O trabalho do síndico: Quais os saberes e experiências necessárias?

Experiências, conhecimentos e rede de relacionamentos compõem o condomínio

 
regina lópez

A situação é a seguinte: Você se candidatou a ser sín- dico no seu prédio. E advinha? Foi o mais votado. Mas, e agora? A síndica profissional, Regina López, à frente da López Mundo Condominial conversou com os repórteres da Revista dos Condomínios e trouxe uma lista de dicas para quem quiser “dar conta do recado e fazer todo o trabalho com segurança do que está fazendo e, além de tudo, com muita alegria e prazer” – ensina. Quem es- tava lá, também, participando da conversa era Gleyson Assis, da Anjos&Assis. Ele destaca a importância da atenção com os detalhes e os relacionamentos.

Você se tornou síndico: E agora?
Operando no litoral Sul de São Paulo, no Guarujá, Regina López afirma que o síndico tem que acordar e dormir, “e, porque não, sonhar com os condomínios” – exagera, para em seguida comentar: “para mim, tudo que se trata em condomínio é pra- zeroso”. Para os colegas que estão começando agora, ela abre um verdadeiro manual de “dicas, muito importantes, que vão facilitar bastante à vida de todos” – garante. Já Assis, começa dando a primeira dica: a atenção no trabalho, na experiência do dia a dia, traz dúvidas que só podem ser sanadas, com o estudo e a troca de experiência entre síndicos e outras pessoas experientes do setor.

Condomínio: Trabalho de síndico é com pessoas
Para os colegas que estão começando “é necessário, em resumo, participar de eventos e procurar capacitação, pois, com esse conhecimento, o trabalho fica mais leve, você pode falar com certeza dos assuntos; mas o principal de tudo, é você gos-
tar de pessoas” – acrescenta López e, em seguida, alerta: “não adianta você ter capacitação, formação, mas não gostar de lidar, de estar com pessoas”. Assis, completa, falando sobre a relevância do conhecimento sobre inteligência emocional: “a literatura sobre o assunto é farta, mas existem cursos que podem ajudar bastante ao novo profissional que deseja ingressar no setor e manter relações duradouras e saudáveis com todos”.
Uma vez sendo capaz de manter o equilíbrio emocional, de con- quistar para si maior resiliência, é possível desenvolver boas relações com todos e, por meio das experiências, no trato diário, conquistar aprendizados frente aos novos desafios e ex-
periências – nos conta, Assis. Com o tempo, durante esse relacionamento com os condôminos, você conquista a confiança e o respeito, fundamentais para o trabalho diário – completa o síndico

Síndico: Trabalho presencial
O síndico precisa estar presente e atento aos relacionamentos, à vida condominial, então, “você vai aos condomínios e se coloca à disposição para ouvir os condôminos e tudo já começa a se resolver ali, no relacionamento” – explica. O resultado disso?, pergunta e já responde: “é você receber no final de semana, no seu aplicativo, mensagem de algum condômino dizendo que está viajando e vai tra- zer uma lembrancinha. Esse gesto de carinho é a recompensa de toda a nossa atenção e esforço profissional. Não tem nada que pague” – considera. Assis lembra que come- çou no setor com “a intenção de ajudar, como síndico amador, mesmo. Acredito que é necessária essa verdade, esse propósito, além de gostar de pessoas, para que o trabalho prospere de forma consistente e orgânica” – analisa.

Outra observação feita por Assis foi quanto a fragilidade do ser humano, “que necessita, muitas vezes, de atenção e, sendo assim, o síndico precisa ter sensibilidade para entender os problemas que, muitas vezes, estão por trás das queixas relatadas. Segundo Assis, é exatamente isso que o move no dia a dia do trabalho, “desde que comecei e me acompanha até hoje: ser um servidor. Gostar e ter a sensibilidade necessária para atender as pessoas” – relata.

Por outro lado, muitas vezes “notamos que um ou outro condômino não entende a função do síndico, do conselho fiscal, as funções em geral, e o trabalho e a responsabilidade que cabe a cada um na comunidade condominial”. Desse modo, cabe ao síndico lidar com essas situações e esclarecer de forma a manter um bom relacionamento. De acordo com ele, esse é o maior desafio que hoje se apresenta para o síndico, seja ele profissional ou amador.

Síndico iniciante: Dicas
Para ter tranquilidade para atender bem as demandas diárias dos condôminos é necessário que o síndico tenha um suporte. Como ensina Regina López, devem ser de profissionais dos setores: “Jurídico, mas especializado na área condominial; um engenheiro; um advogado e uma empresa de auditoria. Ah, não recomendo utilizar da equipe dos empregados da administradora” – lembra, para explicar: “porque, por exemplo, os advogados da administradora não vão ter tempo de defender um condomínio, no caso, na pessoa do síndico, porque eles têm muito trabalho defendendo a própria administradora, onde trabalham”.

