Drone: recurso tecnológico que faz diferença na inspeção predial

Robozinhos voadores ganham a função estratégica de inspeção de fachadas de prédios, com grande eficiência e economia de custos e tempo

 
GUSTAVO BIHEL

Drones já foram tema de filmes de ficção científica num passado não muito distante, mas agora são uma realidade com aplicações diversas na vida cotidiana, tanto para o lazer quanto para o mercado profissional. É uma tecnologia que veio para ficar. Com usos muito propagados nos esportes e na segurança, os drones também foram adotados pela Engenharia e hoje já são usados para a inspeção predial, auxiliando nas manutenções de fechadas, lajes e telhados. Mais quais as principais vantagens do uso dessa tecnologia para essa finalidade? Foi em busca dessa resposta que ouvimos dois engenheiros especialistas: Gustavo Bihel, engenheiro civil, condominialista de Petróleo e Gás, de Segurança do Trabalho, e de Avaliação e Perícias de Imóveis, perito do TJ-RJ, auditor, professor e palestrante pós-graduando em Direito e Gestão Condominial e sócio proprietário da Bihel Engenharia; e Gabriel Aguilar, engenheiro civil, perito atuante no TJ-RJ e TJF, e CEO do escritório Consultoria em Engenharia Legal e Diagnóstica (CELD).

“O uso de drones oferece diversas vantagens para o condomínio, mas a principal delas é economia de custo e tempo, uma vez que realizar inspeções de fachadas e telhados com drone é bem mais rápido e seguro do que montar andaimes e/ou descer funcionários por cordas pela fachada. Outro aspecto importante no emprego de drones na inspeção predial são as câmeras e lentes utilizadas, que proporcionam imagens de altíssima qualidade, capazes de identificar microfissuras que a olho nu não seriam possíveis. Hoje temos no mercado, câmeras que filmam e fotografam em 4k e 8k e outras obtêm imagens termográficas da fachada que auxiliam na identificação de pontos de infiltração e desplacamento de revestimentos da fachada”, explica Bihel.

Esses são pontos também destacados por Aguilar: “Diversas são as vantagens do uso da tecnologia de drones para a finalidade de inspeção predial. Entre elas, vale destacar a otimização do tempo, redução de custo da realização do trabalho, além da segurança dessa atividade. A vistoria com drone fica mais rápida com custo de contratação que pode ser um terço menor se comparado a outras atividades em altura. O drone possui diversos sistemas que devem ser verificados antes de levantar voo, e um piloto com experiência em manobras aéreas reduz o risco de eventuais acidentes.”

Dentre as vantagens já destacadas dessa tecnologia, está a detecção de rachaduras e outros problemas em áreas de difícil acesso, o que agiliza em muito o processo de diagnóstico para aplicação das correções, permitindo que o engenheiro consiga visualizar o prédio como um todo, como se estivesse parado de frente pelo lado de fora da fachada em todos os pavimentos. “O piloto do drone, instruído pelo engenheiro, fotografa a fachada metro a metro, de várias distâncias e com auxílio do zoom da câmera. Essas imagens depois são analisadas, e é feito o levantamento de cada patologia existente, em seguida são classificadas por prioridade e criticidade por meio de um laudo técnico, que é entregue ao cliente, com as orientações necessárias para solucionar os problemas encontrados”, explica Bihel. E o uso de câmeras termográficas permite ir mais a fundo nas fissuras e rachaduras, como avalia Aguilar: “O equipamento aéreo pode ser potencializado com o acréscimo de uma câmera termográfica, a qual vai gerar outros tipos de imagens para o inspetor- -engenheiro investigar outros problemas construtivos.”

Ambos os especialistas concordam que só fotografar a fachada não adianta. O engenheiro precisa ter experiência na área de diagnóstico de patologias para identificar todos os problemas e buscar a solução mais adequada para aquela edificação.

Mas será que há contraindicações para a adoção dessa tecnologia? Gabriel Aguilar esclarece que o Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant) não pode ser usado em dias de chuva ou de fortes ventos, além de determinados horários do dia. “Considerando que a vistoria possui a finalidade técnica, antes de realizar o trabalho é necessário ter um estudo preliminar da região onde será realizada a vistoria para se verificarem as melhores condições de voo”. Gustavo Bihel acrescenta que o drone pode ser utilizado em quase 100% das vezes, “no entanto ainda não é possível fazer a retirada de partes da fachada que ameaçam cair. Nesses casos é necessário que um funcionário faça a descida por corda até o local que apresenta o desplacamento e retire todo o material”.

Para Aguilar, o uso do drone não substitui o ensaio a percussão, mas o laudo técnico produzido após análise das imagens obtidas pelo drone poderá direcionar os trabalhos de percussão e, por conseguinte, os reparos no objeto inspecionado. Por sua vez, Bihel afirma que a inspeção com drone pode custar até 20% do valor de um teste de percussão e levar no máximo um dia de trabalho, enquanto o teste de percussão levaria dias, principalmente devido ao fato de não ser necessária a instalação de equipamentos pesados, andaimes ou colocar pessoas penduradas em cordas. “Basta ser comunicado aos moradores e autoridades competentes a data e horário do voo para que esse ocorra. Um prédio de 20 andares com oito apartamentos por andar, por exemplo, pode ser inspecionado em menos de seis horas, com um custo muito mais baixo e com maior segurança para o prédio.”

