A tecnologia como auxiliar na gestão profissional do síndico condominial

Amanda Accioli

Em uma entrevista exclusiva para a Revista dos Condomínios, a especialista em gestão condominial, Amanda Accioli, discute o impacto das inovações tecnológicas no dia a dia dos condomínios. Para a especialista “existem muitos benefícios trazidos por essas mudanças, mas também diversos desafios que os síndicos devem enfrentar para promover uma comunicação e um controle financeiro eficientes” – adverte a especialista. 

Accioli ainda destaca a importância de investir em soluções tecnológicas para lidar com tais obstáculos, além de enfatizar a necessidade de os síndicos se prepararem para enfrentar as demandas futuras. Para tentar ajudar, dá seis (6) dicas para os síndicos “de primeira viagem ou que ainda não estejam certos da conveniência da tecnologia para a gestão da carteira de clientes” – comenta. Diante dessas considerações sobre as transformações tecnológicas nos condomínios, a entrevista a seguir aborda a tendência em direção à automação e sustentabilidade nos condomínios, destacando o potencial de valorização do patrimônio que essas inovações podem trazer.

Repórter da Revista dos condomínios: Hoje em dia, a tecnologia se tornou uma presença constante em nossas vidas, inclusive nos condomínios. Como você vê o impacto das inovações tecnológicas no cotidiano condominial?

Amanda Accioli: Hoje já vivemos uma realidade em que a tecnologia nos acompanha todos os dias, da hora que acordamos até a hora que vamos para cama dormir e nos condomínios não é diferente. Elevadores, central de alarmes, circuito fechado de TV com monitoramento de câmeras, biometria de acesso aos espaços, leitoras faciais para identificação dos condôminos etc, são alguns exemplos que cercam nosso mundo condominial.

Tecnologia: Agilidade para o gestor

As inovações tecnológicas nos condomínios surgiram para facilitar a rotina daqueles que os frequentam, de quem ali trabalham, bem como alavancar a segurança de todos os processos. Condôminos podem interagir com as suas áreas privativas e com as áreas comuns de forma dinâmica, tendo acesso à informação, reservando a churrasqueira, o salão de festas, identificando-se rapidamente na portaria etc.

Ao lado das inovações, há também uma tendência em reduzir o número de profissionais que atuam nos condomínios – os trabalhadores seriam substituídos pela automatização de alguns serviços condominiais – o que promove a diminuição de custos, já que várias quotas condominiais altas hoje em dia, 75% se dá por conta da folha de pagamento do condomínio.

Repórter da RDC: No entanto, com essas inovações surgem desafios específicos. Poderia falar um pouco sobre os desafios relacionados à comunicação e controle financeiro?

Amanda Accioli: Um dos principais desafios é a falta de comunicação eficiente entre moradores, síndicos e administradores. Muitas vezes, as informações são repassadas de forma errada ou não chegam a todos os moradores. Isso pode levar a problemas como falta de pagamento de taxas ou cobrança indevida de serviços.

Outro grande desafio é o controle financeiro do condomínio. Muitos condomínios enfrentam problemas com inadimplência e gastos excessivos, o que pode levar à necessidade de aumentar as taxas ou reduzir os serviços oferecidos. Além disso, é importante garantir que as contas do condomínio sejam sempre equilibradas e que haja transparência nas movimentações financeiras.

Repórter da RDC: Como você acha que a implementação de soluções tecnológicas pode ajudar a lidar com esses desafios?

Amanda Accioli: Para enfrentar esses desafios, é importante investir em soluções tecnológicas que facilitem a comunicação e o gerenciamento das atividades do condomínio. Algumas ferramentas úteis para isso são os apps de gestão condominial.


As tendências

Uma tendência forte é a chamada selfchecking: o próprio visitante se cadastrar sem o uso de um funcionário humano para a sua liberação, mas que para o público com idade mais avançada pode ser um grande desafio e requer estratégia de implantação e treinamento.