Engenheiro: A importância para o síndico
Para Regina, a importância de um síndico de confiança “é grande, porque ele vai decidir, para você, síndico, qual o melhor projeto para solucionar o problema identificado por ele. Se uma obra tem de ser realizada dentro de uma unidade, aí, você terá a figura desse engenheiro que vai aprovar o projeto do fornecedor e acompanhar e aprovar, quando a obra for entregue”.

Síndico: E o suporte de uma empresa de auditoria
É bom que o síndico tenha uma empresa de auditoria dando assessoria para ele. Não apenas no momento de pegar um novo condomínio, mas durante todo o atendimento, de apresentação de contas aos condôminos. “A administradora pode entregar uma conta errada, com algum erro até mesmo grave. Com a empresa de auditoria, no circuito, você se tranquiliza na hora de prestação de contas. É bom embrar que o síndico responde até cinco anos após deixar a administração de um condomínio” –lembra.

Síndico iniciante: Busca por referências
Para quem está iniciando, é importante buscar referências. Segundo López, devem os iniciantes prestar bem atenção em lives; ir a eventos do setor; ter atenção ao que os palestrantes estão dizendo e anotar. Em seguida, devem buscar cursos de curta duração naqueles assuntos para os quais tem maior número de dúvidas. “Para ser síndico, tem que investir, para você ficar confiante, para que o serviço seja prazeroso, leve. Nesses cursos, o síndico vai entrar em contato com as normas. É importante, por exemplo, saber como proceder no momento de decidir por realizar uma obra. Ela é necessária ou útil? As obras voluptuárias: Instalação de academia, envidraçamento de varandas, mudanças estéticas no elevador, obras para maior conforto no salão de festas, todas elas, vão precisar da concordância de 2/3 dos condôminos” – destaca.

Síndico: Dica sobre aprovação de projetos
Essas autorizações, e o respectivo quórum necessário, estão determinadas por normas, que são necessárias que o síndico conheça. No caso das obras voluptuárias, como citei antes, o síndico vai precisar de 2/3 dos condôminos, o que não é nada fácil. Aproveitando o exemplo, López informa que a construção de uma resposta positiva para os projetos do síndico é trabalhar no sentido de catequisar cada um dos condôminos. “Esse trabalho inicia em torno de três meses antes da assembleia, durante a qual os presentes vão decidir sobre o projeto pleiteado. Para realizar obras, não falo em gastos. Destaco a relevância de se realizar investimentos no patrimônio pessoal” – ensina, a partir de experiência própria.

Catequese ou bom relacionamento?
O bom relacionamento de López com os condôminos tem uma explicação simples e, ao mesmo tempo, extensa no tempo. Durante a conversa com Regina López a impressão que se tinha era a de se estar conversando com uma produtora de eventos e não com uma síndica profissional. “No início, ou final do mês, eu produzo o ‘Café com a síndica’, para estimular a interação entre as pessoas, comigo. Para fazer com que as pessoas se conheçam. Muitas vezes, as pessoas moram em portas coladas, mas nunca se viram ou trocaram uma conversa. O café começa às 9h, mas se estende, muitas vezes, até o meio dia” – garante, com ar de vitoriosa.

Evento no condomínio: Quem paga esse café?
Pelo visto o evento não é algo simples, que não existe uma produção, mesmo que mínima. López conta que para produzir o café ela “pega patrocínio”. Conta que oferece o espaço do condomínio, naquele dia, para os comerciantes fazerem propaganda durante o evento. “Vejo desconto para o condômino que já é idoso. Para os moradores, em geral, informo que consegui desconto no comércio. Que podem procurar as lojas e informar que moram no condomínio tal. É só falar que falou comigo, que já está combinado”.

Evento: Dia dos namorados e noite de vinhos e queijos
Mas López não fica só no café. No dia dos namorados ela está pronta para sortear os condôminos com cestas, para duas pessoas, com chocolate “de marca boa”. Ela providencia produtos com qualidade, “nada de produto de procedência duvidosa”. Já para a noite de vinhos e queijos ou a noite de caldo quente a promoção e a produção segue na mesma direção e objetivo: “É promover o relacionamento com os condôminos. É durante o evento que vendo minha imagem, a imagem da minha administração para todos”

Evento: E no mês de junho?
Nessa época ela entra em contato com empresas que levam atividades para crianças, jovens e adolescentes. Empresas que fazem entretenimento. Os pais gostam e pagam. Faço festas juninas, também, com desconto para condôminos. Quando tem unidade com muitos idosos, faço evento com caminhada, ginástica, passeios. “Você
sabia, que se você for numa prefeitura e informar que tem ‘X’ condôminos, você consegue transporte de graça, e com lanchinho, para eles visitarem algum ponto turístico?!” – conta, em tom de exclamação, e pergunta: “Você acha que um síndico que faça esse trabalho de Relações Públicas não vai se reeleger?”

