Volume 1 – Óbvio Ululante

A

ma das vantagens de se ter contato com milhares de condomínios no Brasil no meu escritório é a possibilidade de termos muitas experiências diferentes e que nos permitem estudá-las em ambiente acadêmico.Na crônica de hoje, vamos refletir sobre a habilidade quase sobre humana dos condôminos em perguntar o óbvio. Podemos especular os motivos para que isso seja frequente, seja por duvidar da competência do outro (especialmente o síndico) ou pelo desprezível interesse de alfinetar o próximo (especialmente o síndico), demonstrando um comportamento passivo-agressivo que tanto polui os ambientes condominiais. 

A seguir, reproduzimos algumas dessas perguntas, todas baseadas em eventos reais, mas darei respostas que talvez fossem mais adequadas para se dar…, mas que nunca devem ser dadas, apesar da vontade. Esse texto é um exercício de reflexão.

Conselheiro para o Síndico: “está acompanhando a inadimplência do prédio?” Resposta: Não, estou rezando todos os dias para que paguem voluntariamente sem eu fazer nada.

Morador para o Síndico: “entrou uma barata voadora enorme pela minha janela. A dedetização está em dia? Resposta: Não, mas instalamos uma faixa na frente do prédio escrito “baratas, por favor, não entrem e nem incomodem os moradores”. 

Conselheiro para o Síndico: “o relatório de inspeção anual do elevador está em dia?” Resposta: Não, queremos mais que o elevador caia.

Conselheiro para o Síndico: “esse valor do serviço é o mais barato que encontrou? Pegou 3 orçamentos?” Resposta: Não, descartei os mais baratos e apresentei o mais caro do mercado para vocês. Ainda pedi para a empresa aumentar o valor.

 

Condômino para o Conselheiro: “vocês do conselho leram as pastas de contas antes de aprovar as contas? Resposta: Não, passamos o ano todo penteando macaco e ele deu o visto nas pastas. 

Morador para o síndico: “solicito providências com urgência para que os animais somente transitem no condomínio no colo dos donos!!!! É um absurdo ter um condomínio cheio de animais!!! Não vai fazer nada?”. Resposta: Tudo bem, mas o Sr. deve continuar usando coleira e focinheira independente de ser carregado. Animal bravo não pode ficar sem isso.

Morador para o síndico: “o porteiro se casou a esposa e filho pequeno vieram morar na moradia funcional. Que providências serão adotadas? A moradia é para o empregado!!!! Resposta: Esquecemos de advertir o porteiro que ele deveria manter o celibato. Agora ele terá que escolher a família ou o trabalho.

O que se espera que se responda? O óbvio ou as respostas acima? Melhor não perguntar.

 

André Luiz Junqueira é Professor, advogado pós-graduado em Direito Civil e Empresarial, MBA em Gestão Empresarial, Consultor jurídico da ABADI, com certificado em Negotiation and Leadership pela Universidade de Harvard, é autor do livro “Condomínios – Direitos & Deveres”. 

Link