Síndica é eleita no susto

“É a primeira vez que participo de uma assembleia de condomínio. Hoje, vim para que aquela pessoa não seja mais síndica.” Isabela, apontando o dedo para a síndica Suzane e assinando a lista de presença da assembleia de condomínio que logo se iniciaria.

Isabela morava no Condomínio Liberty Green. Era uma condômina tranquila, recatada, respeitosa com todos os seus vizinhos e muito amiga de Dona Lurdes, sua vizinha.

Um dia, antes da AGO convocada para eleição de síndico e conselho, Isabela recebeu a visita de sua vizinha, Lurdes, com um ultimato de que precisava de sua ajuda para desmascarar a síndica Suzane, pois havia descoberto muitas irregularidades.

Lurdes há muito tempo investigava possíveis irregularidades no condomínio, não concordava com os elevados gastos da síndica, se irritava com o número de obras e não se conformava de não ter havido comunicação de processo judicial contra o condomínio pela antiga empresa de prestação de serviços de portaria. A desconfiança de um possível locupletamento por parte da síndica Suzane pairava, e Lurdes somente conseguiria desmascarar Suzane se Isabela, que era advogada, a ajudasse, por isso, procurou a amiga que, de prontidão, e com sede de justiça, aceitou ajudar.

Ao iniciar a assembleia, Suzane, sem mesmo compor a mesa, começou a colocar assuntos em apresentação, se prontificando a ser reeleita. Isabela, não acreditando no tamanho do desrespeito com a convenção, levantou-se e começou a relatar tudo que estava errado naquele ato solene, que, por sinal, desde a composição da mesa estava errado.

Suzane tentou tomar a palavra, mas Isabela, continuou a discorrer todas as irregularidades, impugnando o número de procurações que Suzane havia levado, demonstrando que ela as utilizava em benefício próprio. Contou a todos os presentes sobre o processo que estava sendo movido em desfavor do condomínio, mostrando que era obrigação da síndica (art. 1.348, III do CC) ter dado conhecimento a todos. Provou que prestadores de serviços eram privilegiados com valores de contrato acima do mercado e reajustes generosos acima da inflação. Por fim, demonstrou que Suzane se passava por simpática e solícita para maquiar todos seus deslizes, enganando os condôminos.

No auge da assembleia, Suzane, frustrada com tudo que havia acontecido, simulou desmaio, tendo sido socorrida pelo Sr. Dirceu, então presidente do Conselho.

A assembleia, perplexa com todas aquelas revelações, aclamava Isabela e rogava pela sua candidatura a síndica, não a deixando escolhas para essa alternativa.

Isabela, que nunca havia pensado em ser síndica, foi eleita no susto, assumindo o mandato de dois anos para gerir o Condomínio Valência. Dona Lurdes, eleita conselheira, ficou entusiasmada, pois agora o local onde mora finalmente teria uma gestão balizada.

Marcela Gundim é advogada, sócia do escritório Michelena e Gundim Sociedade de Advogados. Presidente da Comissão Direito Condominial da OAB/SJC e vice-presidente da Comissão da Advocacia Condominial da OAB/SP.

Link