Síndico: Parcerias com outros síndicos?
Agora uma dica que Regina López destaca como ‘importantíssima’: Parceria com outros síndicos. “Não vejo outros síndicos como rivais. Às vezes, você está em um lugar distante e peço para ele me ajudar, ser meu parceiro. Com essa perspectiva, você pode conseguir trabalhar em diversas cidades, trocar experiências e, com a parceria, posso tirar férias, algo impensável sem a parceria. No momento das férias, os parceiros podem dar conta no meu lugar. É assim: 40% para mim e 40% para o parceiro. O resto é: imposto e pequenos investimentos, gastos”

Síndico: Como lidar com meu funcionário?
Pode parecer algo trivial, mas a síndica profissional informa que nem sempre vemos a postura mais correta no trato profissional com os funcionários. Ela acredita que o síndico tem sempre que “elogiar na frente de todo mundo e chamar a atenção no reservado, porque essa postura vai trazer o funcionário para minha confiança e respeito. Acredito, também, em promover a capacitação desse funcionário, para o serviço que está fazendo ou vai passar a desenvolver. Quando identifico alguma desconformidade, erro, sempre sugiro melhores formas de realizar um determinado trabalho, para o funcionário do edifício que está sob minha administração”.

Síndico: Qual a importância do EPI?
Os EPIs são diversos. Podem ser: Máscara, capa de chuva, botas, óculos de proteção, protetor solar etc. A compra desses EPIs são indispensáveis. Assim que compro, faço uma lista numa folha e entrego junto com o material ao funcionário. Ele confere e me devolve a folha assinada. Se sofrer acidente e não tiver com esse material e o condomínio não forneceu ao funcionário, pode dar multa. Por outro lado, se forneceu e ele não usou, ele pode ser demitido.

Síndico: Como lidar com empresa terceirizada?
Como você vai saber que a empresa terceirizada está pagando os funcionários dele e os respectivos tributos de maneira correta? Você sabe? López ensina: “É fácil: Você pede para o representante da empresa apresentar a folha de pagamento. Se não te apresentar, você não paga. Essa rotina é importante, porque esse empregado pode entrar na justiça e o condomínio pode ser subsidiariamente responsável pelas dívidas trabalhistas, por exemplo” – indica. Em relação aos funcionários terceirizados “é bom
que se diga: Não podemos nos dirigir a esse funcionário, diretamente. Temos que nos dirigir ao supervisor que vai, então, tratar com esse funcionário”.

Administração Condominial: Como valorizar seu funcionário?
Com o objetivo de valorizar os trabalhadores dos condomínios que administra, a síndica profissional produz a eleição do “Funcionário do Mês”. Quem participa? Todos os funcionários: Orgânicos, contratados diretamente pelo condomínio, e os terceirizados. Quem faz a votação são os condôminos.

Síndico: Como vai a sua administração?
Para ficar sabendo como o trabalho dela está sendo recebido pelos condôminos, a síndica profissional, Regina López, aplica uma pesquisa de satisfação, “tudo feito pelo celular, de forma rápida e simples”. Para aumentar a participação e obter um retorno maior, de forma que exprima o sentimento o mais próximo da realidade, “quem responder, concorre a uma caixa de bombom de qualidade. Não vou falar a marca, aqui, para não fazer propaganda de graça, ne?!” – brinca.

Temos um novo condômino: E, agora, síndico?
O momento da mudança de condômino, que está comprando uma unidade no condomínio, é uma hora boa para entrar em contato. “Peço a ele ter uma hora comigo e ofereço um kit de boas vindas: Bolo, chocolate e tal. Apresento uma cópia da convenção e regimento interno e entrego para ele. Em seguida, peço para fazer o cadastro com datas de aniversário dos moradores. Quando não ligo nos aniversários, mando o cartão. Ponho lembrete no meu celular. Ponho gente da equipe para atender. Eu gosto de ser bem tratada, lembrada. Acho que todo mundo gosta, não!? – pergunta.
“Dica essencial: capacitação sempre. Estudar, estudar e estudar, “porque sempre mudam as leis”. Dicas de cursos: Abrascond, Garbo e Sindicoline: Diversos cursos, inclusive alguns de 12 meses de duração, com professores de diversas áreas.

 

 

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Regina Lopez

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