A pelada na sacada

Uma noite qualquer, em um condomínio que poderia ser o seu, tudo reina na mais absoluta rotina. Com o passar das horas, a madrugada se aproxima, eis que há um aumento repentino de homens nas sacadas, obviamente sem o conhecimento das suas respectivas mulheres. Muitos olhares furtivos e expectativa geral, um vizinho sussurrando pergunta: ela foi? O outro responde, já com o coração acelerado: sim, o porteiro confirmou!

Todos esperavam o que já acontecia há vários dias, uma mulher rotineiramente vai ao bingo da cidade, e no retorno, sempre no final da noite, acompanhada de uma taça de vinho, tomava o frescor da noite totalmente desnuda. Era um frenesi geral entre a população masculina do condomínio, até o momento em que as esposas perceberam a diversão.

Com a confusão instalada, o síndico, que até prova em contrário era inocente diante do imbróglio, viu–se cercado pelo comitê das mulheres enfurecidas, e que exigiam uma solução para a peladona.

O síndico, diante da pressão exercida pela ala feminina, pensou: “Quem poderá me ajudar?”

Tenho certeza de que os leitores e leitoras pensaram no Chapolin Colorado, mas, na verdade, a incumbência recaiu a este pobre profissional da área condominial, que, na função daquele que sempre apanha sem saber, foi chamado para a solução do problema, o administrador do condomínio.

Ao me receber, o síndico acuado me colocou a par de tudo e fez a seguinte indagação: “O que eu faço com a peladona?”

Em um primeiro momento, minha vontade era perguntar: “Que horas ela vai para varanda? É bonita?”. Obviamente não foram essas indagações, mas que eu pensei, pensei. Confesso que fiquei perplexo no momento, e sabia que era um caso para o jurídico ser acionado e providenciar as aplicações do Regulamento Interno referente a um possível enquadramento de atentado ao pudor.

As ações foram tomadas, o filho mais velho notificado, e o problema, sanado, uma vez que se tratava de uma senhora que tinha problemas psicológicos. No entanto, tirando a parte chata do negócio, pensei no fato em si. Imagino a mulherada em massa reclamando do ocorrido, os maridos ansiosos e vigilantes, e o síndico desesperado pedindo socorro, o que mostra a dificuldade de se gerir um prédio, e, principalmente, as pessoas. Imaginem o que poderia ocorrer se houvesse um bingo promovido pelo condomínio?

Por isso fica a dica: sempre tenham um advogado contratado para o condomínio, pois nunca saberemos o que pode ocorrer em nosso dia a dia.

Jaime Roque é fundador e diretor do Vale Síndico e diretor da Ortecon Condominios.

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