Riscos de desabamentos: como prevenir e evitar tragédiasl

Especialistas falam como é possível identificar problemas antes que alguma tragédia aconteça. Casos estão ficando comuns no país

 
Inálvaro Soares

O Brasil tem uma triste história de desabamentos, e, infelizmente, esse é um cenário que traz muita intranquilidade para moradores em todas as localidades, e as causas são variadas, seja pela infraestrutura precária ou pelos problemas geográficos presentes no local.

Essa é uma questão séria e que precisa de profissionais qualificados para mostrar que é possível, por meio de um trabalho eficaz, garantir a segurança de centenas ou até milhares de moradores. A REVISTA DOS CONDOMÍNIOS, por essa razão, entrou em contato com dois engenheiros para que pudesse explicar para nossos leitores o que pode ser feito para, pelo menos, amenizar essas questões.

Conversamos com os especialistas Inálvaro Soares, engenheiro civil com experiência na elaboração de laudos de avaliações patrimoniais, perícias de engenharia e gestão de riscos, e Mario Galvão, engenheiro especialista em condomínios (Crea-DF).

Primeiramente, questionamos Inálvaro a respeito do principal culpado por tantos desastres que já marcaram a história do país, mas o especialista aponta que não existe um grande culpado, mas sim uma série de situações e comportamentos que levam às tragédias dos desabamentos. De acordo com ele, essas edificações já costumam apresentar problemas desde a construção do prédio. “Podem ocorrer ausência de cálculos estruturais, falhas no momento da concretagem, erros no traço do concreto, deficiência na cura do concreto e problemas com a resistência dos materiais que podem estar em desacordo com o projeto estrutural, dentre outros”, disse. 

E o especialista não para por aí. Além dos problemas já citados, o engenheiro também comenta a respeito das alterações feitas por pessoas que não estão capacitadas para tal tarefa. “Temos o fator da ampliação ou reformas realizadas por leigos, onde se acrescentam cargas como quartos, andares, salões, varandas, retirada de paredes etc., ou se modifica o uso daquele imóvel, por exemplo, passando de escritórios para livraria, academia, depósitos ou uma biblioteca, trazendo também riscos pelo acréscimo de carga não calculada para as estruturas”, alerta.

Para ele, a solução é contar com profissionais qualificados e habilitados pelo Conselho de Engenharia (Crea), Conselho de Arquitetura (CAU) e também capacitados nas áreas de estruturas e sistemas construtivos para que seja feito um acompanhamento da obra, manutenção ampliação ou mais reformas. 

Perguntamos a Mario Galvão a respeito da prevenção, termo muito utilizado no meio condominial para lidar com problemas que podem aparecer durante o cotidiano. De acordo com o entrevistado, os gestores condominiais precisam pensar num item imprescindível: a implantação da gestão de reformas. 

Contudo, ele também informa que qualquer alteração ou transformação precisa levar em consideração a segurança das edificações e também dos usuários, e, para isso, gestores precisam estar atentos às normas técnicas vigentes. “Nesse sentido, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou, em 2014, a Norma Técnica ABNT NBR 16280, que estabelece os requisitos para os sistemas de gestão de controle de processos, projetos, execução e segurança no que se refere às reformas das edificações, e saliento que essa Norma Técnica foi revisada em 2015 e 2020. O gestor deve ainda se ater na gestão de manutenção do condomínio, assim como determina a ABNT NBR 5674 de 2012, sendo essa norma de extrema relevância tanto para condomínios recém-entregues (evitando a perda de garantia) quanto para condomínios de maior idade, já que as edificações, assim como nós, envelhecem e necessitam de acompanhamento e cuidados técnicos desde sua concepção”, completa.

Além dessas normas citadas pelo especialista, também é necessário lembrar que toda construção precisa ter um documento muito importante para que possa ser passada para os moradores. 

O “Habite-se” comprova que todo o processo foi feito com êxito, e, finalmente, poderá ser habitada. Ele funciona como uma “certidão” que é emitida pela prefeitura do seu município. E, caso a construção não apresente esse documento, existem diversas consequências que vão assolar o responsável. Nesse sentido, a multa pode acabar sendo o menor dos problemas, porque a qualidade de vida de quem habita nesses locais está sendo diretamente afetada.

Desabamento de prédio em Nilópolis-RJ, deixa morto e feridos - Reprodução

Sinais de um desabamento iminente

Por fim, os entrevistados falaram a respeito de alguns indícios que podem apontar para um desabamento iminente. De acordo com Inálvaro, esses “sintomas” que indicam problemas estruturais são fissuras, rachaduras, vazamentos, pisos se soltando, dentre muitos outros, mas como já foi falado anteriormente, a prevenção é trabalho essencial. Ele nos fala que a Inspeção Predial também é uma grande aliada contra esses problemas, e pode custar mais barato no “bolso” do síndico. 

“Além de que os custos com a recuperação são menores no início do problema. Entretanto, o profissional a ser contratado pelo gestor deve ter a capacitação na área de inspeção predial. Pode participar nos trabalhos profissionais de áreas específicas, como por exemplo o engenheiro eletricista para verificar problemas em subestações, geradores, para-raios, casa de bombas etc.”, disse. 

Mario, também lembra que, caso seja comprovada negligência do síndico durante todo esse processo, ele será culpado. “Vale lembrar que em caso de conivência com reformas irregulares e aprovações sem acompanhamento ou assessoria técnica terceira, o síndico ou gestor responde cível e criminalmente por todos os seus atos”, finaliza.

Contatos

Inálvaro Soares

@inspecaopredialepericias

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Mario Galvão

@mario.galvaojr

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