Repórter da RDC: Há também uma tendência em direção à automação e à sustentabilidade financeira nos condomínios. Como isso tem impactado a gestão e a valorização do patrimônio?

Amanda Accioli: Não podemos esquecer das tecnologias sustentáveis. Estas vão desde energia solar, o que já é bem comum, até estações inteligentes de tratamento de água, estações de reciclagem e hortas comunitárias, para um ambiente mais equilibrado.

Repórter da RDC: Como essas tecnologias sustentáveis têm impactado na gestão e na valorização do patrimônio?

A sustentabilidade em condomínios já é uma realidade aplicada em diferentes níveis no Brasil. No que diz respeito à utilização da água, há relatos desde condomínios que adotaram a ecolavagem para a limpeza de carros até os que instalaram uma Estação de Tratamento de Águas Cinzas (ETAC), que pega a água utilizada no banho dos apartamentos e a reutiliza para a descarga nas privadas sanitárias.


Tecnologia: Controle mais preciso e ágil

Todo esse repertório tecnológico aumenta a valorização do patrimônio, o que impacta diretamente na gestão financeira. Além disso, o controle é mais preciso, devido a enorme quantidade de informações geradas pelos sistemas, possibilitando maior organização e transparência em toda a gestão.

Nós síndicos, quando familiarizados com a tecnologia, somos capazes de criar uma nova realidade nos condomínios, agregando segurança, praticidade, agilidade e conveniência para todos os envolvidos. Mas para isso, é preciso dedicação máxima em se manter atualizado!

Repórter da RDC: Como os síndicos podem se preparar para lidar com as demandas e desafios do futuro?

Amanda Accioli: Se você deseja se tornar um profissional preparado para todas essas mudanças, deve se atentar em:

• Investir em conhecimento e reciclagem: frequentar cursos será obrigatório para continuar no mercado. Tenha sempre abertura para receber novos aprendizados;

• Se aprofundar no tema: o síndico do futuro não precisa saber de programação ou TI. Contudo, precisará entender bem da tecnologia nos produtos e serviços que estarão disponíveis para os condomínios;

• O barato sai caro sempre: não vale a pena economizar a todo custo. O síndico do futuro sabe a importância de usar o dinheiro com sabedoria, investindo sempre na qualidade e na competitividade dos serviços e produtos escolhidos; 

• Comunicar de forma clara: é obrigação do síndico saber como se comunicar bem e com transparência com os condôminos. Pode ser uma circular quinzenal, um vídeo via linha de transmissão toda semana, como preferir. Deixe claro o que está sendo feito e esteja disponível para ouvir os condôminos;

• Se cercar de bons profissionais: o síndico não é obrigado a saber de tudo, mas ele precisa ter à sua disposição uma boa rede de profissionais e saber onde consultar as informações quando precisar;

• Realizar pesquisas e enquetes com regularidade: saber como estão os ânimos e demandas dos condomínios não depende, necessariamente, de assembleias. Fazer uso de enquetes e pesquisas no portal da administradora, ou do próprio condomínio, por exemplo, pode ajudar na tomada de decisões.

Repórter da RDC: Agradecemos pela sua contribuição sobre o panorama tecnológico nos condomínios e os desafios enfrentados pelos síndicos. Alguma mensagem final que gostaria de compartilhar?

Amanda Accioli: Os conceitos de inovação, flexibilidade e sustentabilidade precisam andar juntos, e esse é um desafio que também compete ao síndico. É preciso abrir espaço para a possibilidade de diferentes inovações e transformações dentro dos condomínios que foram criados recentemente. Assim, novas tecnologias podem ser implementadas para auxiliar o síndico do futuro, que, por sua vez, deverá se manter atualizado para saber geri-las da melhor forma.

Amanda Accioli - Síndica Profissional, Advogada Condominialista, Diretora Nacional da Sindicatura da ANACON, Membro da Comissão de Direito Condominial OAB/SP, articulista, professora e palestrante.

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