GABRIEL AGUILAR

Uso profissional e regulamentação

Com a difusão da tecnologia na área de Engenharia, um novo mercado se abre para pilotos de drones que precisam atuar junto aos engenheiros. Buscamos saber se os profissionais que operam esse equipamento precisam de algum treinamento específico ou se o próprio engenheiro pode operar o drone. Para Gustavo Bihel, qualquer pessoa pode se tornar um piloto de drone. No entanto, para operá-lo de forma segura, é necessário fazer um curso de pilotagem e ser registrado no Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo). “O engenheiro, se for habilitado para pilotar esse tipo de aeronave, pode realizar o voo enquanto realiza a inspeção. No entanto, terá sua atenção dividida entre a pilotagem e a análise da fachada. O ideal é que o drone seja operado por um piloto, e a inspeção, feita pelo engenheiro. Além disso, todo voo deve ser comunicado às autoridades competentes, que vão autorizar e limitar a altura do voo”, explica.

Gabriel Aguilar informa também que, para operar o drone, é necessário treinamento constante sobre o funcionamento do equipamento, além de realizar as manutenções preventivas e principalmente treinar as manobras aéreas voltadas para inspeção predial. “É altamente recomendada a realização de vistoria com uso de drone por meio de equipe multidisciplinar de pelo menos dois profissionais: um profissional piloto do equipamento e outro profissional engenheiro, o qual vai direcionar os trabalhos, ambos com experiências em vistorias de engenharia.”

Para que o drone seja mais uma ferramenta de inspeção de fachadas e grandes áreas, é necessário seguir diversos procedimentos, independentemente do voo. Além disso o equipamento deve ser homologado junto à Anatel, com selo da Anac, identificação do piloto no Sarpas (Solicitação de Acesso de Aeronaves Remotamente Pilota das) e Decea, que controla o espaço aéreo brasileiro.

“A cada voo é necessária a solicitação e comunicação correta para decolar sem medo e sem riscos e não sofrer nenhum problema. A lei para voar com drones existe, e se não for seguida pode-se passar por alguns problemas. É também necessário que o piloto de drone seja registrado no Sisant (Sistema de Aeronaves não Tripuladas), e na Anac, que por sua vez vai emitir um certificado de registro que pode ser de piloto recreativo ou piloto profissional. Para esse último, existe a necessidade de contratar o Seguro Reta (exigência para exercer a profissão remunerada). Além disso, o piloto profissional precisa portar um documento de análise de risco operacional para a operação do drone”, esclarece Bihel.

Aguilar lembra que a norma ABNT NBR 13755 preconiza a inspeção nos sistemas de fachadas. “O uso do drone é uma ferramenta para auxiliar a inspeção desse sistema. Para utilizar o drone nessa atividade e quaisquer outras, é necessário cumprir os êxitos dos órgãos regulamentadores, entre eles a Anatel, Anac e Decea, além de obter o Seguro Reta obrigatório para a atividade.”

N.R.: Fotos da atuação dos drones gentilmente cedidas dos acervos de Gustavo Bihel e Gabriel Aguilar.

Importância da inspeção predial

A inspeção predial é preconizada pela norma ABNT NBR 16747. E por força do Código de Defesa do Consumidor (CDC), a norma técnica possui força de lei, e todos os edifícios estão submetidos a inspeção. “Caso surja um acidente predial, o síndico poderá ser responsabilizado pelo não cumprimento da norma, a qual está em vigor desde 2020”, orienta Gabriel Aguilar, que esclarece que os problemas mais comuns encontrados nas edificações durante as inspeções são as rachaduras em locais de difícil acesso, que o síndico não consegue verificar a olhonu, principalmente em edifícios mais altos. “A partir do oitavo pavimento, a incidência de problemas é maior.”

Gustavo Bihel explica que a inspeção predial é uma vistoria criteriosa da edificação como um todo, onde serão analisados todos os sistemas construtivos do prédio, e feita uma anamnese da edificação. “O objetivo é trazer para o síndico a real situação do condomínio e auxiliá-lo no desenvolvimento de um plano de reforma com prioridades estabelecidas em um cronograma físico- -financeiro que seja capaz de restaurar as condições arquitetônicas e estruturais da edificação da época do seu habite-se.”

É importante lembrar ao síndico que toda edificação precisa passar por uma inspeção predial a cada cinco anos, no mínimo, para identificar problemas existentes e futuros que possam vir a ocorrer. “A falta de manutenção de uma edificação pode trazer consequências graves para o síndico, moradores e o próprio condomínio. Problemas simples que não são tratados logo quando surgem podem onerar drasticamente o orçamento do condomínio posteriormente. Obras sem planejamento, negligenciadas e manutenções emergenciais são as principais causas do endividamento dos condomínios”, alerta Bihel.

Alguns dos problemas mais comuns encontrados nas edificações durante as inspeções têm a ver com impermeabilização de lajes de cobertura, fissuras em pilares, cabeamentos de TV por assinatura passando por dentro das escadas de incêndio e fachadas, falta de manutenção de subestações (transformadores) e colocação de objetos particulares nas áreas comuns atrapalhando o fluxo das rotas de fuga.

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