Segurança e avaliação de riscos são importantes na hora das emergências

Plano de contingência deve contemplar procedimentos a serem adotados por cada membro da comunidade condominial e sua resposta às emergências

 
Karine Prisco

Questões que envolvem segurança sempre tiram o sono dos moradores. Não bastassem aspectos voltados à segurança pública, como a violência nas ruas e bairros e no entorno dos condomínios, há outros perigos ainda tão graves quanto, como os riscos de alagamentos e deslizamentos, como vimos recentemente em várias cidades do país. Essas são preocupações legítimas de síndicos e gestores condominiais.

Para avaliar o assunto e trazer dicas valiosas para a comunidade condominial, ouvimos a síndica profissional, empresária e administradora Karine Prisco. De pronto, ela orienta que a adoção de ações planejadas permite aos síndicos e gestores atuarem de maneira preventiva e se anteciparem aos problemas. “Isso deve ser feito por meio da análise e do conhecimento dos principais riscos, ameaças e vulnerabilidades, a fim de que os gestores possam implementar ações efetivas e com maior segurança.” Ela sugere a elaboração de um Plano de Contingência que contemple os procedimentos a serem adotados por cada membro da comunidade condominial e sua atuação direta ou indireta em resposta às emergências, padronizando as ações e responsabilidades para o enfrentamento de eventos dessa ordem.

Diante de notícias sobre invasão de prédios, arrombamentos e ameaças a porteiros e moradores, a especialista alerta que é muito importante identificar os principais riscos e ameaças da região e entorno a fim de que os gestores possam trabalhar os pontos críticos e priorizar o combate as vulnerabilidades do condomínio. “Com a elaboração de um Plano de Segurança, poderá ser estabelecida uma série de ações que, implementadas em conjunto, criam formas de barreiras de segurança distintas, e que, quando combinadas, dificultam cada vez mais para que o condomínio se torne um alvo e fique vulnerável”, orienta.

Ela reconhece que a segurança pública é um fator externo ao condomínio, e que muitas vezes não há ingerência sobre eles, “pois se relacionam com fatores políticos, sociais. Portanto, a melhor alternativa é que o condomínio de forma privada fortaleça a sua segurança interna para se adaptar à realidade e aos riscos inerentes à sua região”, disse.

Uma situação que se intensificou muito com a pandemia da Covid-19 é o grande volume de entregas nos condomínios. Isso tem tirado o sono de síndicos e porteiros, principalmente diante dos “falsos entregadores” que se aproveitam da situação para tentar invadir os prédios. Para tanto, é preciso observar algumas boas práticas, como orienta Karine. “Os condomínios podem implementar uma série de controles efetivos para dar suporte no recebimento das entregas, como protocolos de identificação na portaria, estabelecimento de regras e procedimentos internos que podem ser aprovados na convenção, regimento interno e assembleias, a designação de um funcionário interno para as entregas, medidas e procedimentos que evitem o contato dos entregadores com os funcionários e moradores durante as entregas, entre outransações que normatizam os procedimentos de delivery no condomínio.”

A gestão e o controle das entregas de delivery e de recebimento das encomendas nos condomínios trazem grandes desafios para os gestores em função da preocupação com a segurança x comodidade. O fato é que, quanto mais segurança houver, menores serão as facilidades e comodidades devido aos procedimentos que devem ser cumpridos e que nem sempre são os mais fáceis ou cômodos para os moradores. “O delivery é uma realidade, e os condomínios precisam se adaptar a recebê-los com segurança, mas cada condomínio deve implementar os procedimentos de acordo com a sua realidade e rotina de volume de recebimentos de entregas”, avalia.

Uma das importantes aliadas nessa mitigação de riscos é a adoção de tecnologias que trazem cada vez mais benefícios aos condomínios em diferentes aspectos, gerando resultados efetivos e maiores controles para os procedimentos de segurança. “Os sistemas de segurança compensam as limitações humanas e possíveis falhas que podem ser o ponto crucial para que o condomínio fique vulnerável. Porém, o funcionamento de qualquer sistema de tecnologia depende efetivamente do comprometimento de todos os membros envolvidos. Mesmo por trás dos controles de segurança mais sofisticados, atuam pessoas e profissionais que são responsáveis pelo uso e pela manutenção desses controles”, explica Karine.

Para a especialista, o investimento em tecnologia deve estar em sintonia com todos os envolvidos em sua implementação. “Antes de se implantar um sistema de segurança, os gestores devem avaliar o perfil do condomínio e de seus moradores, as principais necessidades e pontos críticos que os tornam vulneráveis. É importante que o síndico conte com profissionais capacitados e habilitados para a implementação de tecnologias e sistemas de segurança que poderão orientar o condomínio em qual sistema se adequam melhores a sua rotina e demandas”, pondera.

