O Direito Sistêmico e sua aplicação em condomínios

Não existe advocacia sistêmica sem resolução interna das questões do próprio advogado. Por incrível que pareça, todos os advogados desta área chegam nela por questões inconscientes de seu eixo familiar. Diferenciar o que é seu e o que é do cliente, pelo menos em matéria de sentimento, é essencial. Num condomínio, muitas são as famílias desajustadas, tal como as nossas, com questões as vezes iguais às dos advogados que lá prestam serviços, algo que pode se perpetuar em suas próprias vidas.

Perguntas sistêmicas devem ser feitas nesta hora: por que sou advogado aqui? O que isso tem a ver comigo? Muitas das vezes a resposta é terrível, já que em vários casos temos que olhar para problemas iguais aos de nossas famílias que não conseguiram ser solucionados!

Comecei a observar outras leis que não só as de direito, as leis do amor, o que realmente está por trás daquele problema condominial? Qual é o real papel daquele síndico? Por que aquela reclamação do porteiro? E por que o som ensurdecedor do vizinho namorando a vizinha me incomoda tanto? Entrei num mundo diferente, onde perder não era ficar sem, onde ganhar não era lucrar, e comecei a ver que o Direito Sistêmico leva a uma nova advocacia, que passa por uma reeducação, não só minha, mas da profissão “ser advogada”, e, nisso, estavam incluídos todos aqueles ligados ao Judiciário, todos pertencendo ao mesmo sistema, sem exclusão de ninguém.

Passei a ressignificar os dogmas anteriores, mudar a filosofia e reaprender a andar num mundo diferente. Convido todos a fazerem uma pesquisa: peguem o Registro Imobiliário da unidade habitacional de vocês e façam as seguintes perguntas: quem era o dono do terreno originariamente? Como foi feita essa construção? Quantos existiram ali antes de você? Quantas questões não resolvidas podem ter havido? Quantos já morreram antes de você estar ali? O que me fez vir morar neste prédio? Já parou para pensar que muitos dos problemas pelos quais hoje você está passando naquele local podem ter sido vivenciados pelo primeiro dono do terreno? Tudo isso faz parte, e dentro do Direito Condominial Sistêmico precisa ser visto, honrado e liberado para que não haja mais sofrimento por quem ali está.

Fica a dica! Pensemos! E isso é somente o início dos estudos e possíveis soluções!

Gracilia Portela é advogada e presidente da Academia Brasileira de Direito Sistêmico (ABDSIS).

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