Condogente

As portas da vida

Sou Nilton Costa Oliveira, baiano, de Macaúbas, segundo filho de cinco de Raimunda Maria. Vivia com calos nas mãos por causa do trabalho na plantação e criação de gado, em Araçás, uma cidade de 50 mil habitantes, a 619,7 km de, Salvador. Trabalhei na roça dos 12 aos 25 anos. Não aguentava mais, queria outro emprego, mas lá não tinha. São Paulo era meu objetivo para construir uma vida nova.

Com alguns pertences e sem perspectivas, cheguei na capital paulista e fui morar num albergue. Naquela selva de pedras, onde haveria oportunidade? Sim, nos condomínios! Um amigo indicou uma vaga para serviços gerais e lá comecei a minha trajetória no meio condominial.

Meu empenho, dedicação e a boa relação com os moradores foi o grande diferencial. Com apenas quatro meses assumi uma vaga na portaria. Mal sabia o tamanho da responsabilidade. Foram noites sem dormir, com medo de dar errado. Não havia suporte e nem treinamento, porém a minha vontade me fez galgar caminhos maiores.

Passei para um condomínio comercial onde trabalho há 23 anos. Giro a maçaneta para adiantar a vida de muitos condôminos que chegam com embrulhos. Mas, para que hoje eu possa abrir portas, há 24 anos alguém me abriu uma. As portas dos condomínios me abriram uma vida.

A missão como porteiro é que nem um iceberg: a parte visível, que conhecemos, é muito menor do que a submersa, aquela que, invariavelmente, não tomamos conhecimento e que gera muitas vezes a desvalorização desses profissionais tão importantes para o bom funcionamento dos empreendimentos.

Mas não parei por aí, continuei estudando e outra oportunidade surgiu. No mesmo prédio que comecei como porteiro, fui indicado pelo zelador para o cargo. Ali ganhei mais confiança para tomar iniciativas e decisões. O apoio do síndico me ajudou a desenvolver as atividades, desde a atualização das planilhas de consumo de água e energia, às reformas em alvenaria nas instalações, acompanhando funcionários da manutenção e colocando a “mão na massa”.

Respondo por uma agenda diária de tarefas que incluem inspeção no sistema de água, orientação aos funcionários, zelo pelas normas internas, organização da documentação e cotação de serviços. Um bom profissional é aquele que tem iniciativa para descobrir as coisas, buscar soluções, fazer cursos, exercer um trabalho imparcial, ao mesmo tempo em que se mantém discreto, solícito, prestativo e calmo, especialmente no trato com moradores.

Mobilizado por essas competências e motivado por uma boa sintonia com o síndico, o zelador garante que o condomínio seja um bom lugar para se viver e trabalhar. Na certeza de que faço o que amo, sigo no meio condominial, junto de grandes profissionais que me dão oportunidade de compartilhar minha história e conhecimento.

Nilton Costa Oliveira é zelador.

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