Conta Pool:

Quais os riscos para seu condomínio?

Para melhor conhecer o tema, o repórter da Revista dos Condomínios foi ouvir o relato do síndico e administrador de empresas, com especialização em finanças, Sérgio Gouveia. A entrevista é, ao mesmo tempo, curiosa, esclarecedora e um advertência alerta para os síndicos de uma maneira geral. “Na minha segunda experiência como síndico morador, logo após a minha eleição, fui examinar os balancetes e vi em vários comprovantes e extratos o nome da administradora como titular. Tomei um susto: ‘Que diabo é isso’?”

Não conheço e já não gosto
Embora o especialista ainda não soubesse da existência da chamada conta pool, “já não gostei dela logo de saída”. Ele, em seu relato, disse que se incomodou profundamente ao identificar que, nos registros de pagamentos, comprovantes etc., o nome que constava como o pagador era o da administradora e não o do condomínio. Só então fui buscar saber melhor do que se tratava.

Origem do nome “pool”
Sérgio, depois de pesquisar, a origem do nome “pool” descobriu que essa palavra inglesa pode ser
interpretada como “acordo temporário entre duas ou mais empresas para execução de determinado projeto, formando um caixa único” (Dicionário Oxford), ou “uma união de fato entre empresas para a manutenção compartilhada de uma atividade ou serviço comum” (jus.com.br). 

Conta corrente
Uma conta corrente é uma conta bancária comum em nome do condomínio, que permite que as despesas e receitas sejam gerenciadas separadamente. “Essa, todo mundo conhece como funciona” – comentou, sem afastar a desconfiança, e completou: “é a opção mais comum e amplamente utilizada pelos condomínios. Da mesma forma que a sua conta corrente pessoal, as transações financeiras movimentadas ali dentro são exclusivas daquele condomínio, feitas em nome do condomínio”.

Rastreabilidade
As despesas e receitas são facilmente rastreáveis e o saldo é atualizado em tempo real. Isso torna mais fácil para o síndico ou administrador do condomínio controlar as finanças e tomar decisões financeiras. Nesse ambiente, o controle é 100% do síndico, permitindo inclusive que os lançamentos dos pagamentos sejam feitos pela administradora diretamente na conta e fiquem aguardando apenas a sua autorização para serem efetivados. Note que, neste modelo, a administradora tem acesso apenas a ler extratos e fazer lançamentos, ou seja, ela não movimenta a conta.

Sem acesso, sem transparência
A conta pool também é uma conta corrente comum, só que da administradora, que por ser a titular, tem total controle sobre qualquer operação – inclusive saques –, enquanto o síndico sequer tem acesso para visualização dos extratos. Ela centraliza as finanças de vários condomínios administrados por ela. Isso significa que todas as receitas e despesas desses condomínios são registradas em uma única conta, o que facilita o gerenciamento financeiro para a administradora, mas reduz a transparência para o síndico ou gestor condominial.

Conta pool: características
Há algumas características da conta pool que exigem reflexão e atenção antes de optar por ela.
Uma delas é que “pode ser mais difícil para os síndicos e moradores do condomínio monitorar suas despesas e receitas” – alerta Gouveia. Como todas as transações financeiras são registradas em uma única conta, para saber exatamente quanto dinheiro está sendo gasto em despesas específicas, “é preciso recorrer ao controle feito pelo sistema financeiro utilizado pela administradora, que faz a segregação dos lançamentos de cada condomínio” – detalha o especialista.

Na melhor das hipóteses: demora no acesso
Como isso nem sempre ocorre de forma automática (ou seja, depende de lançamentos manuais feitos pela equipe financeira da administradora), isso pode levar algum tempo. Para essas leituras serem confiáveis e precisas, a administradora precisa manter um controle muito rigoroso das movimentações, dos saldos e dos lançamentos.

Movimentação emergencial:
um problema para o síndico Outra desvantagem da conta pool é que, pelo fato dos recursos do condomínio estarem depositados na conta de terceiros, o síndico não consegue ter acesso direto a essa conta, e isso pode ser um problema caso haja necessidade de movimentação emergencial, digamos, durante um final de semana ou feriado. Nesse caso, é preciso acionar alguém da administradora, que por sua vez acessará a conta. “E isso nem sempre ocorre na agilidade necessária à situação. Com uma conta pool, por exemplo, o síndico não consegue fazer um PIX, o que, em algumas situações, pode ser um problema” – considera Gouveia.

O mais preocupante:
fraudes e fechamento falência da administradora E tem mais dois itens extremamente sensíveis que precisam ser considerados. O primeiro é que empresas podem quebrar. “Portanto, as administradoras também. E se ela quebra com o dinheiro do condomínio na conta? Bem, você pode imaginar” – responde Gouveia a própria pergunta, em tom reticente. No segundo item, Gouveia considera a seguinte hipótese: “é que podem ocorrer fraudes e desvios, e quando o síndico souber, será tarde demais, pois não há como acompanhar em tempo real”.

Conta Pool: legal, mas para quem?
A conta pool não é ilegal. O especialista, Sérgio Gouveia, particularmente, não gosta desse modelo, “mas há casos em que ela é a única solução” – afirma e dá um exemplo: “para isso são os chamados ‘condomínios de fato’ (mas ainda não de direito), que é quando um condomínio ainda não foi formalmente constituído, e por não possuir CNPJ, não pode abrir uma conta bancária, dentre outras restrições”. A alternativa, sem a opção da conta pool, a gestão financeira precisaria ser “através da conta ‘pessoa física’ do síndico, ou ‘no dinheiro’. Ambas as alternativas totalmente irregulares” – conclui. 

Vantagens?
Muitas administradoras incentivam os condomínios a utilizar esse modelo. Entre outros motivos, porque ter muito dinheiro em conta permite que ela gere receitas extras através de aplicações no mercado financeiro, tenha acesso a linhas de crédito mais baratas e aplicações com melhor remuneração, faça empréstimos aos condomínios sob sua carteira, dentre outros, funcionando quase como uma financeira – lembra Gouveia.

Escolha consciente
Uma vez sabendo dos prós e contras, a escolha entre conta corrente e conta pool depende das necessidades específicas de cada condomínio. “Minha recomendação é que o síndico se informe bastante sobre vantagens e desvantagens, que convide o conselho a participar dessa discussão e, se optarem por ela, que aprove essa decisão em assembleia, formalizando-a em ata” – indica Gouveia.

Contato

Sérgio Gouveia

Administrador de empresas, com MBA em finanças e certificado em Gestão e Estratégia pela Fundação Dom Cabral. Professor certificado pela Universidade de Cambridge, treinador de professores certificado pela International House, ex-diretor de empresas, empreendedor e síndico morador há mais de 11 anos. Colunista condominial, palestrante, escritor e influenciador.

derepentesindico@gmail.com

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