Pombos sem discórdia

Aves simpáticas que simbolizam a paz, mas que ocultam uma série de riscos à saúde humana. Por isso, devem ser mantidos bem distantes dos condomínios

 
Henrique Castro

A cena, comum em praças públicas, é bucólica, quase fofa. Um senhor, ou senhora, distrai o passar das horas jogando miolos e farelos de pão aos pombos. Conhecidas como símbolos da Paz, essas aves são vistas pelos sanitaristas e profissionais da saúde como uma espécie de ‘ratos voadores’, pelo grande risco de transmitirem doenças, em especial, respiratórias e oculares. Em alguns condomínios, não são raros casos de moradores que, inadvertidamente, assumem a missão de alimentar esses bichos, além de outros pássaros e animais sem dono ou abandonados, como cães e gatos. Mas, na prática, o que os condomínios podem fazer nesses casos, além de emitir o alerta sobre os riscos para a saúde pública e dos demais moradores?

“Nosso querido e saudoso mestre Sylvio Capanema, jurista e autor da lei do inquilinato, numa das suas lições afirmava, com muita propriedade, que ‘o condomínio é uma turbina geradora de conflitos’, pois bem sempre presenciamos esses desequilíbrios nas relações. E a figura do síndico é de extrema importância para apaziguar a massa condominial. O pombo, a ‘ave da Paz’, pode ser uma das turbinas geradores desses conflitos, pois presenciamos em diversos condomínios a prática ou hábito de se alimentar esses animais e outros. Existe até mesmo a figura do ‘animal comunitário’, cuidados por vários moradores”, aponta Henrique Castro, advogado e professor universitário e coordenador do MBA em Gestão e Direito Condominial da União de Estudos e Pós-Graduação (Unepos).

Ele segue em sua análise. “Sabemos que o pombo é uma ave protegida pela Lei de Crimes Ambientais, faz parte da fauna brasileira. Sempre em busca de abrigo, não é raro vê-los fazendo ninhos em condomínios, junto a caixas de aparelhos de ar-condicionado, por exemplo. No entanto, diferente de outros pássaros inofensivos, eles são transmissores de doenças aos seres humanos e, por isso, suas infestações devem ser contidas com rigor. A histoplasmose, candidíase, criptococose, salmonelose, ornitose, toxoplasmose, encefalite, coccidiose e pseudotuberculose são algumas das  enfermidades  transmitidas pelos pombos que, nem por isso, devem ser maltratados ou eliminados pelos condôminos”, alerta.

Então, qual a saída? Como se proteger, mas sem maltratar ou eliminar as aves? Com a palavra, nosso entrevistado. “Existem outras formas de repeli-los, com uso de gel e de outros produtos próprios. E métodos podem ser aplicados, como em aberturas de beiral, entre a laje e o telhado, quando se usa redinhas, colocando esse material em toda a volta de forma que impeça a entrada de pombos. O fato de estar na memória afetiva das pessoas como um ser inofensivo dificulta o combate à infestação nos condomínios, tanto que dificilmente um condômino não deixa de alimentar pombos. Portanto, o trabalho de afugentar depende de todos, além do auxílio de uma empresa especializada”.

Segundo Castro, é importante ressaltar aos síndicos que esse trabalho envolve todo o condomínio. “Envie circulares, coloque avisos nos murais para que os moradores não deem alimentos aos pombos e outros animais. Para o sucesso deste trabalho é indispensável investir numa ação conjunta. Então, evite a proliferação para que, no futuro, um simples pombinho não se torne motivo de dissabores e dores de cabeça. Assim, sempre preservará os ‘3 S´s’ dos condomínios – saúde, sossego e segurança, como consta do art. 1.336, IV do Código Civil”, concluiu.

Os principais riscos que os pombos trazem à saúde humana

Como dificilmente os pombos são caçados por outros animais, sua população cresce muito rapidamente e o aumento de sua quantidade tornou-se um grave problema de saúde, uma vez que eles podem causar várias doenças graves que podem levar à morte ou deixar graves sequelas:

Salmonelose – doença infecciosa provocada por bactérias. A contaminação ao homem ocorre pela ingestão de alimentos contaminados com fezes dos animais.

Criptococose – doença provocada por fungos que vivem no solo, em frutas secas e cereais e nas árvores; e nos excrementos de aves, principalmente pombos. A doença provoca micose profunda e sintomas como febre, tosse e dor torácica, além da possibilidade de causar dor de cabeça, sonolência, agitação, problemas de visão e confusão mental.

Histoplasmose – doença provocada por fungos que se proliferam nas fezes de aves e morcegos. A contaminação ao homem ocorre pela inalação dos esporos (células reprodutoras do fungo).

Ornitose – doença infecciosa provocada por bactérias. A contaminação ao homem ocorre pelo contato com aves portadoras da bactéria ou com seus dejetos. Quando as pessoas entram em contato com essa bactéria, é possível o aparecimento de alguns sintomas, como febre, calafrios, dor de cabeça e dificuldade para respirar.

Meningite – inflamação das membranas que envolvem o encéfalo e a medula espinhal.

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