Condômino acumulador: como lidar?

Moradores podem transformar seus apartamentos em verdadeiros depósitos, e síndicos precisam saber agir

 
ANA PAULA VIEIRA

Toda pessoa já se deparou com alguém que possui algum tipo de TOC, o popular Transtorno Obsessivo Compulsivo. Alguns são mais leves do que outros e podem ser vistos até mesmo como “besteira” pelos amigos e familiares, afinal, são obsessões que não causam mal a essas próprias pessoas e aos que estão ao seu redor.

Contudo, no meio condominial, algo que vem sendo cada vez mais observado como ação que pode causar sim problemas à saúde do indivíduo e de quem está ao seu redor ganhou a nomenclatura de “condômino acumulador”. Pessoas que acumulam muitos bens e isso não é um problema, a questão é quando o exagero começa a ser nítido. No caso dos condôminos acumuladores, o excesso é algo que acaba com a paz e pode, inclusive, causar problemas sanitários como mau cheiro, lixo, e vetores como ratos e baratas, afetando de saúde para toda a comunidade ao redor.

Por isso, o que fazer? O assunto nos levou a conversar com a síndica profissional, empreendedora e CEO do projeto Chá das Síndicas Empreendedoras Brasil, Ana Paula Vieira. Com sua vasta experiência, a especialista nos falou que, primeiro, o síndico precisa entender o que fez aquela pessoa virar uma acumuladora.

“Durante a pandemia, as pessoas ficaram solitárias e depressivas. Uns adotaram animais e, quando a Covid começou a diminuir cada vez mais, os abandonaram na rua, e outras pessoas começaram a juntar coisas, como livros, papéis e embalagens. São pessoas que não abrem janelas”, disse.

Quando as pessoas pensam em coisas acumuladas, muitas vezes não cogitam o fato daqueles objetos serem sujos, e Ana Paula fala que o cheiro pode ser extremamente forte. “Acaba criando aquela ‘nhaca’ dentro de casa”, e, por isso, a participação do vizinho é tão importante, afinal, o acumulador não vai reclamar do próprio cheiro, por isso, quem está próximo e sendo afetado precisa entrar em contato com o síndico para que uma medida seja tomada.

É necessário entender que as pessoas acumuladoras, em média, apresentam o mesmo perfil: são reclusos. Não são condôminos que estejam diariamente interagindo com os outros e preferem ficar trancados dentro dos seus apartamentos, mas o cuidado precisa ser ainda redobrado caso esse acumulador seja um idoso.

“Se o acumulador for idoso, geralmente eu uso o cadastro de condômino.” Essa ferramenta, segundo Ana Paula, é a melhor maneira para resolver casos de saúde desses acumuladores. O documento conta com diversas informações pertinentes àquela pessoa, como contatos de emergência, tanto para parentes como médicos, hospital cujo plano de saúde está mais próximo do condomínio, dentre outras coisas.

A própria especialista já teve que passar por situações desconfortáveis em que as pessoas, devido ao cheiro fortíssimo que vinha dos apartamentos, sequer conseguiam receber serviços simples, como a troca de gás. “Mesmo com a porta fechada, o mau cheiro sai de dentro da casa, mas ele não abre janelas, nem nada. Ele tem uma irmã, mas ela mesma já não tem mais forças de conversar com ele. Ela só consegue limpar o apartamento quando ele não está, porque quando ele está não deixa ninguém limpar e jogar nada fora. Se vem uma pessoa do gás ou encomenda, o entregador não suporta o cheiro, e o primeiro andar já está impregnado.”

Mas e o limite? Quando o síndico pode bater o martelo e decretar que aquela situação está indo longe demais? É difícil achar um ponto comum, mas quando a salubridade dos outros condôminos começa a ser afetada de maneira preocupante, é uma excelente indicação. Entenda: esse acúmulo de comida estragada, objetos e lixo pode atrair animais. Ratos e baratas são inimigos declarados de todos os gestores e moradores, e Ana Paula diz que nem uma dedetização funciona quando existe um foco apropriado para esses animais.

“Quando chega a esse ponto, tem que notificar e multar até que ele possa se adequar na parte da limpeza”, disse a síndica.

O que podemos tirar dessa questão é que o condomínio não pode virar as costas para o morador que está passando por esse problema, afinal, como mencionamos, é um transtorno, uma condição que faz a pessoa realizar aquelas ações. Ana Paula, em suas gestões, explica para esses moradores que não apenas a vida dele está sendo afetada, mas, sim, a coletividade. A síndica diz que o diálogo ajuda bastante e pode até mesmo convencer o condômino de que é necessário realizar uma limpeza do apartamento e ainda comenta o que fazer caso não haja solução “caseira”.

“Com autorização dele, a gente leva os fornecedores, faz o orçamento e começa a limpeza, mas caso ele não tenha condições psicológicas de aceitar essa ajuda nesse sentido, procuramos um parente mais próximo, então essa pessoa nos autoriza a fazer a verificação, e caso tendo foco de rato, barata e acúmulo de coisas sem utilização, esse parente nos permite fazer a busca por uma empresa para realizar a limpeza. Essa ação tem que ser feita de forma conjunta, e se a pessoa não se conscientizar, temos que buscar o poder público, denunciando no Ministério Público”, finalizou.

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Ana Paula Vieira

@AnaPvs

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