Ser síndico é se inteirar do dia a dia dos condôminos

O universo condominial é repleto de acontecimentos, cada um com suas particularidades. Assim, não tem como o síndico ou gestor não se envolver e não se manifestar mesmo que tentando manter a imparcialidade, visto que muitas vezes nos compadecemos diante dos acontecimentos.

Para os que me conhecem sabe que administro condomínios onde a maioria são pessoas idosas. Ah! meus idosos. Aprendi a amar e me inteirar do dia a dia deles, pois, infelizmente, a maioria deles é abandonado pelos familiares, consideradas um peso. Perdi as contas de quantas vezes precisei tomar as providências para o velório e fui a única na hora do sepultamento. Quando um condômino adoece, faço questão de saber da sua recuperação, quando é possível faço uma visita.

Mas o que significa a despedida?

Para alguns, nada, para mim, porém, é a última oportunidade de estar com um ente querido. Nos condomínios que administro, a coroa de flores faz parte da previsão orçamentária. Sabe por quê? Porque a vida tem valor, e as pessoas merecem uma última despedida, um último adeus, uma última homenagem, por isso compareço em todos os velórios dos meus condôminos e envio a coroa de flores em nome do condomínio. Inclusive, já tenho um fornecedor que atende em qualquer dia e hora.

No início ficava constrangida quando a viúva ou viúvo, os filhos anunciavam a minha presença dizendo que a síndica chegou, e solicitava que eu proferisse algumas palavras. Algumas vezes já aconteceu de eu ter acabado de assumir o condomínio e dias depois alguém falecia e da mesma forma enviava a coroa de flores e comparecia ao velório, sendo convidada a falar. Nos velórios os quais não conhecia bem as pessoas por não ter tido a oportunidade de conviver com o falecido, profiro algumas palavras de conforto, que foi uma pessoa boa, teve uma família linda e criou bons filhos e que seus ensinamentos prevalecerão e serão lembrados. Encerro lendo um trecho da Bíblia, e depois rezamos um Pai Nosso e uma Ave Maria.

Quando se convive com o falecido (a) é possível falar melhor das suas qualidades e virtudes, então deixo o coração falar, muitas vezes a emoção toma conta e quando percebo estou em prantos. É muito significante fazer parte da vida deles, assim como eles fazem parte da minha!

E antes que pensem que isso interfere no meu profissionalismo, com certeza não atrapalha em nada, pois consigo ser imparcial quando preciso, desenvolvi a habilidade de me envolver em algumas coisas bem específicas, pois ser humana, ter empatia e se compadecer da dor do outro faz parte da função de ser um bom síndico.

Ser síndico vai muito além de ter apenas boa vontade, é ir muito além do conhecimento técnico, agindo com amor, gostando do que faz, entendendo do cenário que está inserido e desenvolvendo a administração de acordo com cada condomínio.

Doani Castro é administradora pela Fundação Getúlio Vargas (FGV); bacharelanda em Direito; Síndica profissional; Consultora condominial; Especialista em Gestão Condominial; Gestora com ênfase em Gestão de Pessoas; Colunista de jornais e programas de TV; e palestrante de Gestão Condominial.

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