A seleção, o recrutamento e o treinamento de funcionários também são uma etapa importante no que tange à segurança. De acordo com Karine, na fase de seleção os gestores devem observar se o candidato possui os atributos necessários para o exercício do cargo e buscar suas referências com os antigos empregadores. “A capacitação dos funcionários deve ser constante, e um dos fatores mais importantes é a comunicação. É fundamental que os gestores invistam em uma boa comunicação interna com os funcionários e os moradores para que todas as medidas de segurança sejam eficazes. A segurança do condomínio depende em grande parte da capacitação e do comprometimento dos agentes internos, pois uma falha pode comprometer a segurança de todos”, avisa.

Causas naturais também põem segurança em risco

Outra questão relativa à segurança diz respeito a aspectos ambientais. Vimos, com tristeza, recentemente, as tragédias de Petrópolis e da Costa Verde, no Estado do Rio de Janeiro. A cada chuva mais forte, as pessoas ficam em pânico. O risco de destruição, perda de patrimônio e ameaça concreta à vida são situações que beiram o caos. Para Karine Prisco, o conhecimento do entorno do condomínio é fundamental para que se observem os riscos e as ameaças da localidade. “É importante observar se a estrutura do prédio como um todo está preparada para lidar com os riscos em potencial. Por exemplo, se o condomínio possui uma garagem subterrânea, existe um sistema de contenção de água em caso de alagamento na rua? Qual é o sistema de drenagem que o prédio possui? A rua costuma ter histórico de alagamentos? Dentre outros questionamentos.”

Para quem vive em localidades sujeitas aos riscos mencionados, a especialista alerta que, além da avaliação do que pode ser feito internamente, os gestores devem acionar os órgãos públicos competentes e/ou privados, a depender de cada caso. “Por exemplo, se o risco são as encostas que tangenciam o condomínio, se existe um rio próximo que costuma inundar, dentre outros, cabe ao Poder Público a adoção de medidas.” Segundo ela, existem aspectos que o condomínio deve cobrar do Poder Público ou da construtora do próprio prédio. “Conforme o caso, deve o condomínio buscar os canais de reclamação para pressionar o Poder Público a adotar as medidas que lhe compete. Nessas situações, é sempre importante que o condomínio seja orientado pelo seu departamento jurídico, bem como também pode buscar auxílio em órgãos como o Secovi local”, orienta

A importância dos seguros

Conforme determinação do Código Civil, é de responsabilidade do síndico a contratação de seguro predial que cubra danos à estrutura do condomínio contra risco de incêndio ou destruição total ou parcial por outros danos. Assim, deve-se identificar qual modalidade que atende melhor o condomínio, observando os possíveis eventos, conforme a construção, estrutura, região e entorno. As cláusulas de exclusão são equivalentes quanto a eventos causados por forças naturais, vandalismo, obra irregular, vícios intrínsecos, entre outros, informa Karine Prisco.

Segundo ela, a convenção coletiva de trabalho do sindicato da classe coloca como obrigatórios os seguros de vida, funeral e complementação salarial para funcionários de condomínios, estabelecendo proteção mínima para morte natural, acidental, invalidez por acidente ou doença. Os valores de coberturas mínimas a serem contratados devem observar as determinações vigentes da convenção coletiva da classe de funcionários de condomínios.

Regras para uma boa segurança condominial

Síndicos e gestores condominiais devem priorizar sempre a segurança com medidas preventivas para que suas reações sejam mais eficientes. Karine Prisco destaca que a segurança condominial é fortalecida quando há uma composição entre barreiras físicas e tecnológicas, sendo esse um cenário ideal que pode contemplar variedades de barreiras que minimizam as vulnerabilidades.

Assim, ela elaborou algumas recomendações importantes:

  1. Funcionários capacitados e treinados tendo comprometimento com os procedimentos de segurança estipulados.
  2. Moradores conscientes e engajados a seguirem as regras e os procedimentos de segurança.
  3. Procedimentos de controle de acesso e entrada de visitantes, entregas e delivery.
  4. Guaritas e/ou portarias bem equipadas com blindagem, banheiro e ar-condicionado.
  5. Câmeras de segurança de alarmes.
  6. Sistema de segurança de perímetros.
  7. Portões duplos de pedestres e de garagem intertravados (sistema de clausura / gaiola), permitindo a abertura de um portão somente quando o outro se fecha.
  8. Portões e/ou muros robustos com boa altura, variando conforme a facilidade de escalada.
  9. Sistema de passa-volumes (cilíndrico ou do tipo gaveta) para dispensar a entrada de entregadores no prédio.
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