes de qualidade de ar, água e solo. Atua também na área de Engenharia, dando suporte na criação de projetos voltados para a área de licenciamento ambiental. Ele também aceitou o convite e conversou com a Revista dos Condomínios.

“Para nós, da área de meio ambiente, os condomínios são sempre um foco de atenção especial. Condomínios funcionam como pequenas cidades, geram resíduos em grande quantidade, sólidos e líquidos, que causam impactos ao redor, para a sociedade e para os próprios condôminos. Além dos resíduos, existe também o consumo de água e energia. Então, quando falamos em um condomínio verde, falamos em um conjunto habitacional que invista em tecnologias e adote métodos que possam diminuir o que chamamos de pegada ecológica, que seria basicamente transformar e adequar esse consumo de água e energia e essa geração de resíduos para um modelo sustentável e ecologicamente correto. Isso é ir além das obrigações legais ambientais que já existem e que os condomínios já têm a obrigação de seguir, e adotar práticas ainda mais sustentáveis.”

E não faltam motivos para se desejar morar num local assim. Segundo Daniel, viver em um condomínio verde ou que adote práticas sustentáveis vai muito além de ser um modo de contribuir para um meio ambiente urbano equilibrado. A adoção de modelos sustentáveis e práticas mais ecológicas representa, na verdade, pagar menos no consumo de água e energia. Em resumo, ser sustentável sai mais barato a longo prazo, diminui os custos dos condôminos de forma substancial e pode, inclusive, gerar renda extra para os condomínios. Um condomínio verde também reduz custos e, ainda por cima, lucra com suas práticas. Mas quais são elas?

As obrigações já são estabelecidas por lei numa forma de regular o mínimo do que deve ser feito como, por exemplo, o tratamento do esgoto gerado antes de ir para a galeria pública e o correto armazenamento e destinação de lixo. Mas as práticas de um condomínio sustentável no meio urbano incluem conceitos básicos (veja quadro). É a ação individual de cada um que fará a ação coletiva ser sustentável. E como o controle de resíduos sólidos, com a coleta adequada para a reciclagem de materiais, a redução do consumo de água e de energia elétrica, a diminuição das emissões de carbono e uma série de outros benefícios podem valorizar a vida dos moradores e o imóvel ao mesmo tempo?

“No plano ambiental, todas essas medidas se traduzem em mais qualidade de vida para os moradores, em um local mais fresco e arejado, com mais árvores, mais pássaros e animais que enriquecem o espaço e o tornam mais agradável, em um espaço com menos vetores de doenças como ratos e mosquitos, com ar mais puro e menos elementos particulados, conferindo mais saúde para todos. No plano econômico representa, seguramente, uma economia na ordem de até mais de 50% nos gastos com água e energia, e ainda abre espaço para a venda de resíduos recicláveis e do óleo de cozinha coletado. Em se tratando dos preços de prédios e condomínios verdes, como aponta pesquisa da FGV, há uma valorização direta de imóveis em locais com certificação ambiental e uma redução média de até 25% das taxas de condomínio em prédios verdes”, conta Daniel Sobrinho.

Mas e como obter a sonhada Certificação Ambiental? “Antes, precisamos entender o que é a certificação. De forma simplificada, ela é um atestado ou comprovação de que o condomínio segue uma metodologia ambientalmente sustentável aprovada pelas normas de certificação internacional e nacionais. Existem, no Brasil, algumas empresas que têm competência para emitir um certificado ou selo verde, com um custo associado. Para isso, é necessário contratar uma empresa que seja especializada em execução de Planos de Gestão Ambiental, para que abra um processo com a empresa de certificação cumprindo todos os requisitos e exigências. A certificação é a cereja no bolo, e vai sinalizar para todos que seu condomínio possui eficiência energética, boa qualidade de vida e de arborização, que os resíduos são separados e reciclados e que os condôminos pagam menos nas contas de água e luz”, conclui.

Conheça as práticas fundamentais

Arborização

Condomínios sustentáveis devem aproveitar melhor seu espaço com mais canteiros e arborização, mais plantas e árvores e mais espaços com solo permeável.

Coleta Seletiva

A adoção da coleta seletiva, inclusive de óleo de cozinha. Que pode ser enviada para uma cooperativa de catadores solidária, ou até mesmo vendida para empresas.

Métodos de captação de água

Podemos aplicar sistemas de captação de água de chuva e até mesmo perfurar poços artesianos e reduzir drasticamente o custo com água.

Eficiência e geração energética

Adoção de novas tecnologias e práticas pode reduzir muito os gastos com energia elétrica, como a adoção de painéis fotovoltaicos que atualmente se encontram com preços muito mais acessíveis, os telhados verdes que podem se tornar lindos jardins suspensos e ainda reduzem muito o calor do sol absorvido para os  prédios, e novos modelos arquitetônicos que facilitem a entrada e circulação do ar. Além disso, a troca de equipamentos e lâmpadas por modelos mais modernos e que consumam menos energia, com acionamento inteligente com sensores de presença, faz uma diferença muito grande no consumo final de energia.

Conscientização ambiental

Como tudo na vida, a adoção de boas práticas ambientais é uma questão de educação e de conhecimento. Para isso, é necessário ensinar as pessoas a adotarem práticas mais sustentáveis e, além disso, fazê-las compreender por qual razão elas são necessárias e importantes. Por isso, a adoção de palestras e comunicados constantes entre os condôminos é essencial para que todo o restante do plano de gestão ambiental funcione da forma desejada.

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