Como domar os reajustes das taxas condominiais?

Em alta, elas tiram o sono de muitos síndicos e condôminos. Não há mágica possível. O caminho para a solução é ter atenção aos detalhes e aprimorar as técnicas de gestão

 
MARCELO BORGES

Levantamento mostra que reajuste dos condomínios em alguns bairros do Rio de Janeiro está pesando no orçamento. Os gastos com habitação andam abalando a estrutura dos cariocas – e esse fenômeno se repete na maioria das cidades do país. Além de IPTU e aluguel, as taxas condominiais estão em alta. Em alguns bairros, porém, o reajuste foi bem maior, superando o IPCA do período, que foi 12%. Lagoa e Ipanema foram os bairros com o maior reajuste da cota em junho: 27,2% e 17,9%, respectivamente. O que está por trás de índices tão altos – os bairros ditam mesmo os valores, ou uma eventual má gestão ajuda a explicar reajustes tão altos? O que o síndico pode fazer para reduzir o impacto das cotas, evitando reclamações e aumento da inadimplência? Onde cortar? Como negociar? De que forma os condôminos podem ajudar a economizar?

Marcelo Borges é diretor da ML Administradora de Imóveis e de locações da Abadi. Ele falou com a REVISTA DOS CONDOMÍNIOS, especialmente sobre o tema. “Podemos correr o risco de cometer alguns equívocos quando analisamos de forma genérica e global os percentuais médios de reajustes das cotas condominiais em algumas regiões, tendo em vista características distintas de cada empreendimento. Por certo, alguns fenômenos podem ter contribuído para o impacto nos orçamentos dos condomínios, como o percentual de aumento concedido aos empregados quando da assinatura da Convenção Coletiva de Trabalho, maiores valores, em boa parte dos casos, na cobrança das concessionárias de água e esgoto, reajustes dos contratos com prestadores de serviços pelo índice do IGPM, entre outros”, aponta.

Ele explica que, como a cobrança condominial espelha um rateio de despesas, o resultado final sempre sofrerá os reflexos de alterações nos valores das obrigações ordinárias, provocando reajustes, por vezes, indesejáveis. “Não podemos deixar de fora o aumento da inflação registrado nos últimos meses, sendo o orçamento do condomínio um verdadeiro retrato do cenário econômico no país. Por isso, estamos diante de um grande desafio por parte das administrações condominiais, devendo o síndico estar atento às necessidades de otimização de custos. Urge a necessidade de análise de cada contrato, negociando com fornecedores que possam estar com um preço acima da média. Adotar boas práticas é um exercício fundamental, como medidas para diminuição no consumo de energia, engendrar a possibilidade de coleta e aproveitamento das águas de chuvas, instalação de medidores individuais de água para as unidades, e verificar a conveniência de adoção da portaria remota/virtual”, enumera.

Segundo o especialista, toda a comunidade deve estar envolvida nesse compromisso, como síndico, subsíndico, conselheiros e demais condôminos, devendo o laboratório de ideias ser tratado com muita seriedade para que todos estejam engajados em prol do desenvolvimento de um trabalho que objetive a redução de despesas, mas com a manutenção da qualidade mínima de convivência gregária. “O condomínio é um microcosmo social. Portanto, a participação e o envolvimento de todos são as chaves do sucesso de uma gestão equilibrada”, define Marcelo Borges.

LEONARDO SCHNEIDER

O que compõe o orçamento de um condomínio?

Vice-presidente da Secovi Rio e diretor da Apsa, o economista Leonardo Schneider já soma três décadas de atuação no mercado de administração condominial. “Essa situação, de reajustes mais pesados, vem acontecendo já há algum tempo. Basicamente, o que compõe o orçamento de um condomínio são os gastos com pessoal, concessionárias de água e energia, pequenas reformas, taxas dos administradores… Mas o que vem pesando mesmo é o gasto com pessoal, ou seja, com porteiros, serventes, vigias… Os reajustes feitos por dissídio, acordo coletivo por categoria, por vezes na casa dos 8% a 10%, têm tido grande impacto. Muitos condomínios não se sentem à vontade para reduzir o número de funcionários, por questões de segurança e comodidade.

Daí, se a redução do quadro de pessoal está fora de cogitação, a alternativa é adotar a medição individualizada por unidade, no caso da água, e até mesmo mecanismos em chuveiros e banheiros, próprios para reduzir o consumo. Outro terror, a alta demanda por energia elétrica, pode ser combatido com troca de lâmpadas convencionais por led, com sensores de presença, e investimentos em energia solar. Embora, na prática, essa modernização seja uma solução ainda muito incipiente no Brasil, carente de incentivos mais atraentes.

“A recomendação, para o síndico, é sempre ter uma gestão bem próxima da realidade, conversando com fornecedores, negociando e renegociando valores, analisando as necessidades reais do condomínio, levando em conta aspectos da manutenção, a otimização da mão de obra, identificando contratos que precisam ser preservados ou podem ser redimensionados. Outro fator é o uso de partes comuns, que podem gerar desperdício de recursos, como no caso de saunas ligadas por muito tempo, por vezes, sem ninguém. Ou manter toda a iluminação ligada durante toda a noite… Tudo isso faz diferença, especialmente nos condomínios que têm áreas de lazer muito grandes”, afirma Leonardo, graduado pela Uerj e com pós-graduado em Marketing e Gestão pela FGV e IBMEC.

Lembrando que, para o efetivo aumento da taxa de condomínio, o síndico ou a administradora pode convocar uma assembleia para que os condôminos aprovem a medida. Para que isso aconteça, é preciso que seja elaborada, apresentada e aprovada uma justificativa para o reajuste, num diálogo com os condôminos de forma transparente. Assim, um plano orçamentário anual é fundamental, além da prestação mensal de contas, para evitar que aumentos inesperados ocorram. Caso seja apresentado um aumento fora do normal da taxa condominial, ou sucessivos repasses em curtos espaços de tempo, pode ser caracterizado o reajuste abusivo, acendendo de vez o sinal de que o condomínio – é bem provável – não está sendo bem administrado.

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