Desafios do passado, do presente e do futuro

Recém-lançado, livro de Karla Pluchiennik traz reflexões sobre a profissão de síndico, com dicas e soluções para facilitar o desempenho de suas funções

 
KARLA PLUCHIENNIK

Profissionais que cuidam da coletividade, é claro, sempre estão impregnados de altas doses de responsabilidade. Assim é o desafiador cotidiano dos síndicos. Embora ainda não seja regulamentada, a profissão exige cada vez mais conhecimento técnico e capacitação constante, em áreas diversas como administração, finanças, contabilidade, legislação e até mesmo psicologia. Foi pensando em facilitar a experiência da vida em condomínio, e fazer uma espécie de coletânea de informações relevantes, que a consultora e empresária do ramo condominial Karla Pluchiennik lançou, em abril deste ano, o livro “Coisas Básicas do Condomínio – vol 1”. Editado pela Bonijuris, de Curitiba, a obra aborda, em linguagem acessível e objetiva, 25 temas fundamentais, que ajudam a nortear a atuação dos síndicos.

O intuito é que a obra circule não só entre síndicos, administradoras e demais profissionais, mas que também chegue nas residências para que os moradores tenham acesso às informações e adquiram mais consciência de como viver melhor num condomínio”, explica a autora, reforçando que o público-alvo da obra é bastante amplo. A publicação é um instrumento de apoio a quem mora, trabalha, administra, garante, fornece ou mantém em pleno funcionamento os cerca de 400 mil condomínios do Brasil.

Administradora pós-graduada em Direito Empresarial e em ‘Influência Digital: Conteúdo e Estratégia’, coach e especialista em Programação Neurolinguística (PNL), Karla Pluchiennik topou conversar com a Revista dos Condomínios sobre o perfil da carreira de síndico, as transformações recentes pelas quais a profissão passou, as aptidões atualmente exigidas pelo mercado e as tendências futuras no cenário de administradores de condomínios. Será que você está em dia? Realmente preparado?
“A atuação dos síndicos precursores nos ensina que o comprometimento com os interesses do condomínio é a base, independente se o síndico é ou não um condômino. Conhecimentos básicos de administração, finanças, recursos humanos e formas de organização são aptidões a serem estudadas previamente. Com relação aos talentos ou soft skills, é desejável que o profissional tenha boa comunicação, características de liderança, boa percepção e inteligência emocional. Lembrando que o síndico não está sozinho: ele pode contar com uma valiosa rede de apoio representada por membros do conselho e fornecedores que tenham boas referências. Nesse ponto, a credibilidade é essencial”, inicia Karla, que segue em sua análise.

“O braço direito do síndico costuma ser o zelador. Se ele estiver bem ensinado, vai resolver boa parte das demandas, já que está ‘vivendo o condomínio’ (a autonomia pode ser dada aos poucos). Vale informar aos condôminos sobre horários de sua disponibilidade para não se tornar refém de chamadas noturnas sem necessidade. Ademais, cada profissional vai percebendo o que funciona, trocando ideias com colegas, aprendendo com a literatura e os cursos. Essa é uma função que ensina a cada dia. Não tem receita de bolo. Como diz um provérbio: a prática faz o mestre!”, pontua ela, que aponta erros que devem ser evitados. “Faço uma analogia com a administração pública: o agente público é como o síndico; atua no interesse coletivo. Esses princípios são: legalidade (cumprir a lei), impessoalidade (tratamento igualitário), moralidade (princípios éticos), publicidade (transparência na gestão) e eficiência (fazer bom uso dos recursos). Os principais erros acontecem quando esses princípios não são colocados em prática”.

Da falta de uma remuneração, a função estratégica

Karla Pluchiennik lembra que, quando surgiu a Lei do Condomínio (4.591/64), não havia remuneração pelo exercício da sindicatura. Um sistema de rodízio possibilitava o revezamento entre os vizinhos, que exerciam a função pela honra de cumprir seus deveres de vizinhança. Com o tempo, a isenção da quota condominial representava uma remuneração, ainda que indireta. Logo, o propósito era prestar um serviço à coletividade, e não se falava em síndico como profissão. A partir dos anos 90, a complexidade da gestão foi demandando progressivamente maior profissionalização para exercício da função, de forma que atualmente existem até empresas que prestam serviços de sindicatura e diversos cursos de capacitação.

Nos tempos atuais, especialmente após a pandemia de Covid-19, foi necessário que o síndico desenvolvesse habilidades interpessoais para lidar com novos desafios, e talvez um dos maiores está relacionado aos aspectos da convivência humana. Quando falta clareza e consciência por parte dos condôminos, que podem exercer seus direitos, mas sem esquecer dos deveres, o síndico precisa estar atento às suas responsabilidades enquanto atua num papel educativo, reforçando constantemente princípios básicos. Missão que requer muita paciência.

Mas, para onde será que essa carreira vai? “Com o avanço da tecnologia, boa parte das atividades podem ser automatizadas ou terceirizadas, o que permite que síndicos atuem na gestão de diversos condomínios simultaneamente. Discute-se a regulamentação da função, mas acredito que isso apenas criaria uma barreira para o exercício do cargo sem um retorno concreto para os condomínios, pois a regulamentação não atesta a capacitação necessária para representar uma coletividade. Além disso, cada condomínio acaba criando uma cultura diferenciada que só a vivência revela. O bom síndico do futuro perceberá em quais tipos de condomínio sua gestão funciona melhor. E atuará com mais conexão com os moradores. Da mesma forma, os condôminos identificarão que tipo de profissional melhor se adequa para a sua representação. Em todos os casos, a capacitação contínua é fundamental”, defende.

Karla Pluchiennik relembra que, durante a jornada no empreendedorismo condominial, recebeu diversas solicitações de síndicos, condôminos e prestadores de serviço para a elaboração de um material que fosse facilmente compreendido, que traduzisse as leis e, ao mesmo tempo, reunisse boas práticas de maneira objetiva. Na tentativa de atender essas necessidades, é que nasceu o primeiro volume do livro “Coisas Básicas do Condomínio”, que inaugura uma coletânea que será sequenciada por outros volumes e autores. Num só volume, seria mesmo impossível dar conta de refletir e traduzir a complexidade de um universo tão vasto e rico. “O contexto condominial possibilita a experiência de viver em sociedade. Então, a riqueza consiste em incontáveis soluções que podem ser oferecidas ao segmento. E o conhecimento é uma delas”, conclui.

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